O “PS” no futuro das crianças e dos jovens

O Dia Mundial do Livro, celebrado em 23 de abril, foi escolhido pela Unesco, em 1995, para marcar o incentivo à leitura. A data também lembra grandes autores, por isso concentra aniversários de nascimento ou de morte de escritores como William Shakespeare, Miguel de Cervantes, Inca Garcilaso de la Vega e Vladimir Nabokov.

Já na cidade, o Dia Municipal da Literatura Tatuiana, em 4 de maio, foi criado em 2011, pela lei 4.581. A data considera dois fatos importantes na história local: o nascimento de Chiquinha Rodrigues, em 1886, e a morte de Paulo Setúbal, em 1937.

Francisca Pereira Rodrigues, conhecida como “Chiquinha Rodrigues”, foi ex-prefeita de Tatuí, tendo ruas em seu nome na vila Dr. Laurindo e no bairro Guaxingu, em São Paulo, além de uma creche na praça da Bandeira local e duas unidades escolares na capital paulista.

Chiquinha Rodrigues se destacou na área da literatura com a publicação de nove livros infantis e várias obras sobre história, geografia, agricultura, economia e saúde.

Paulo Setúbal, filho ilustre de Tatuí, denomina o Museu Histórico “PS” e a praça onde estão duas importantes unidades educacionais do município: a Escola Estadual “Barão de Suruí” e a Emef “João Florêncio”.

É autor de inúmeros romances, contos, crônicas e memórias, entre as quais, as clássicas “Alma Cabocla”, “As Maluquices do Imperador”, “A Marquesa de Santos” e “Confiteor”.

Setúbal é um dos “imortais” da Academia Brasileira de Letras e, anualmente, homenageado com uma semana que tem seu nome, dentro das comemorações do aniversário do município.

Cá em Tatuí ou no planeta, as datas dedicadas à literatura são ainda mais relevantes na atualidade – ou deveriam ser -, tendo-se em conta a crescente influência nem sempre positiva das “telas” principalmente junto às crianças e jovens.

“Trata-se de uma oportunidade para refletir sobre a literatura em sala de aula, ponto importante, pois o cenário de letramento na educação básica brasileira reforça a necessidade de atividades de incentivo à leitura nas escolas”, defende Maria Carolina Araújo, diretora de ensino da rede Anglo Alante – umas das maiores instituições de educação do país.

Ela justifica apontando dados, entre tantos outros, divulgados pela avaliação global Pirls (Estudo Internacional de Progresso em Leitura), segundo a qual a capacidade de alunos brasileiros do 4º ano do ensino fundamental realizarem leituras com plena compreensão do texto está abaixo do esperado.

Maria Carolina acentua que “a leitura é a base da formação de sentimentos e do conhecimento de si e do mundo e, por isso, é preocupante que os dados sejam tão desanimadores”.

“No último Pisa, o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, o Brasil obteve 410 pontos, média inferior à nota de outros países, inclusive da América do Sul”, cita a diretora. Ela também destaca que a performance dos estudantes brasileiros não foi diferente nos últimos anos.

Entre os adultos, o panorama também é “desafiador”. Dados da Câmara Brasileira do Livro (CBL) mostram que 84% dos brasileiros acima de 18 anos não compraram livros em 2023 e um dos principais fatores do afastamento da leitura, segundo os entrevistados, era a falta de tempo.

Diante disso, Maria Carolina reafirma ser a partir do incentivo à leitura na primeira infância que se forma uma “sociedade leitora”.

“Uma construção ao longo de muitos anos é o que possibilita a formação de uma sociedade de adultos que compreendem e consomem diferentes tipos de texto, seja em momentos acadêmicos, seja em momentos de lazer. Um adulto que não compreende o que lê não desenvolveu essa habilidade enquanto estava na educação básica”, argumenta a educadora.

Contudo, ela entende que, para o processo de formação ser satisfatório, não basta eventualmente entregar livros às crianças, sendo necessárias estratégias dos educadores.

“Mesmo as crianças que não leem devem ser apresentadas a livros sensoriais, educativos, que instiguem a vontade de ler. Só então, por volta dos sete anos, quando a alfabetização de fato se inicia, surgem as histórias que exigem leitura, ainda que com figuras, que costumam girar em torno de temas sobre comportamento e que trabalhem a relação causa e consequência”, observa Maria Carolina.

Para os adolescentes, segundo ela, “o processo transcende os livros, pois mesmo a coletânea de textos para livros didáticos deve ser cuidadosamente pensada para envolver e desenvolver os jovens”.

“Isso forma, ao final da jornada acadêmica, um estudante capaz de entender desde textos expositivos até textos indutivos”, reforça a diretora.

Neste mesmo mês, no dia 18, também é comemorado o Dia Nacional do Livro Infantil. Instituída pela lei 10.402, de 8 de janeiro de 2002, a data homenageia um escritor, Monteiro Lobato, que nasceu neste mesmo dia

“Essa é outra data que reforça a importância de discutir o papel da leitura nas escolas, sobretudo na educação infantil”, conclui Maria Carolina.

Sem dúvida, o distanciamento da “realidade” em favor da “virtualidade” pode acabar sendo maior malefício da falta de leitura, até porque, como se observa, é necessário saber “interpretar” a realidade para entendê-la com mais clareza, não havendo forma melhor de absorver esta virtude senão pela leitura desde a infância.

Nenhum youtuber tagarela – por mais bem-intencionado seja – tampouco o “PS” 4 ou “PS 5” serão capazes de preparar jovens e crianças para um futuro menos “influenciável”, um futuro em que sejam muito mais cidadãos conscientes e menos “seguidores” incautos.

Ou seja, lembrando o que o genial Ziraldo costumava dizer que “ler é mais importante que estudar”, seria muito oportuno e positivo, por pais e educadores, o estímulo a menos “PS” de Play Station e mais “PS” de Paulo Setúbal.

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