Recuerdos de Ypacaraí­





O turismo compreende o conjunto de atividades realizadas pelas pessoas durante suas viagens e estadias em locais diferentes daqueles de seu entorno habitual, deslocamentos com objetivo de descanso, ou por motivos sociais ou culturais. Além da finalidade de lazer, também existe o que se chama turismo de negócios, viagens por razões de negócios, além de outros motivos.

A indústria do turismo, nos dias atuais, movimenta a economia de muitos países por todo o mundo, contando com o turismo de massa, quando um grupo de pessoas é juntado por um operador turístico, ou o turismo individual, quando os viajantes decidem suas atividades e itinerários sem a intervenção desses operadores.

Apesar de que esse tipo de viagens turísticas surgiu ainda no século 19, como consequência da Revolução Industrial, que permitiu a criação de novos meios de transporte, o caso que relato aqui não é tão antigo, pois aconteceu no início da década de 1980, quando um grupo de tatuianos viajou para conhecer Assunção, capital do Paraguai.

A excursão, organizada pelo Odair Leite de Almeida, conhecido como Odair da Sorocabana, lotou um ônibus de tatuianos interessados em conhecer um pouco da cultura desse país vizinho.

Encontraram-se, no ônibus, o Edson “Padre” Kodaira e o senhor Mateus da Silva Fiusa, músico tatuiano carinhosamente chamado de Capitão, que viajava com sua esposa Celia e a filha Marisa. Estiveram juntos nessa viagem por um simples acaso, mas o destino quis que, alguns anos depois, Edson se tornasse parte dessa família tatuiana, casando-se com Marisa.

A viagem até Assunção transcorreu sem problemas, e o pessoal pôde conhecer um pouco de seu povo, da arquitetura, e aproveitaram para fazer compras. Momentos alegres. A felicidade é isso: momentos felizes. Todos estavam felizes no passeio.

Na volta, o trajeto incluiu o Parque Nacional de Ypacaraí, com seu famoso lago. Ah, todos quiseram conhecer, mas para o Mateus, clarinetista e saxofonista, que participava de todos os eventos musicais de Tatuí, ao saber que iam passar no Lago de Ypacaraí, parecia ouvir a letra da música “Recuerdos de Ypacaraí” em seus ouvidos: “Una noche tibia nos conocimos / Junto al agua azul de Ypacaraí / Tú cantabas triste por el caminho / Viejas melodías en guaraní…”

Foi com grande entusiasmo que desceu do ônibus para conhecer o local… a melodia não parava de soar em sua cabeça.

Encantado com a paisagem, fez um comentário qualquer com uma mulher que ali estava, que lhe contou, em espanhol, que ela e o marido viajavam do Chile para conhecer o Rio de Janeiro. Logo chegou o marido e conversaram longamente.

Embalado pelo ambiente amigável e pela melodia que não cessava de soar em sua cabeça: “Y con el embrujo de tus canciones / Iba renaciendo tu amor en mí / Y en la noche hermosa de plenilúnio / De tus blancas manos sentí el calor / Que con tus caricias me dio el amor…”

Mateus, educadamente, convidou o casal para passar também em Tatuí, para conhecer a cidade, e lhe deu seu endereço. Pouco tempo depois, retomaram a viagem de volta ao Brasil, sem qualquer problema. Foi realmente um belo passeio.

Cerca de duas semanas depois de retornarem, já em Tatuí, Edson encontrou com Mateus na Praça da Matriz, percebendo, pela sua fisionomia, que algo errado estava acontecendo.

– O que aconteceu, seu Mateus? Está me parecendo preocupado! – Edson perguntou, intrigado.

– Ah, Edson, você não vai adivinhar! Sabe aquele casal de chilenos que conhecemos lá no lago de Ypacaraí? – respondeu.

– Lembro-me, sim! – disse Edson.

– Pois faz quatro dias que estão em minha casa, dormindo, tomando café da manhã, almoçando, lanche da tarde, jantando e tomando banho como se estivessem em um hotel de pensão completa… e parece que não estão com pressa de ir embora! – desolado, Mateus explicou.

Depois dessa, Mateus não quis mais nem ouvir e nem mesmo tocar a danada “Recuerdos de Ypacaraí”…