Parceria local resulta em ‘curso especial’





Kaio Monteiro

Alunos atendidos pelo Cosc participaram de atividades de encerramento de curso de software para programação 3D que incentiva criatividade

 

Mediante parceria do Cosc (Centro de Orientação e Serviços à Comunidade) com a Faculdade de Tecnologia “Professor Wilson Roberto Ribeiro de Camargo”, alunos de bairros carentes tiveram a oportunidade de ter aulas de diversas matérias, além de adquirirem conhecimentos por meio de um programa inovador chamado “Alice”.

Cerca de 20 alunos do Cosc, de 14 a 16 anos, participaram de aulas ministradas por estudantes da Fatec. Na quarta-feira, 20, aconteceu a última apresentação do curso, quando os adolescentes montaram animações em três dimensões, produzidas por meio do software Alice.

Na ocasião, os alunos montaram um “cinema” em uma das classes da unidade de ensino. Também ofereceram refrigerante e pipoca aos assistidos do Cosc para a “ambientar” a sessão de vídeo.

Além da programação, as aulas oferecidas por meio da parceria contemplaram, ainda no primeiro semestre deste ano, matemática, gramática e aula de hardware.

Na segunda metade do ano, os adolescentes tiveram contato com o programa Alice. “Ainda é pouco contato com o software, mas a grande dificuldade deles é no inglês”, afirmou a diretora geral do Cosc, Sueli Souza Brisola.

De acordo com ela, uma das metas estipuladas para o ano que vem é viabilizar a contratação de algum professor da língua estrangeira para manter aulas de inglês aos adolescentes.

Flávia Batista Pereira, 15, é uma das alunas do Cosc e participou das aulas com o software Alice. O contato com a informática, por meio da parceira com a Fatec, já despertou interesse profissional na adolescente, que pretende trabalhar com informática.

Ela achou interessante o programa por ter uma didática diferente, “mais divertida”. “Os movimentos são muito interessantes. As atividades mostram que nós podemos melhorar, e cada vez mais nos incentivam a estudar. Aprendi várias coisas interessantes”, destacou.

Adriana de Fátima Martins de Almeida, 29, foi uma das instrutoras do curso do software Alice. Ela afirmou que a Fatec ofereceu treinamento para os estudantes que instruíram os adolescentes do Cosc.

“Esse software é incrível, faz com que o adolescente aprenda de uma forma intuitiva. Isso aumenta a autoestima deles. Os adolescentes veem que conseguem produzir algo no computador”, contou.

De acordo com Adriana, o software Alice pode ser utilizado como instrumento de ensino em diversas matérias, como português, matemática e até em inglês. Observou, ainda, que o programa é usado por 30% das escolas dos Estados Unidos em todos os níveis de ensino.

A aluna da Fatec destacou que o trabalho com o Cosc está “agregando muito à carreira profissional dela” e que a conclusão de curso dela será relacionada ao Alice.

“É incrível, também utilizo o mesmo programa com crianças autistas. Com os adolescentes do Cosc, é maravilhoso, pois eles reproduzem o mundo deles”, reforçou Adriana.

O software Alice foi desenvolvido na Universidade Carnegie Mellon, localizada na cidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos. O programa utiliza plataforma intuitiva, a qual facilita o desenvolvimento de animações e personagens de jogos.

O professor da Fatec Osvaldo D’ Estefano Rosica foi o responsável por trazer o software à unidade de ensino tatuiana. O docente informou a O Progresso que representantes da universidade americana entraram em contato com o diretor de uma escola particular da cidade, o qual apresentou o programa a ele.

“Com o software, a criança tem a oportunidade de reinventar sua vida, de utilizar a tecnologia corretamente, não apenas dedilhar o teclado virtual do celular”, comentou Rosica.

Segundo ele, a utilização do Alice pelos alunos do Cosc já atingiu resultado “violento”. Depois dessa experiência, pioneira na Fatec, ele revelou que será possível produzir artigos científicos e estudos que compravam o benefício dessa tecnologia para o aprendizado.

