Moradores do Inocoop entram na Justiça





Arquivo O Progresso

Rachaduras e trincas são vistas nos quintais de casas no Inocoop; moradores contestam anália

 

Moradores do Conjunto Habitacional “Amaro Padilha” acionaram a Justiça por temerem “explosão” por suposto vazamento de gás metano ou desmoronamento. Ao todo, nove proprietários de residências do Inocoop fazem parte de representação apresentada junto ao MP (Ministério Público) em novembro passado.

O grupo paga R$ 100 por mês para um corpo de advogados e cobra na Justiça um laudo oficial sobre a situação dos imóveis e a resolução de problemas que os moradores temem se tornar “risco de morte”.

Conforme Márcia Martins Toledo, as casas apresentam fissuras no solo, marcas de afundamento do terreno e “sons ocos em várias partes”. Também há relatos de vazamento de gás metano.

A O Progresso, Márcia disse que os moradores discordam de análise preliminar divulgada pela Prefeitura no final da semana passado. O Executivo informou, por meio de nota, que “a população do bairro pode ficar tranquila”.

A declaração tem como base vistoria realizada por técnicos da Coordenadoria Estadual da DC (Defesa Civil) e do Instituto de Geologia de São Paulo.

Eles estiveram no bairro, dia 13, para verificar a situação de casas da rua Erasmo Campos Sá. No final de 2014, os proprietários relataram aparecimento de trincas, rachaduras e afundamento de piso em três imóveis.

De acordo com a Prefeitura, a preocupação dos moradores está relacionada ao fato de que o bairro teria sido construído sobre uma área que abrigou depósito de lixo. O Executivo informou que o Inocoop foi entregue à população em 1991.

Destacou, ainda, que a análise preliminar identificou que “não haverá necessidade de interdição ou desocupação das casas”. A razão é que os técnicos que estiveram no local não identificaram comprometimento das estruturas.

A Prefeitura ressaltou que os imóveis haviam sido vistoriados em outubro de 2014. Entre os dias 14 e 15 daquele mês, membros da DC de Tatuí e da Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) estiveram nas casas.

Na ocasião, eles produziram relatório que apontava não haver “abalo estrutural que viesse a comprometer tais imóveis”. Ainda segundo a Prefeitura, os técnicos e engenheiros não detectaram presença de gases, embora tivessem observado “rachaduras e fissuras em pisos de algumas casas”.

“Logo na primeira vistoria, detectamos que não havia motivo para alarde. Porém, solicitamos a presença de geólogos especializados para dar maior tranquilidade à população, já que o assunto chegou até a imprensa e gerou certo pânico entre os moradores”, declarou o coordenador da DC, João Batista Alves Floriano.

Ele também acompanhou a inspeção deste mês nas casas com suspeitas de danos. A ação contou com participação dos geólogos Jair Santoro e Vital Yuti e do assistente técnico de pesquisas Eduardo Echmid Braga, do Instituto Geológico.

Representando a DC do Estado, estiveram no local: a primeiro-tenente da PM Cíntia Pereira Torres Oliveira; o capitão Alberto Luiz da Silva; o major do Corpo de Bombeiro Miguel Ângelo de Campos; o comandante do CB de Tatuí, Marcelo do Espírito Santo; e o tenente Vinicius dos Reis.

Também acompanharam as vistorias o secretário municipal de Governo, Segurança Pública e Transportes, Onofre Machado da Silva Junior, a arquiteta Claudete Maria Fiúza e o engenheiro civil Luiz Antônio dos Santos.

Conforme a Prefeitura, o Instituto de Geologia deverá emitir parecer técnico detalhado sobre a análise de solo. A expectativa é de que, por meio do documento, eles possam identificar e pontuar os motivos dos problemas no local.

A análise divulgada nesta semana não agradou aos moradores do Inocoop. Pelo menos um deles esteve pessoalmente na Prefeitura para cobrar explicações.

Márcia afirmou que o grupo aguarda um posicionamento da Justiça para saber quais providências tomar. Conforme ela, “os proprietários continuam sem saber se as fissuras que apareceram nas residências podem ou não comprometê-las”.

“A Prefeitura sabe que existem problemas e que eles são graves. Aí, diz que tem análise preliminar, mas não emite um laudo oficial”, disse Márcia. “Se a coisa não fosse tão grave assim, nós já teríamos creche ou escolas aqui”, adicionou.

