Tatuí­ está fora da ‘rota’ de bandidos especializados em explosão de caixa





A lista de cidades brasileiras com registro de explosões a caixas eletrônicos não para de crescer. Desde 2013, esse tipo de crime tem sido recorrente em municípios cada vez mais próximos a Tatuí. Cerquilho, Cesário Lange e Boituva são exemplos da ousadia de bandidos que integram quadrilhas, quase sempre, especializadas.

A “Capital da Música” permanece fora dessa rota por conta de sua localização. Essa é a conclusão a que chegou o comandante do CPI-7 (Comando de Policiamento do Interior), coronel Valdir Tardeli. O oficial falou a O Progresso no dia 26 de maio, após solenidade da corporação.

No anfiteatro da Fatec (Faculdade de Tecnologia) “Professor Wilson Roberto Ribeiro de Camargo”, o comando do 22º Batalhão do Interior prestou homenagem aos cabos Edilson dos Santos (policial do mês do CPI-7) e a Raul Fernandes de Medeiros (láurea de mérito pessoal de segundo grau), de Tatuí.

Convidado mais aguardado do evento, Tardeli respondeu perguntas da reportagem sobre o aumento da violência contra policiais militares na RMS (Região Metropolitana de Sorocaba). Falou a respeito de ações de prevenção ao crime especializado e declarou que a impunidade no país está “fora de controle”.

“Amanhã, até o meio-dia, vai ter morrido um policial militar no Brasil”, iniciou. Conforme Tardeli, o maior número de assassinatos concentra-se na região Sudeste. Os motivos são vários, passando da concentração da população, ao número de policiais e ao “crescimento desenfreado” da violência.

O coronel disse, também, que existem casos de policiais vítimas de homicídio fora de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais. Contudo, destacou o número de mortes no Estado em que atua. Em 2014, a corporação registrou 85 assassinatos de PMs em serviço.

Um deles ocorreu na Região Metropolitana de Sorocaba. No ano passado, o PM Sandro Luís Gomes, de 35 anos, morreu em emboscada durante patrulhamento. O crime ocorreu no bairro Paineiras, zona norte de Sorocaba.

“Ele pertencia à banda do CPI-7, era músico e tinha um projeto social muito bom na cidade, com crianças abandonadas. Estava fazendo uma operação delegada (quando um PM está em horário de folga) e se dirigiu a um bairro com uma incidência de violência muito grande”, relatou o coronel.

Tardeli afirmou que o policial foi vítima do crime organizado. Segundo ele, havia uma ordem para que criminosos efetuassem a morte de um PM. Gomes fazia ronda no local em companhia do sargento Antônio Correa Júnior.

Os dois foram alvejados na viatura. Um dos disparos atingiu a cabeça de Gomes, que chegou a ser socorrido, mas morreu no hospital. O sargento levou um tiro de raspão no pescoço, sendo socorrido e recebendo alta no mesmo dia.

Considerado “o caso mais recente de policial em serviço na região de Sorocaba”, o assassinato do PM contribuiu para que o comando aumentasse a orientação e procedimentos de treinamento de operação com o efetivo da RMS.

Em maio, policiais do 22º Batalhão, com sede em Itapetininga, participaram de campeonato de procedimento operacional padrão. O evento consistiu em disputas envolvendo procedimentos para aumentar a segurança do efetivo.

“É dessa forma que nós tentamos mitigar a quantidade desses casos. Fazemos uso de muita inteligência e treinamento para evitar mortes”, disse o coronel.

Com relação às explosões de caixas eletrônicos, Tardeli informou que elas têm registrado aumento, mas sido combatidas, em especial na região de Sorocaba. “Meu comando tem sete batalhões, e nós temos tido alguns casos”, comentou.

De acordo com o coronel, esse tipo de ação é registrado com maior incidência na região de abrangência dos comandos de Botucatu e Itu. Em Sorocaba, Tardeli afirmou que os roubos a banco ocorrem com menor intensidade.

O motivo é a distância que as quadrilhas especializadas têm de percorrer para chegar até os municípios da região. Conforme o comandante, a maioria dos criminosos que agem no interior é da capital e da região de Campinas.

