Ressaca eleitoral em Tatuí

Em Tatuí – como de resto no Brasil -, divergências sempre marcaram o cenário político, com mais ou menos virulência conforme as peculiaridades de cada momento. Em raras ocasiões, contudo, o relevo de extremismo e da não rara violência esteve tão evidente.

A propósito de falsas ideologias – as quais a grande maioria dos “seguidores” partidários sequer tem noção do que se trata, pela ausência da leitura, na vida toda, de algum único livro sobre política -, o que se busca mesmo é o poder, seja pela via direita ou esquerda. Tanto faz.

Esqueceu-se, a bem da verdade, de que a “virtude está no equilíbrio” – o qual, neste caso, bem poderia ser traduzido como “centro”: um centro de ideias, de conciliação de propostas, de desejos comuns, de necessidades reais e direitos legítimos.

Contudo, como grande parte da nação crê estar se informando ao ler títulos de postagens em redes sociais (e nada mais!), esse imenso contingente segue, ainda que involuntária e despercebidamente, servindo a interesses nada republicanos, tampouco democráticos e menos ainda justos.

Claro, neste caso, justos do ponto de vista da justiça social, cujo objetivo maior seria, de fato, beneficiar a população como um todo, indistintamente, o que, por sua vez, nunca seria possível em um país rachado ao meio – esse do “lado de cá” e “lado de lá”.

Ou seja, muita gente pensa estar sendo patriota, agindo pelo bem do país, quando, na verdade, pode estar depositando seu voto em um Brasil ainda mais dividido, extremista e, por consequência, injusto e violento.

Mas, afinal, sendo todo grande expoente da política minimamente informado e inteligente (embora muitos não o pareçam), interessa uma pergunta: se sabem que o país será ainda mais prejudicado com esse racha hipoteticamente ideológico, por qual motivo seguir estimulando a discórdia?

Para quem teve oportunidade de folhear alguma coisinha de biblioteca, a resposta é bem tranquila: porque alguns só prosperam no caos… E se o desespero acontece em atoleiro de esquerda ou direita, tanto faz, novamente. Estão aí – na realidade de hoje e nos livros de história – a Venezuela de Hugo Chaves e a Alemanha de Hitler para o provar.

Nenhum desses chamados “líderes carismáticos” chegariam ao poder se então não estivessem seus países aterrados em crises profundas, sentidas nas mais variadas instâncias – não apenas na economia, inclusive.

Por sua vez, a ênfase em “ideologia” justifica-se pela verdade de esse conceito ter sido simplesmente banalizado, através de infinita repetição e praticamente nenhuma explicação, tampouco compreensão.

Não interessa a semeador do caos, de fato, debater e esclarecer o que vem a ser, afinal, comunismo e nazismo, para citar apenas duas “ideologias”, as mais “pops” destas eleições.

Mas, por quê? Porque isso, na prática, poderia despertar boa parte da população, diminuindo-se a previsão de votos de “cabresto ideológico”. A mesma lógica, a propósito, vale para o anterior Bolsa Família, atual Auxílio Brasil.

Antes, o extremismo de um determinado espectro “ideológico” chamava o programa de distribuição de renda de estímulo à vagabundagem; agora, mudou tudo. Passou a ser superbacana, e não mais instrumento de compra de voto…

Não é explícito que o filme – tal um pornô dos mais toscos – não consegue esconder nada do que mais importa? Qual seja, um figurino ideológico de cor diferente, embora mais que diminuto, com as “vergonhas” à mostra, em meio ao mesmo roteiro preguiçoso e oportunista de sempre.

Outra semelhança nada animadora, embora real, tem a ver com a tal corrupção… Ah, essa corrupção!… Há quem, de coração, com toda a sinceridade, enxergue diferenças, enquanto outros observam que a compra de deputados com dinheiro de empresa (mensalão) ou dinheiro direto dos cofres públicos (orçamento secreto) não aponta para grande diferença…

Mas, aí, sobra o quê? Talvez, resgatar o bom e velho conselho de que é melhor prevenir que remediar. Assim, seria por demais importante, para a sustentação de um Brasil menos macabro e injusto para as futuras gerações (aos filhos e netos dos eleitores de hoje), que se reconhecesse o seguinte: a democracia é como a saúde da gente, algo que se dá valor somente quando se perde… Antes da dor, portanto, cuidar é preciso!

Prova das dores causadas pela falta de conciliação pode ser constatada aqui mesmo em Tatuí, que não conseguiu eleger nenhum deputado e perdeu o único representante local.

Independentemente de suas propagadas ideologias e intenções, é difícil acreditar que qualquer tatuiano não entenda ser importante ter pelo menos um parlamentar o representando na Câmara Federal ou na Alesp, em São Paulo.

Óbvio que todos têm o direito a se candidatar, sendo a disputa, sobretudo, algo sadio à própria democracia, mas o bom senso levaria a crer que as chances diminuem na mesma proporção em que aumenta o número de postulantes…

Neste ponto, ainda que somente por um aspecto em particular – sem desconsiderar os demais, cujo maior seria, certamente, a vitória de algum dos tatuianos -, está o fato de as eleições nacionais servirem como termômetro às municipais.

Ninguém é ingênuo neste sentido, mesmo aqueles que não praticam a política. Não por acaso, isto em vista, o jornal O Progresso de Tatuí já havia preparado gráfico para apresentar ao leitor um recorte em meio à votação geral dos candidatos, pelo qual os votos estritamente alcançados na cidade seriam claramente identificados. O motivo é óbvio, podendo ser materialmente observado ali diante da UPA, no aprazível bairro Junqueira.

Nesta direção, entre os oito candidatos locais a deputado federal ou estadual e que efetivamente realizaram campanha em Tatuí, José Guilherme Negrão Peixoto (Guiga Peixoto), do PSC (Partido Social Cristão), e Alessandra Vieira de Camargo Teles (Alessandra Gonzaga), do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), foram os que mais somaram votos no geral e, particularmente, na cidade.

Alessandra concorria a uma vaga na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) e obteve 23.111 votos somente em Tatuí (38,85% dos válidos). No estado paulista, conquistou 45.002, o que corresponde a 0,19% dos válidos.

Guiga, por sua vez, que buscava a reeleição ao cargo de deputado federal, recebeu 14.001 votos somente em Tatuí (23,27% dos válidos). No estado, somou 54.849, equivalentes a 0,23% dos válidos.

Mesmo tendo aumentado a votação que o elegera em 2018, quando obteve 31.718 votos, não conseguiu assegurar um novo mandato, embora tenha garantido a suplência em seu partido.

Ah, só para não esquecer a receita que nunca perde a validade por ser eficaz frente a todos os males, inclusive contra as autocracias: é melhor prevenir que remediar, mesmo! Por ora, entretanto, é assimilar a ressaca de votos que não tem como não se concluir em certa dor de cabeça municipal pela ausência de representatividade.