Ela também reclamou do que chamou de “ausência” da Prefeitura. A moradora citou que o bairro é um dos poucos que não receberam “nenhum investimento”. “Faz mais de 20 anos e não somos apoiados em nada”, declarou.

A dona de casa afirmou, ainda, que os problemas na residência dela aumentaram. Em outubro do ano passado, Márcia registrava fissuras no terreno e afundamento de parte do muro do fundo do quintal do imóvel. O alicerce de uma das paredes estava exposto, ficando acima do nível do terreno.

“Minha casa se complicou ainda mais. Afundou e, no meu terreno, tem uma cratera de quase cinco metros de profundidade. Um buraco que não tem fim”, disse.

A moradora contestou a informação de que houve divulgação de laudo preliminar. Conforme ela, os representantes dos órgãos que estiveram nas casas da rua afetada teriam dito que os imóveis “mereciam muita atenção” e pedido uma “sondagem de solo”.

“Então, a preocupação de quem mora aqui e está vendo como as coisas estão e se complicarem continua a mesma”, frisou.

Segundo ela, o caso será discutido na Justiça e envolverá, além da Prefeitura, o governo do Estado e a CEF (Caixa Econômica Federal), que permitiram a construção e o financiamento.

Márcia disse que os advogados estão juntando papeis que poderão auxiliar no processo e na cobrança de responsabilidades.

Ainda de acordo com ela, em decorrência de estresse provocado pela situação, uma das moradoras da rua sofreu um infarto. “Ela precisou ir para Sorocaba e não está nada bem. Tudo porque a nossa situação é incerta”, destacou.

Márcia também afirmou que “todas as casas da rua” tiveram danos. Entretanto, “com medo de desvalorização, alguns proprietários preferem não confirmar os problemas”.

Na residência dela, o afundamento teria provocado um desnível numa das portas. “O que as pessoas estão esperando para que possam resolver nosso problema? Estão esperando uma tragédia?”, questionou.

Além dos custos de reformas emergenciais, a dona de casa reclama que os moradores estão tendo gasto extra. Cada um dos nove representados deverá desembolsar R$ 1.000 para os custos do processo movido na Justiça.

Reclamações

Em outubro, três moradores do bairro juntaram-se na tentativa de obter uma declaração oficial sobre o que estava ocorrendo na região. O terreno onde as mais de 400 moradias foram construídas abrigou um antigo “lixão”.

Por essa razão, as famílias das casas mais afetadas temiam vazamento de metano e, por consequência, uma explosão. O gás não tem cheiro, é altamente inflamável quando em contato com oxigênio e produzido por bactérias que consomem o lixo nas camadas subterrâneas, onde não há oxigênio.

No bairro, o primeiro indício de vazamento apareceu na residência da dona de casa Andréia Sinhorin. O quintal da casa dela apresenta bolhas quando molhado.

Andréia adquiriu a casa há seis anos e pretende vendê-la. Entretanto, precisa de um laudo para que não seja responsabilizada por “problemas futuros”.

Conforme ela, todos os imóveis de numeração par, localizados na rua Erasmo de Campos Sá, têm rachaduras e afundamentos. A maioria deles são fissuras que apareceram nas calçadas, nos quintais, muros e cômodos.

Em 2013, a dona de casa disse que procurou a Prefeitura para se informar sobre o que poderia ter causado o problema. Na ocasião, teria recebido uma resposta que “vem se repetindo”. “Falaram que o bairro tinha sido construído em cima de um aterro sanitário e que a tendência era afundar”, disse.

Na residência de Márcia, o alicerce dos muros do fundo da casa precisou ser refeito pela família. A moradora afirmou que, como a casa dela – e as demais do bairro – foi construída sobre uma base de laje, o imóvel não apresenta rachaduras nas paredes dos lados interno ou externo, mas afundamento.

As duas donas de casa cobram explicações na Justiça, porque já quitaram os imóveis e, em função disso, não têm direito ao seguro oferecido pela financiadora.

Além da situação dos imóveis, elas reclamaram da falta de infraestrutura no bairro. Conforme elas, o Inocoop não tem posto de saúde ou unidade educacional.