“Eles migram, atravessam o Tietê (rio) e vêm pelo lado de Sumaré e Piracicaba para atuar no interior. Tatuí é um pouco distante para eles”, declarou.

Tardeli informou que muitas das quadrilhas têm poucos integrantes e citou que é preciso adotar política mais rígida para o controle de uso de explosivos.

Segundo o coronel, os criminosos preferem utilizar, nos roubos, as “bananas de dinamites”, como são popularmente conhecidas as “emulsões plásticas”.

Em função disso, o comandante do CPI-7 considera necessário estabelecer uma política de diminuição da utilização desse material. De acordo com ele, o ideal seria substituir o material por um sistema que utilize maquinário.

Para o comandante, o crime organizado prefere esse tipo de delito por conta da rentabilidade. Entretanto, o oficial salienta que o risco também é “muito alto” para quem pratica roubo a caixas eletrônicos com uso de material explosivo.

Tardeli citou, como exemplo, a morte de uma pessoa durante troca de tiros com militares na noite do dia 26 de março, na cidade de Conchas. Segundo ele, os homens tentavam explodir uma agência bancária. Na ação, um homem de 30 anos faleceu. Os comparsas que o acompanhavam conseguiram fugir.

O comandante também mencionou a prisão de sete pessoas em Alumínio, no dia 2 de abril, e a detenção de mais sete, em Boituva e Guareí, envolvidos nesse tipo de crime. Nos dois casos, os suspeitos estariam fortemente armados.

“É um crime que está um pouco banalizado”, avaliou. Tardeli declarou que é preciso a aplicação de novas ações para dificultar as explosões e contou que a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) está participando de discussões a respeito do assunto para que os crimes sejam reduzidos.

Conforme ele, a federação tem investido na modernização dos equipamentos. Por meio dessa iniciativa, o comandante declarou que o CPI-7 tem registrado redução neste ano. Apontou que o “pico” ocorreu entre 2013 e 2014. “Nós estamos tendo alguns casos, mas o número é bem menor”.

Além da participação das instituições, a corporação tem investido em armamento de efetivo. O coronel informou que os policiais passaram a receber equipamentos melhores. “Aliás, tivemos um exemplo disso no caso de Conchas. O infrator foi morto com um tiro de fuzil, durante confronto”, mencionou.

Os investimentos também têm gerado reflexos em Tatuí. Embora não tenha registro de explosões em caixa eletrônico, o município tem índice alto de prisões envolvendo tráfico de drogas. De janeiro a abril, somente a PM deteve 150 pessoas. A maioria em flagrante delito por venda de entorpecente.

No entendimento do coronel, o dado apresentado pelo comando local denota mais que o avanço do crime. Tardeli alegou que ele representa crescimento da ação da PM e que “a impunidade no país está fora de controle”.

Para o comandante do CPI-7, essa situação tem relação com a legislação. “Ela é muito fraca, paternalista. Liberta muito cedo o indivíduo”, argumentou.

Estabelecendo comparativo entre o Brasil e os Estados Unidos, o coronel destacou que as penas no país não são cumpridas como deveriam. Tardeli relembrou o caso do sorocabano Francisco Fernando Cruz, de 23 anos, detido em janeiro de 2014, pelas autoridades norte-americanas, depois de enviar e-mail a uma companhia aérea mencionando ameaça de bomba.

“Ele cumpriu a condenação toda lá. Se fosse no Brasil, as pessoas iam falar que foi brincadeirinha, ou qualquer coisa desse tipo. Então, aqui, você tem um homicídio em que a pena mínima começa com 12 anos, o preso cumpre um sexto da pena, vai progredir de regime e, em cinco anos, está na rua”, ressaltou.

Tardeli defendeu o cumprimento de pena integral a condenados. Afirmou que a maioria dos criminosos não tem medo da lei, “por ter certeza de impunidade”.

“As pessoas precisam ter receio. Não é preciso colocar uma denominação de hediondo, a pena está tipificada. O que é preciso é que as pessoas cumpram suas penas, sem nenhum tipo de benefício, sem válvulas legais”, concluiu.

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