Secretaria sustenta que a qualidade do ensino do CDMCC será mantida

Órgão diz que estrutura atual não será ‘desmontada’, mas confirma ajustes

Novo modelo de ensino proposto deve atuar na busca pelo aperfeiçoamento das técnicas da música (foto: AI Conservatório)
Da reportagem

Em reposta aos questionamentos e apontamentos feitos pelo maestro Edson Beltrami (reportagem nesta edição) em relação às mudanças propostas para o Conservatório de Tatuí, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa, do estado de São Paulo, afirmou que a estrutura atual não será “desmontada”.

Por outro lado, o órgão confirmou que a atual gestora da instituição de ensino de música, teatro e luteria, a Sustenidos Organização Social de Cultura, está realizando “ajustes pontuais e graduais”.

Conforme a Secec, as mudanças em andamento na instituição levam em consideração “uma atualização da proposta pedagógica, em sintonia com os mais modernos métodos de ensino no mundo”.

Sobre a demissão dos monitores e a proposta de mudanças que poderiam trazer prejuízo ao ensino da música na instituição, a Secec diz ter percebido “um entendimento equivocado sobre os ajustes e melhorias”.

O órgão afirmou que, atualmente, os monitores atuam como integrantes dos grupos, tocando ou encenando ao lado dos alunos e que, a partir do ano que vem, os grupos serão formados exclusivamente por alunos, “sem inviabilizar a eventual participação de professores do Conservatório de Tatuí e de convidados externos”.

Conforme a Secec, os cargos de monitores serão substituídos pelo novo cargo de professor de grupos artísticos. “Esses professores de grupos artísticos seguirão dando todo suporte pedagógico e artístico aos alunos nos ensaios e na preparação de repertório, o que consideramos fundamental”, afirma a secretaria.

Já nas apresentações artísticas, a Secec reforçou que a intenção é “dar maior protagonismo aos alunos”, atitude que, para o órgão, pode trazer “consequente melhor preparo para o mercado de trabalho”.

Quanto à preocupação dos professores que apontam prejuízo na carreira do estudante de música com a limitação do repertório dos grupos artísticos, devido à falta dos monitores, o órgão também afirmou ver “uma avaliação equivocada”.

A Secec sustenta que “a missão do Conservatório de Tatuí, enquanto equipamento de formação, é preparar os alunos e alunas – ao longo da trajetória dos cursos, prática de conjunto, música de câmara etc. – para tocar com excelência os mais variados repertórios, não apenas o exigido pelo mercado”.

Para o órgão, além de dar maior protagonismo aos alunos, o novo modelo de ensino proposto pela Sustenidos deve atuar na busca pelo aperfeiçoamento das técnicas da música.

“Trabalhamos, ao contrário, para oferecer aos estudantes uma formação baseada na progressão continuada do nível técnico e estilístico”, justificou a Secec, apontando que, “hoje, partes mais desafiadoras são tocadas pelos monitores”.

“Queremos que os alunos e alunas tenham mais autonomia, aprimorem-se tecnicamente e sejam mais desafiados para buscar seu aperfeiçoamento, desenvolvendo, assim, maior autoconfiança”, adiciona.

Para isso, a Secec disse estar “ciente de que haverá um período de transição do modelo atual para o novo, cabendo aos professores de grupos artísticos prepará-los (aos alunos e alunas) para isso”.

“Dizer que alunos não serão capazes de fazer solos é subestimar sua capacidade”, afirmou o órgão, acrescentando: “Grupos artísticos da Emesp (Escola de Música do Estado de São Paulo), por exemplo, são compostos exclusivamente por estudantes e sua qualidade é inquestionável”.

Sobre como a Sustenidos pretende manter a qualidade do ensino de música do Conservatório de Tatuí, com as mudanças pedagógicas sugeridas, a secretaria afirmou que a proposta é “trazer algumas inovações, como oferta de novas disciplinas, cursos livres e de aperfeiçoamento, que vão se somar à já consistente formação oferecida pela instituição há 67 anos, com cursos que atendem crianças a partir de quatro anos – não somente em música, mas também em artes cênicas”.

Segundo o órgão, “as melhorias propostas para a instituição seguem tendências internacionais e estão alinhadas ao que já é praticado nas principais escolas de música e artes cênicas do mundo, assim como em outros equipamentos congêneres do estado: professores qualificados preparam os alunos e alunas, mas são os alunos que sobem ao palco e mostram seu desenvolvimento”.

Questionada sobre como a ausência dos monitores (com maior “protagonismo dos alunos”) poderia ser melhor para a formação de músicos profissionais, o órgão reafirmou que todos os grupos serão acompanhados por professores, sejam coordenadores ou de grupo artístico.

