Não, não se trata de nada relacionado à política, cujo período de maior efervescência e interesse já passou, com o encerramento das eleições, devendo voltar ao topo das atenções somente daqui a um ano e pouco – quando, esperemos, os extremismos já tenham dado lugar ao bom senso, à conciliação, ao equilíbrio e até à maturidade.
No momento, a pandemia segue monopolizando as preocupações, as quais não se resumem apenas à perda precipitada de vidas, como também o agravamento da crise econômica, que sequer chegou a ser minimizada quando surgiu a Covid-19.
Para ambas as calamidades, não obstante, há uma mesma solução: a vacinação! E aí é que se pontua o título propositadamente provocativo do texto: observando-se outros municípios ainda gravemente afetados pelo negacionismo, cabe questionar se Tatuí está seguindo para a tal luz do fim do túnel? Será?
Ou, de maneira inacreditável, estaria prestes a pular no abismo, embora sem enxergá-lo, por conta de uma venda ideológica tão insensata quanto mortífera? A dúvida aqui é posta devido à enquete semanal promovida por este jornal em seu portal de notícias, o www.oprogressodetatui.com.br, em cujos números antecipa-se uma catástrofe.
Realizada desde o sábado da semana passada, 9, a pesquisa, já no meio desta semana, indicava que praticamente um terço dos tatuianos não pretendia se vacinar.
Claro, a questão busca apenas vislumbrar uma amostra do que se encontrará mais à frente, quando a campanha estiver em ação, o que se espera ainda para 2021, sabendo-se estar o Brasil na rabeta do combate ao novo coronavírus em termos mundiais.
O mais curioso desse resultado – além do aspecto tétrico, naturalmente – é o fato de já ser patente que a crise financeira, enormemente agravada pelas necessidades constantes de “inflexibilização” do convívio social, não será mitigada sem o retorno “normal” das atividades econômicas em geral.
Portanto, não há qualquer sentido em se posicionar contra a vacinação, mesmo para aqueles que não se importam com a real possibilidade da morte prematura de seus pais e avós ou os dos demais.
Isto é quase tão aterrador, aliás, quanto a própria letalidade do novo vírus, porque seria natural esperar um mínimo de sensibilidade para com os mais vulneráveis.
No entanto, até a tão preciosa empatia parece encontrar-se em vias de extinção junto a significativa parcela de pessoas – seja porque já perderam seus entes queridos mais longevos e nada se importam com os dos outros, ou porque, talvez, carreguem mesmo coraçõezinhos azedos e peludos…
Uma única justificativa para a recusa denota algo menos insensato, que seria o grau de suposta baixa eficácia “global” da CoronaVac em particular, estimada em 50,38%.
Porém, nem isto é verdade, lembrando ser a imunização da maioria das vacinas que todos tomam usualmente – como a da gripe – tão eficaz quanto a do Instituto Butantan.
E, de início, já é preciso diferenciar os apontamentos de eficácias distintas, entre “global” e “clínica” – algo que o governo de São Paulo não fez, por pressa inadvertida em anunciar o imunizante ou por questões políticas – o que nada importa para a população.
Interessa é que, diante das até agora “amostras pagas” que o governo federal adquiriu do consórcio Oxford-AstraZeneca – em quantidade irrisória para o Brasil (“inicialmente”, 2 milhões de doses para uma população de 161 milhões, que teria de receber duas aplicações) -, está claro que o imunizante a cobrir o país será mesmo a CoronaVac.
Assim, diferenciar as eficácias “global” e “clínica” implica em tranquilizar e, por conseguinte, estimular a maior adesão possível da população junto à futura campanha.
“Global”, no caso, envolve o número de pessoas submetidas à vacina e que deixaram de desenvolver a doença – praticamente a metade, no caso. Esse índice, inclusive, corresponde ao mínimo exigido pela Organização Mundial da Saúde para a aprovação das vacinas contra a Covid-19.
Já a eficácia “clínica”, anunciada antes da “global” pelo Butantan (aí o erro de “comunicação”), indicava outras porcentagens, mais animadoras, o que acabou gerando certa decepção – injustificada, mas real.
Essa efetividade distinta, contudo, é extremamente positiva. Ela apontava os desfechos secundários do estudo clínico do imunizante, entre os quais houve eficácia de 78% nos casos leves da doença e de 100% nos moderados, nos graves e nas internações.
Isto implica, em números, à constatação de que, entre 4.653 vacinados, apenas 85 acabaram infectados. Contudo, somente sete entre esses desenvolveram algum sintoma – “leve”, no caso, assinalando a eficácia de 78%.
Por sua vez, em meio a esse montante de impactados pelo novo vírus, nenhum dos que haviam sido vacinados precisou de internação, tampouco teve sintomas graves, sequer moderados. Ou seja, por este aspecto, a CoronaVac obteve 100% de eficácia – literalmente, salvando vidas!
Porém, há um detalhe vital: para realmente salvar vidas a partir da eficácia global de 50%, a CoronaVac precisa ser aplicada em praticamente “toda” a população. Só assim garantirá a efetiva eliminação do novo vírus, por meio da chamada “imunidade de rebanho”.
Só isso já bastaria para garantir total adesão não só da população em geral, mas de toda a politicalha, independentemente da janelinha ao lado da qual estejam sentados, à esquerda ou à extrema-direita, vendo as vítimas se acumulando no meio do caminho, já a ultrapassar as 205 mil.
Mas, como se não fosse suficiente, esta semana, o Brasil tem testemunhado, em Manaus, a encenação real de um filme de terror, em que pessoas morrem por asfixia!
E por quê? Porque não há oxigênio para atender aos pacientes entubados – e tudo diante da empáfia e empurra-empurra das autoridades de alto a baixo do país.
Somente nesta quarta-feira, para se ter ideia do horror, houve 198 sepultamentos (seis vezes mais que a média de Manaus), com filas de corpos diante de cemitérios…
É urgente uma postura minimamente humana, que cada um procure se colocar na condição de um cidadão vendo seus pais, seus avós ou pessoas queridas morrendo por falta de ar! Não importa que não seja em Tatuí, são seres humanos!
Em resumo, apurar que, pelo menos por ora, um a cada três tatuianos não pretende se vacinar, é mais que inacreditável: é o testemunho dramático de um movimento na direção do abismo, tal um suicídio coletivo! Menos mal que ainda há sanidade neste país, levando a vacinação a ser obrigatória. Resta saber até quando…
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