O professor ainda explicou que pretende fazer com que o Alice seja integrado ao ensino público do município. O projeto, conforme informação do professor, ainda não foi apresentado à secretária da Educação, Ângela Sartori.

A ideia de fazer parceria com a Fatec, para a realização de atividades pedagógicas na estrutura física da unidade tatuiana, partiu da diretoria do Cosc.

“Eles que trouxeram a necessidade, pois os alunos dos 14 aos 16 não tinham atividades e eram facilmente ‘capturados’ pelo mundo das drogas”, descreveu Rosica.

“Somos uma instituição financiada pela sociedade, nossa subsistência vem dos impostos. Então, nós comungamos com a ideia de contribuir com esse processo educativo”, disse o professor.

Sueli contou que as tratativas para a parceria começaram em dezembro de 2012. Afirmou que, inicialmente, pediu a realização de palestras ou dinâmicas.

No entanto, Rosica informou que poderia oferecer mais. “Quando ele começou a falar do espaço, dos professores e do apoio pedagógico, a coisa foi crescendo”.

A diretora-geral confirmou que os adolescentes sentem-se valorizados por ter aulas numa escola de ensino superior. Atualmente, 18 alunos formam o grupo do Cosc. No início, eram 28.

“Alguns saíram pelo caminho. Mas, isso é normal em todo local. Eu acredito que esse número é excelente”, relatou Sueli.

Ela contou que o começo das atividades foi “meio desanimador”, porque os alunos não mostravam interesse, pois “não imaginavam o quão importante seria esse projeto para a vida deles”.

A solução encontrada pelo Cosc foi conversar com os pais dos adolescentes, lembrou Sueli. “Na primeira reunião nós chamamos os professores da Fatec, que estão diretamente envolvidos nas atividades”.

No entanto, falou a professora, os alunos ficaram incrédulos quando entraram pela primeira vez no prédio da faculdade. Segundo Sueli, eles diziam: “Imagine, aqui é lugar para ‘boy’, aqui não é lugar para a gente”.

A diretora do Cosc também ficou impressionada com a melhora no comportamento da turma após o início das atividades na Fatec. “Hoje, eu percebo que eles estão mais calmos, sempre me perguntam se eu posso ajudá-los com o emprego”.

Sueli informou que o Cosc mantém cadastro com os dados pessoais dos alunos para que ela possa entrar em contato com o Ciee e com o Senai para colocação dos adolescentes no mercado de trabalho.

“Tenho parceiros no comércio, que também empregam nossas meninas e meninos. Chega a época de Natal, eles já estão recebendo ofertas para trabalhar”, indicou Sueli.

Cosc

O Cosc, segundo a diretora-geral, é uma ONG (organização não governamental) com mais de 50 anos de fundação. Após 40 de atividade assistencialista, atendendo famílias carentes, a diretoria achou necessário também trabalhar com crianças e adolescentes.

O principais atendidos pelo Cosc são moradores do vila Esperança e, principalmente, do Santa Rita – porque, explicou Sueli, era o bairro mais “problemático” na época.

“Na nossa sede, no Santa Rita, temos 90 alunos. Atuamos com os jovens justamente por ver muitos pela rua. Assim, percebemos que o problema com as drogas e prostituição começava cedo”.

No início, destacou Sueli, a forma de ensino era bem lúdica, trabalhando com desenhos e chamando os alunos fora dos períodos da escola normal.

“Hoje, estamos mais bem estruturados. Tem todo um programa de ensino dado durante o ano, tanto da parte socioeducativa, de moral, ética, cidadania, aulas de judô, dança. Também temos uma parceria com o Sesi”.

Os jovens, de acordo com Sueli, ficam de quatro a seis anos no projeto. As atividades na unidade do Santa Rita são ministradas a crianças de 10 a 14. Os últimos dois, para adolescentes de 14 a 16, agora devem ser realizados na Fatec.