Sobre guerra e fertilizantes

José Ricardo Bandeira
José Ricardo Bandeira *

Todos sabemos como tem sido vastamente divulgado pela imprensa que o Brasil é extremamente dependente dos fertilizantes vindos da Rússia e de Belarus e, caso haja a falta deste suplemento, a agricultura brasileira passará por sérias dificuldades que se refletirão em graves problemas, como escassez alimentícia e na alta de preços dos alimentos.

Talvez pensando nisso, o governo brasileiro dias antes do início da guerra fez uma viagem diplomática à Rússia, demonstrando publicamente ser solidário às reivindicações de Vladimir Putin, presidente russo, mas com um discurso travestido de neutralidade.

Nota-se, porém, a diferença de postura do governo brasileiro em relação aos países europeus, que são extremamente dependentes de gás natural vindo da Rússia e, mesmo estando em um inverno rigoroso, onde este combustível se torna fundamental, como no uso para o aquecimento das casas, não se furtaram de se opor ao conflito e de impor sansões à Rússia.

Porém, ao realizar essa visita diplomática, o governo federal não ouviu ou demonstra não ter um serviço de avaliação de crises internacionais, pois não previu que a Rússia e sua subordinada Belarus sofreriam sansões mundiais que as impediriam de efetuar a venda e entrega de produtos e serviços, devido principalmente à exclusão do sistema Swift (sistema de transferências de valores entre empresas) e do bloqueio do espaço aéreo e marítimo.

Caso o governo federal tivesse o mínimo de bom senso e informações confiáveis, poderia logicamente ter se antecipado e mantido relações mais próximas com outros produtores mundiais de insumos, como o Canadá, China e Marrocos.

Porém, por não ter feito o seu dever de casa, repete o erro cometido na compra de vacinas, retardando o início das negociações e entrando tardiamente no mercado, quando todos os países já haviam se antecipado e garantido suas compras. E como diz um dito popular, “quem chega depois paga mais caro e negocia mais difícil”.

Quanto à guerra contra a Ucrânia, é impossível prever se durará semanas, meses ou anos, o que gera uma insegurança quanto ao retorno das negociações comerciais com a Rússia.

Porém, o certo é que, mesmo derrotando o exército ucraniano ou depondo o seu presidente, haverá uma eterna resistência por parte da população e dos militares, e a Rússia terá que deixar a Ucrânia, levando consigo milhares de mortos e trilhões de euros de prejuízos e dívidas, ainda sob pesados embargos que a levarão a fazer concessões e trocar seus insumos e combustíveis por produtos de necessidade básica ou relaxamento de medidas.

Por fim, nesta “guerra brasileira dos fertilizantes”, que para o governo são mais importantes do que as vidas perdidas e a soberania democrática de uma nação, mais uma vez saímos perdendo, prejudicados e desmoralizados no cenário internacional.

* Presidente do Instituto de Criminalística e Ciências Policiais da América Latina, presidente do Conselho Nacional de Peritos Judiciais da República Federativa do Brasil, membro ativo da International Police Association e presidente da Comissão de Segurança Pública da Associação Nacional de Imprensa.