Da reportagem
Em busca do sonho de tornar-se jogador profissional de futebol, o jovem zagueiro Eduardo de Oliveira Gonçalves está a mais de 350 quilômetros de Tatuí. Com apenas 14 anos, ele mora em Curitiba (PR) há cerca de seis meses.
Em 30 de agosto do ano passado, o tatuiano embarcou em definitivo à capital paranaense para ficar alojado no Trieste Futebol Clube, equipe de base que atua como centro de captação de atletas ao Clube de Regatas do Flamengo.
Para isso, aos seis anos, Gonçalves começou a relacionar-se com o futebol ao acompanhar o irmão nos treinamentos. Segundo ele, foi dessa forma que começou a treinar no Bom de Bola com “Montanha”, tio do ex-jogador e idealizador do projeto, Diego Barros, e a apaixonar-se pelo esporte.
A O Progresso, o jovem contou que, ao chegar no Bom de Bola, queria ser atacante, mas, costumeiramente, discutia com Barros e era mandado embora dos treinamentos por não querer ser zagueiro.
Depois de certo tempo, acabou tomando gosto pela posição. Atuando defensivamente, o tatuiano afirma se identificar, devido às características e modo de jogar, com o zagueiro Dedé, atleta com passagens no Vasco da Gama e Cruzeiro, além de convocações para a seleção brasileira.
Ao todo, ele permaneceu no Bom de Bola por cinco anos. Nesse período, Gonçalves garante ter aprendido, além dos fundamentos básicos do futebol, ensinamentos morais. “Levo comigo a disciplina, a postura dentro e fora de campo, o comprometimento na escola e sempre respeitar os mais velhos”, afirma.
Antes de receber uma oportunidade em Curitiba, Gonçalves esteve em Campinas. O zagueiro jogou por três anos na Ponte Preta, tendo atuado pelas categorias sub-11 e sub-13.
Ele deixou a “Macaca” em 2019, quando a equipe inteira de base foi dispensada, após troca de diretoria. “Foi um período muito bom, onde pude ganhar uma experiência enorme”, aponta.
Em 18 de fevereiro do ano passado, o município recebeu peneira organizada pelo Trieste, com apoio do Bom de Bola e da Arjalita (Associação Recreativa Jardim Lírio Tatuí). O estádio Toca da Coruja sediou as peneiras a meninos e meninas das categorias sub-10, sub-12 e sub-14.
Na oportunidade, Gonçalves foi um dos dez atletas selecionados para a etapa seguinte. Em novembro do ano passado, o Trieste fez uma nova “peneira” e selecionou mais sete tatuianos para a etapa seguinte.
Os jovens pré-aprovados nas peneiras da região ficam, inicialmente, uma semana em Curitiba, nas dependências do Trieste, para novas avaliações. O período na capital paranaense é custeado pelo Trieste e pelo Flamengo.
Caso sejam selecionados, os atletas retornam para uma nova fase de avaliações em Curitiba. Porém, na segunda etapa, os treinamentos são realizados com os que já integram as categorias de base do Trieste.
No mês seguinte, Gonçalves, o lateral-direito Bigu e o lateral-esquerdo Baldini foram os três primeiros jogadores do município a irem ao Trieste. O zagueiro foi o único tatuiano selecionado na etapa de avaliação.
Ainda em março do ano passado, houve o início da quarentena no país. Nesse período, ele conta não ter ficado parado um dia sequer, treinando em campos e na casa dele, até poder retornar a Curitiba e ser aprovado para o Trieste.
De acordo com Gonçalves, na atual rotina dele, tem de acordar diariamente às 6h. Ele treina pela sub-17 (categoria acima da idade dele) até às 9h30 e, em seguida, participa das atividades da sub-15 (categoria que integra) até às 11h30, quando vai para o almoço.
O tatuiano ainda faz exercícios na academia do clube, das 13h30 às 14h40, e o compromisso seguinte é o jantar, às 18h15.
Conforme o jogador, o Trieste “cobra seriedade, muita intensidade, comprometimento, disciplina, caráter, entendimento do jogo e respeito” a cada um dos atletas. “Acredito que estou me saindo superbem e cada dia evoluindo mais”, aponta.
Durante um semestre em Curitiba, Gonçalves teve contato com diversos atletas tatuianos mais novos que ele, que atuam entre a sub-8 e a sub-12, também avaliados pelo núcleo de captação do Rubro-Negro carioca.
Para Gonçalves, a dificuldade é maior para esses jogadores, pois, devido à idade, dependem de os pais os levarem para os treinamentos e jogos. Segundo ele, os pais têm de renunciar a muita coisa pelos filhos. “Não adianta os pais quererem e a criança, não”, reforça.
“Os desafios existem em qualquer profissão. No futebol, não basta ‘matar um leão por dia’, tem que ser no mínimo três, porque igual a você tem em todo o Brasil. É preciso aproveitar as oportunidades que recebe”, complementou.
A O Progresso, em outubro, Antônio Marcio da Silva Júnior, pai de Luiz Henrique, da sub-10 – um dos outros tatuianos avaliados na capital paranaense -, revelou três ídolos do filho dele: o atacante português Cristiano Ronaldo, da Juventus, da Itália; o lateral-esquerdo brasileiro Marcelo, do Real Madrid, da Espanha; e Gonçalves.
O jovem afirma que, para chegar ao atual estágio, teve de renunciar a muitos desejos pessoais. Questionado sobre ter de sair de casa, ele disse nunca ter sentido dificuldade, pois recebe muito apoio dos pais para “continuar em busca da realização do sonho”.
A mãe dele, Renise de Oliveira, diz ser gratificante ver o filho destacando-se pelo talento. Na torcida, ela revela sentimento misto de orgulho e saudade. “Só tenho a agradecer ao esporte que, graças a Deus, o levou para um bom caminho. Não é utopia dizer que nunca será só futebol”, ressaltou a mãe.
Por fim, o tatuiano do núcleo do Flamengo entende que somente o talento não é suficiente para ser atleta profissional. Para Gonçalves: “É preciso determinação, foco no trabalho e agarrar todas as oportunidades”.
“O futebol é feito de oportunidades e não adianta ser o melhor. Pode ser que alguém, com menos qualidade, receba uma oportunidade e se torne um jogador profissional, enquanto o melhor, às vezes, fica pelo caminho”, finaliza o tatuiano.