Da reportagem
O anúncio do rompimento de contrato com pelo menos 50% dos professores monitores do Conservatório Dramático e Musical “Dr. Carlos de Campos”, de Tatuí, feito pela Sustenidos Organização Social de Cultura, gestora da instituição, repercutiu novamente no Poder Legislativo.
O anúncio foi feito na quarta-feira da semana passada, 29 de setembro, em reunião virtual promovida pela diretoria da OS com professores da escola, cujo áudio vazou e foi compartilhado em aplicativo de mensagens.
Além de matérias protocoladas pelo presidente da Câmara Municipal, Antonio Marcos de Abreu (PSDB), relacionadas ao tema, a maioria dos parlamentares subiu à tribuna, durante as sessões ordinária e extraordinária, manifestando-se contra a medida anunciada pela OS.
Os documentos de Abreu são direcionados ao governador João Doria, ao presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, deputado estadual Carlão Pignatari (PSDB), à liderança do PSDB na Alesp e ao prefeito Miguel Lopes Cardoso Júnior.
Os quatro requerimentos solicitam que eles se esforcem para que o Conservatório de Tatuí seja mantido “na cidade e em pleno funcionamento”, com a mesma estrutura de alunos, cursos, pessoal e estrutura física.
As matérias relembram existir um acordo entre o município, a Secretaria de Desenvolvimento Regional do Estado de São Paulo e deputados, a partir do qual foram destinados R$ 3 milhões ao orçamento do Conservatório de Tatuí, a fim de que cortes e dispensas de funcionários não ocorressem.
De acordo com os requerimentos, a medida divulgada pela OS “anuncia o fim de um dos maiores orgulhos de Tatuí”. “Nós já perdemos muitas coisas no município e não podemos perder, de maneira nenhuma, o Conservatório”, reforçou Abreu.
Para o presidente da Casa de Leis, “a intenção da OS é de, aos poucos, acabar com a instituição”. “É isso que estou enxergando: devagar, cada vez mais, estão tirando as coisas boas que havia no Conservatório”, declarou o parlamentar.
A ação de Abreu foi elogiada por alguns parlamentares, incluindo Cláudio dos Santos (PSL). Segundo ele, o Executivo deve cobrar de deputados, secretários “e de quem mais seja necessário” que não ocorra o “derretimento” da instituição. “Seria um prejuízo muito grande, pois praticamente deixaríamos de ser a Capital da Música”, afirmou Santos.
Ainda durante a sessão ordinária, Micheli Cristina Tosta Gibin Vaz (PP) também se colocou à disposição para fazer parte da mobilização.
“Tatuí é a Capital da Música, e não podemos perder esse título. Já perdemos tantas outras coisas, como o Tiro de Guerra e o IML (Instituto Médico Legal), e não dá para perder mais”, destacou.
Após solicitação de Abreu, ao término da sessão ordinária, João Éder Alves Miguel (MDB), Fábio Antônio Villa Nova (PP) e Cíntia Yamamoto Soares (PSDB), membros da Comissão de Constituição, Justiça e Redação, emitiram os pareceres aos requerimentos, liberando para que fossem votados durante a sessão extraordinária.
Na reunião complementar, alguns vereadores revelaram ter sido alunos e outros relataram ter filhos e parentes que também estudaram no Conservatório, garantindo que o período de estudos na instituição “foi fundamental para o desenvolvimento deles como pessoas”.
Estudante por mais de uma década, com diversos familiares ex-alunos e filho de ex-professor da escola de música local, Villa Nova afirmou que o projeto da Sustenidos – que também administra o Projeto Guri – “está transformando o Conservatório de Tatuí em um ‘Projeto Gurizão’”.
O vereador José Eduardo Morais Perbelini (Republicanos) relembrou que, apesar do título de Capital da Música, Tatuí perdera a Banda Lyra e a Associação Pró-Arte Tatuí. Ele pediu mais “sensibilidade” do governo estadual, lembrando que a existência da instituição foi o principal argumento tatuiano, usado na Alesp, para reivindicar e receber o título de MIT (município de interesse turístico), em 2017.
“As pessoas não vêm até a cidade por causa da Feira do Doce ou da Igreja Matriz, é por causa do Conservatório de Tatuí”, complementou o parlamentar Paulo Sérgio de Almeida Martins (PRTB).
Classificando a instituição como “fábrica de talentos” e “tesouro enorme”, Renan Cortez (MDB) reforça a necessidade do posicionamento do Legislativo a favor da escola.
No entendimento dele, “o Conservatório de Tatuí possui relevância que transcende o município e precisa receber novos investimentos, ao invés de cortes”.
Eduardo Dade Sallum (PT) destacou que, ainda no ano passado, ele já alertava sobre o que chamou de “desmonte”, que a Sustenidos realizaria na instituição tatuiana.
No entanto, o vereador relativizou a atuação da OS, classificando-a como “executora do serviço”, colocando o governador João Doria e o secretário estadual da Cultura e Economia Criativa, Sérgio Sá Leitão, como os reais responsáveis pelos cortes.
Sallum ressaltou a mobilização realizada, em dezembro de 2020, quando a Sustenidos teria de absorver um corte de R$ 6 milhões no orçamento de 2021 da instituição em relação ao do ano anterior, movimento que possibilitou a “reposição” de R$ 3 milhões.
“Teve vídeo que fizemos para a internet com mais de 60 mil visualizações. A mobilização reuniu artistas de todo o estado de São Paulo na defesa do Conservatório de Tatuí”, salientou o parlamentar.
Como argumento de que cortes na instituição seriam um planejamento do governo estadual, Sallum sustentou que do orçamento do Conservatório de Tatuí, entre 2010 e 2021, calculando a inflação, sofreu diminuição de 95%.
“Com um arrocho de 95%, nós dividimos a escola de música pela metade. Agora, eles querem dividir a metade da metade”, declarou. “E os trabalhadores que dão a vida pelo Conservatório? E como vai ficar Tatuí, a Capital da Música, sem escola de música?”, completou.
Ele ainda pediu união da Câmara Municipal e da sociedade tatuiana para ir à Alesp contra os cortes anunciados pela OS. “Nós temos de protestar para salvar o Conservatório de Tatuí!”, acentuou Sallum. “Nós não iremos nos calar”, concluiu o vereador Maurício Couto (PSDB).