“A interação com professores experientes e qualificados será mantida durante toda a preparação de repertório, em todos os ensaios e pode ocorrer em concertos”, declarou o órgão.

Indagada sobre em quais aspectos o ensino da música ganha com a dispensa dos professores-monitores locais para a contratação de pessoas de outras localidades, o órgão reiterou que haverá somente a mudança de nomenclatura e atribuições dos cargos e que eventuais substituições poderão ocorrer conforme avaliações periódicas de desempenho dos profissionais.

“Quaisquer novas contratações serão realizadas mediante processo seletivo, anunciado publicamente nos sites das instituições e com garantia de equidade na inscrição e seleção”, sustentou o órgão.

Segundo a Secec, as avaliações consideram análise curricular dos candidatos inscritos. Os que obtêm maior pontuação nessa fase são chamados para entrevistas e, conforme o cargo, para testes de aptidão.

“As notas de cada fase são somadas, sendo aprovado o candidato com maior pontuação geral – independentemente da origem deste candidato”, garantiu.

A Secec não informou quais e quantos serão os monitores demitidos. Em resposta a este questionamento, o órgão informou que “todos os postos de trabalho serão mantidos. As ações, bem como ajustes pontuais, estão sendo planejados para o ano letivo 2022”.

Quanto à falta de alunos nos últimos anos dos cursos de música para a formação de orquestras e bandas sinfônicas, a Secec informou ter “pré-requisitos variados para os diferentes grupos, naipes e instrumentos”.

Além disso, o órgão apontou que uma das medidas propostas é uma ampliação da oferta de bolsas durante mais tempo, passando de quatro para nove meses, o que, para o órgão, deve atrair mais alunos com condições de concorrer no processo seletivo para concessão de bolsas aos grupos artísticos.

Contudo, a secretaria pondera que, “como já ocorreu em 2021, caso os grupos não sejam completados por alunos do Conservatório de Tatuí, poderá ser aberto um novo processo seletivo para estudantes que não estejam matriculados na instituição”.

A Secec acrescentou que “os ajustes e melhorias não se devem à falta de recursos financeiros, mas, sim, a uma necessidade de atualização do projeto pedagógico, com objetivo de beneficiar os estudantes e em consonância com tendências que já estão sendo seguidas pelas melhores escolas de música e artes cênicas do mundo”.

Questionada sobre a intenção de a Sustenidos manter o plano de cortes anunciado no plano de trabalho, mesmo com recursos adicionais no orçamento destinado à instituição, o órgão informou que o plano de trabalho apresentado para o chamamento público é feito com base nas informações preliminares fornecidas em edital.

“Com o anúncio de recursos adicionais e após conhecer, na prática, o funcionamento da instituição, o plano de trabalho foi revisto. Não há indicação de redução de postos de trabalho, mas, sim, de substituições pontuais e justificadas”, afirmou a Secec.

Conforme o órgão, não haverá redução no número de grupos artísticos. “Todos estão mantidos, com um número maior de bolsistas, e nem redução no número de vagas oferecidas para os cursos”, garantiu a secretaria.

Por fim, sobre a substituição do maestro Edson Beltrami da Orquestra Sinfônica do Conservatório de Tatuí e frequência dos ensaios devido à contratação de músico de São Paulo, a Secec informou:

“Por questões de transparência e ética, a Sustenidos comunicou antecipadamente ao atual regente da Orquestra Sinfônica do Conservatório de Tatuí sua decisão de ter um novo profissional à frente do grupo a partir de 2022”.

“A partir do próximo ano letivo, quem assume a titularidade do cargo é Emmanuele Baldini, spalla da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), que em seu currículo traz uma larga experiência não só artística, mas também pedagógica”.

Conforme a Secec, de acordo com o planejamento da Sustenidos, em 2022, os ensaios da orquestra serão realizados às segundas-feiras, terças-feiras e quartas-feiras, das 14h às 17h.

“A preparação de repertório combina ensaios de naipe e ensaios gerais, conforme cada programa executado. Este procedimento será mantido no próximo ano, como ocorre tradicionalmente desde a criação do grupo”, informou a Secec.

Ainda segundo o órgão, o spalla da Osesp, Baldini, “tem uma agenda bastante flexível e já apresentou um plano de trabalho para 2022 compatível com as necessidades da Orquestra Sinfônica do Conservatório de Tatuí”. O órgão não apresentou o plano, contudo, disse que, em breve, poderá ser divulgado.

A Secec ainda destacou que, além de atuar como regente, Baldini oferecerá master classes mensais aos alunos bolsistas do grupo e, por fim, enfatizou o currículo do músico italiano.