Seu Justo

Aqui, Ali, Acolá

José Ortiz Camargo Neto *
Frase do dia: Só o amor nos encanta.

Calhou-me ouvir ontem, enternecido, a canção-tema do filme “Love Story”, na voz de Andy Williams. A música trouxe-me o filme, que obteve uma das maiores bilheterias de todos os tempos nos EUA e em outros países. E o filme, que me comoveu tanto na juventude, com seu título singelo (“História de Amor”) remeteu-me imediatamente a Tatuí dos anos 70. Só o sentimento faz dessas coisas. Daí a frase acima: Só o amor nos encanta.

De repente, me vi dentro do Cinema São Martinho, o melhor da cidade, que ficava ao lado do Hotel Del Fiol, vendo, extasiado, “Love Story”. Orientado pelo Zé Nascimento, aguardei o início da sessão, misturando na boca balas de café com punhados de pipoca, uma combinação inigualável. E essa lembrança levou-me a outra… Seu Justo, tema do artigo de hoje.

Seu Justo era um homem moreno, humilde, baixinho, que se vestia de branco com uma touca branca na cabeça, e vendia pipocas em frente do cinema. Ele era pai do Nivaldo, grande amigo, que trabalhava na tipografia do Progresso.

Não sei até hoje o nome dele, apenas que era Justo.

Todos os dias, por anos e anos, seu Justo vinha da parte baixa da cidade, perto do Conservatório, e subia a rua 11 empurrando seu carrinho brilhante de alumínio. Sempre com um sorriso nos lábios, cumprimentava todos que passavam. Estacionava o carrinho na calçada da praça em frente do cinema. E ali trabalhava, sempre cordial e com expressão de bom homem. Quando a gente pagava a pipoca, ele devolvia o troco até os últimos centavos. E dizia, com seu sorriso tímido: “Justo!”

Interessante essa palavra que escolheu: Justo. Poderia dizer: “Certo”, “Aqui está seu troco”, ou algo assim. Mas dizia apenas: “Justo”. Penso ser a palavra que ele mais apreciava, por ser ele mesmo um homem correto, justo, que, com seu trabalho humilde, persistente, contínuo, sustentou numerosa família.

Ah, se todos fossem como seu Justo! O mundo seria outro!
O cinema São Martinho sumiu, o Clube Recreativo, onde dançávamos em bailinhos maravilhosos, também desapareceu. E nunca mais vi seu Justo. Com toda certeza, está do outro lado, feliz da vida, com pessoas justas e boas como ele.

Sempre com seu sorriso, seu ar humilde e honesto, dizendo a todos que encontra: Bom dia, Boa tarde.

E deixando, por onde passa, um som de música no ar…

* Jornalista e escritor tatuiano, terapeuta psicossocial e professor de literatura e redação nas Faculdades Trilógicas Keppe e Pacheco (Fatri).