Valores do MIS de Tatuí por dentro e por fora

Agora denominado Complexo Cultural de Tatuí, o espaço antigamente ocupado pelo “matadouro” teve a finalização de sua estrutura destinada ao MIS (Museu da Imagem e do Som) e ao Memorial do Rugby 1928.

Ambos, em suas denominações, prestam homenagem a dois tatuianos que, embora em áreas distintas, marcaram a história do município com feitos realmente de interesse público.

Gualter Nunes, então proprietário do veículo que permaneceu por muitos anos como atrativo da “Praça do Museu”, foi um médico reconhecido por sua atenção para com os tatuianos menos abastados.

Já Renato Ferreira de Camargo e o também “tatuianíssimo” Erasmo Peixoto foram os grandes defensores da instalação de um MIS na cidade. Sobre isso, publicaram diversos artigos aqui mesmo no jornal O Progresso de Tatuí, no qual mantinham colunas semanais.

Agora, tudo é festa, quando se concretiza essa conquista de profundo valor cultural e turístico para a cidade, mas à época, lá por meados dos anos 1990, não foram poucos os lamentos de Camargo e Peixoto pela aparente falta de interesse em se preservar a história e a cultura locais por meio, também, de registros em imagem e som.

Mas, a observação serve apenas para ilustrar como o novo dispositivo parte de vontade antiga, quando não se dava valor a museu, não havia nenhum orgulho em ser caipira e falar um turismo em Tatuí era motivo de piada.

Agora, há programas como o MIT, que incentivam a valorização das peculiaridades locais – e atrativos, portanto; e há tanto trabalho em favor do resgate da cultura tradicional, que muita gente já acordou para o fato de que, sim, é legal ser caipira.

Não menos importante, a ideia de que “velho” é sinônimo de obsoleto – ou sem importância – já é algo identificado como ignorância, pura falta de informação.

E é exatamente neste ponto que um MIS contribui profundamente não só com a possibilidade de se instruir as pessoas sobre sua história, mas, acima disto, por estimular a própria autoestima da população, levando-a a entender que é única e, por este aspecto, ainda mais especial quando toma consciência da importância de preservar e valorizar sua identidade ancestral.

Contudo, daí se percebe a relevância do que será resgatado e exposto no museu. Óbvio que um edifício histórico restaurado, bonito, funcional, é condição básica para se atrair público e os próprios locais.

Porém, não é o mais importante: isso é o “onde”, quando em primeiro plano deve estar o “o que” – ou seja, o que será levado para dentro do espaço cultural e histórico, a chamada expografia.

Há cerca de um ano, em abril de 2023, uma reunião no Centro Cultural Municipal antecipou o projeto a contemplar essa etapa do MIS, chamado “plano museológico”.

Em síntese, como esperado, o novo museu deve priorizar as riquezas locais, com ênfase na música, na cultura regional e em patrimônios diversos, que podem somar de peças de família (como instrumentos musicais) a depoimentos de personalidades significativas para o município, gravados em vídeo.

Outros diversos atrativos integraram o projeto inicial, todos, positivamente, com foco no turístico e no apelo educativo.

O novo MIS, além de informar a própria população sobre a história da cidade – em especial, como deve ser, por imagens -, ainda promete ser um espaço voltado a turistas e, para completar, algo inusitado e dinâmico para estudantes.

Entre os presentes na então apresentação, estiveram a arquiteta, especialista em museografia e sócia-proprietária da empresa Arquiprom, responsável pelo projeto da expografia, Sílvia Landa, e o historiador e pesquisador Roney Cytrynowicz.

Sílvia lembrou que o projeto vinha sendo trabalhado havia mais de um ano pela empresa, que também fez a expografia do Museu “Paulo Setúbal”.

Naquela oportunidade, chegou-se ao ponto da definição, em detalhes, de todos os espaços a serem abrigados pelo museu, tal como seu conteúdo expositivo permanente.

Contudo, a especialista reforçou que, mesmo assim, novidades ainda poderiam surgir logo, ou mesmo nos próximos anos, considerando-se a premissa, correta, de que “museus não são lugares de coisas velhas” (jamais); pelo contrário, devem ser dinâmicos e abertos não apenas à comunidade, mas às oportunidades apresentadas pelos próprios munícipes.

Desde o primeiro encontro, inclusive, em outubro de 2022, quando houve já uma apresentação preliminar do plano museológico do MIS, foi evidenciada a importância da participação popular no projeto, por meio do diálogo e de representações.

Naquela reunião, foram confirmados aspectos anteriormente anunciados, como os croquis da expografia feitos pela equipe da Arquiprom. Neles, constam diversos registros históricos orais, pesquisas em acervos do Museu Histórico “Paulo Setúbal” e junto a memorialistas da cidade.

Por exemplo, estava confirmado, para compor o MIS, o espaço destinado aos “memorialistas”, com imagens em fotografias e filmes de Tatuí, registradas por quem as produziram ou as preservaram.

Já com relação à cultura musical, também fora confirmado o acervo com foco e “ouvidos” para o cururu, seresta, fandango, Cordão dos Bichos, outras expressões da cultura da música popular, a cronologia do Conservatório de Tatuí e referências ao título de Capital da Música.

Bailes em clubes e salões, animados por conjuntos, bandas e orquestras variadas, das jazz bands aos grupos de rock também deveriam possuir um espaço próprio no MIS.

No setor de teatro, o foco deve ser nas atividades da área, desde a fundação da Sociedade Recreio Dramático, em 1871, que construiu o Teatro São João, até a história do prédio do “Teatrão”, que ficava na praça Martinho Guedes, onde atualmente é a praça de alimentação.

Na expografia relacionada a cinema, rádio e televisão, além de um trabalho cronológico – com destaques para a atriz Vera Holtz e o jornalista Maurício Loureiro Gama -, estava programado um estúdio interativo.

“Tatuí esteve sempre inserida neste circuito. Maurício Loureiro Gama, nascido na cidade, tornou-se o primeiro apresentador de um telejornal na TV brasileira”, lembrou-se já no encontro anterior. Gama, aos 16 anos, começou a escrever no jornal O Progresso de Tatuí.

A “cadeia produtiva” da música no município também deve estar presente, por meio do curso de luteria do Conservatório e do de produção fonográfica da Fatec (Faculdade de Tecnologia).

Finalmente, a história do “matadouro”, onde se encontra o museu, ilustraria a parte externa do prédio. Lá, o público deve encontrar referências iconográficas, valorizando o edifício que deu origem ao MIS.

Ainda estavam previstos mais dois lugares interativos: o “Anexo do MIS”, composto por uma sala multiuso para atendimento do educativo; e o “Teatro de Arena”, instalado no gramado em frente à edificação, para receber apresentações artísticas.

Curiosamente, o acervo deste jornal (por exemplo, em que está publicado o primeiro artigo de Loureiro Gama e os tantos de Camargo e Peixoto pedindo pelo MIS), não fazia parte da expografia – embora já esteja presente até na história do Brasil, sendo hoje um dos 20 periódicos mais antigos em circulação ininterrupta no país.

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