Envelhecer com Qualidade de Vida





Entre os discursos de bom mocismo a sustentar o senso-comum, há alguns centenários, não raro explorados na arte da ficção, como na literatura, dramaturgia e no cinema.

Uma dessas falsas crenças é a de que, “sempre”, o capitão é o último a abandonar o barco – reitere-se que, neste caso, o “sempre” aparece no sentido literal, de ter ocorrido indistintamente ao longo de toda a história da humanidade.

Basta lembrar a tragédia envolvendo o navio Costa Concordia, onde o capitão estava a deleitar-se em outros afazeres alheios às manobras náuticas quando a embarcação naufragou, vitimando dezenas de pessoas.

Francesco Schettino, o comandante, acabou sendo condenado a 16 anos de prisão por ter abandonado o navio, ainda repleto de passageiros. Porém, nem sempre foi assim, tornando a absoluta assertiva de senso-comum falsa, pelo menos em parte.

Houve época em que, diante de sinistro iminente, o capitão – tripulante mais experiente da embarcação e, por consequência, quase nunca um jovem – devia ser o primeiro a ser “salvo” – ou salvar-se.

A atitude se justifica pelo fato, justamente, de a experiência dele ser mais produtiva tanto para ajudar na sobrevida de eventuais náufragos quanto – e principalmente – para futuras viagens, particularmente quando então “desbravavam-se” oceanos ainda de maneira “aventuresca”.

A introdução serve apenas para provocar a tão enfadonha retórica do “bem” quanto para exemplificar que a “experiência”, (essa, sim, sempre) melhor acumulada com a idade, já foi mais valorizada.

Em outras palavras, o “velho” já foi muito mais respeitado, muito mais que, hipocritamente, ser chamado de indivíduo da “melhor idade”. Aliás, desde quando perder energia, libido, músculos, é “melhor”?

Só na cabeça de quem desrespeita a longevidade, mas disfarça o menosprezo com o uso oportunista de palavras sem qualquer peso de seriedade, apenas sustentadas por esse discurso politicamente incorreto, só não mais enjoativo que falso.

Por essa razão – que pode até parecer boba, mas não o é -, deve-se reconhecer, apoiar e aplaudir a retomada dos trabalhos do programa “Envelhecer com Qualidade de Vida”.

A iniciativa do Fusstat (Fundo Social de Solidariedade de Tatuí) voltou às atividades na terça-feira, 7, no Parque Ecológico Municipal “Maria Tuca”.

O programa, cujas atividades se iniciaram há dez anos, oferece aulas de educação física, artesanato, ioga, caminhada, além de orientações nutricionais para 180 idosos de praticamente todos os bairros. Os participantes também recebem acompanhamento médico e fisioterapêutico.

Diariamente, ônibus circulam no início da manhã pelos bairros para recolher os idosos. Entre as 8h30 e 11h15, eles conversam, jogam bingo e fazem atividades esportivas para “colocar o corpo e a mente em movimento”.

Não obstante, mais que isso, é muito bom observar esse programa, que atua efetivamente em favor da terceira idade, denominado novamente como era antes.

A denominação, nos anos anteriores, passara a ser “Melhor Idade”. Não cabe aqui julgar administrações, apenas notar o investimento na clareza dos termos concernentes ao assunto.

O programa em si é e sempre foi ótimo e necessário. Nasceu por uma excelente causa e firmou-se como eficiente instrumento de apoio à terceira idade, manteve-se na administração seguinte com os mesmos méritos e, agora, é retomado já com certeza de sucesso.

O único senão a ser apontado neste momento é que não se trata de “melhor idade” – infelizmente, até porque, dia a dia, todos nós envelhecemos e, assim, seria ótimo que a longevidade nos levasse a sentirmo-nos cada vez melhores.

Só que assim não ocorre, e disfarçar dores na lombar com dissimuladas peripécias verbais não ajuda em nada. Melhor o Dorflex!

Portanto, o termo retomado é perfeito: “envelhecer com qualidade de vida”! É isto que todos queremos, é isto que todos merecem – claro, menos aqueles que, apesar do tempo, ainda continuam “velhos safados”.

Reconheçamos: o ser humano muda muito pouco. Tem gente que nasce estragada: é uma criança complicadinha, um jovem insolente, um adulto desonesto e, enfim, por que se tornaria um cidadão da melhor idade bonzinho?

Enfim, que as pessoas realmente merecedoras, as que agem corretamente, envelheçam com qualidade de vida. As demais, aquelas que só ecoam falsidades e praticam vilezas, que apenas envelheçam.