Com a inauguração da segunda unidade do hipermercado Coop, em Tatuí, a restauração de prédios antigos e a preservação de patrimônio histórico voltaram ganhar destaque. Alguns entendem que a história deve ser revalorizada, enquanto outros afirmam ser melhor e mais barato reconstruir.
A arquiteta Veridiana Pettinelli é uma defensora da prática de restauração de prédios históricos. Ela diz que, quando se depara com situações em que imóveis antigos são destruídos para a construção de novos, sente que isso vai contra o que é ensinado na formação dela.
“Como arquiteta, acho que é minha missão fazer algo em prol da cidade, não apagando a história e, sim, reavivando a história”, comentou.
Segundo ela, em Tatuí, a maioria dos patrimônios antigos foi destruída e não restaurada. “Pelo que eu vejo aqui, pouca coisa é restaurada. Muita coisa foi demolida, e muita coisa bonita! Muita história está no lixão, está nas caçambas, nos barracões de demolição”, lamentou Veridiana.
Para a arquiteta, prédios históricos e outras construções antigas fazem parte da identidade de uma cidade e demoli-los traz prejuízo aos “mais novos”.
“É o passado que você está queimando, está jogando no lixo. Então, para as gerações futuras, você não tem o que mostrar, não tem história, não tem identidade”, afirmou.
No momento, Veridiana restaura um imóvel de quase cem anos, na rua 13 de Fevereiro. Ela garante que manterá todos os detalhes originais da casa, que será o novo escritório dela.
Também apontou que um dos objetivos da obra é mostrar aos tatuianos a importância de valorizar a história. “É uma casa pequena, um iconezinho que eu quero, mesmo que seja pequeno, que desperte o olhar das pessoas, e que elas pensem: ‘Ah, vou comprar essa casa antiga porque é bonita, e vou restaurar’”, explicou.
Segundo ela, depois da restauração do prédio em que funciona a nova Coop de Tatuí, na rua Coronel Lúcio Seabra, a população começou a ver com outros olhos a restauração de patrimônio.
“Aquilo está sendo um ícone, o tatuiano está valorizando depois que viu uma obra grande daquela, que estava toda caída, ser restaurada”, argumentou.
Sobre os custos de uma restauração, Veridiana conta que eles nem sempre são maiores do que o de uma reconstrução. “Na verdade, você consegue fazer restaurações com um valor mais baixo, e outras, como a da Coop, claro que ficam bem mais caras. Não tem uma regra”, avaliou.
Para ela, independentemente dos valores gastos, o mais importante é o valor histórico da obra. “Às vezes, vale a pena você pagar mais por uma restauração e conservar um bem histórico, porque a história não tem preço. Então, vale a pena, sim”, ressaltou.
A arquiteta também reconhece que, em alguns casos, a restauração exige valores muito altos, mas afirma que o patrimônio deve ter, no mínimo, um cuidado constante. “Você não pode abandonar um patrimônio. Se você conseguir preservar, fica muito mais barato na hora de você restaurar”, explicou.
Veridiana ainda destaca algumas vantagens de casas antigas, como a que ela está reformando, as quais não existem em construções modernas.
“Por conta de ser feita totalmente em terra, ela é fresca. Os pés-direitos das casas antigas são altos; então, ajuda também no condicionamento termoacústico. Em termos de qualidade de vida, é uma casa muito agradável”.
Ela também diz que casas como essa são econômicas e ecológicas, principalmente em relação ao uso de energia elétrica. “Você não precisa de ar-condicionado ou ventilador em uma casa assim, o que já economiza. Então, mesmo sendo antiga, a casa é ecológica”.
Para ela, a falta de contato das pessoas com patrimônios históricos faz com que tenham certo preconceito. “Se você der a oportunidade para a pessoa ter contato com algo antigo, ela vai entrar na casa e falar: ‘Nossa que casa fresca. Então, eu não preciso ficar dentro de um caixote, com o ar-condicionado ligado e ainda sendo ecologicamente incorreto’”, analisou.
E não é só no consumo de energia que as casas antigas fazem bem ao meio ambiente. Veridiana explica que o processo de reconstruir também prejudica o meio ambiente.
“Se você demole, você já gera entulho, e esse entulho vai ser descartado na natureza. Aí, você vai ter que comprar tinta, comprar ferro, comprar tudo de novo. E, se você restaurar, evita poluir a natureza e evita de comprar novos materiais”, explicou.
Mas, segundo ela, para interferir em uma construção antiga, o profissional deve ter bastante conhecimento sobre como eram feitas as obras antigamente.
“Tem que ir atrás de métodos construtivos da época, de como se fazia, que material usava. Tenho que saber de tudo isso para eu interferir em algo antigo”.
Ela também detalha o passo a passo necessário na hora de começar a restauração. “Quando o cliente me chama, faço uma análise; aí, vejo se vale a pena ou não, o que tem que fazer. Faço o orçamento e adapto o orçamento de acordo com o que a pessoa pode pagar”, contou.
Segundo a arquiteta, o poder público deveria criar medidas para impedir a destruição do patrimônio histórico. “A municipalidade deveria criar meios para poder incentivar a pessoa, se ela tiver um imóvel antigo, a fazer a restauração”.
“Poderia incentivar financeiramente, por exemplo, quem tiver uma casa com mais de cem anos restaurada. O imposto vem mais barato”, exemplificou.
Apesar de morar desde criança em Tatuí, Veridiana é nascida em Santo Antônio do Pinhal, cidade próxima a Campos do Jordão. Ela conta que sempre passou as férias no município e que foi lá onde despertou o olhar para a preservação da história.
“Na minha cidade, todos os casarões são restaurados. Então, dou importância a isso por causa do berço mesmo que eu tive. E, por isso, quero trazer um pouco dessa cultura para Tatuí”, finalizou.