Meu gosto pela Bahia

Mouzar Benedito *

Durante muitos anos, como já contei aqui, em todas as férias, qualquer que fosse o meu destino, acabava sempre em Salvador, na Bahia. Ia pro Ceará? Pois, na volta, parava no mínimo uma semana em Salvador. Ia pro Maranhão? Mesma coisa! Até uma ida para a Bolívia acabou resultando nuns dias em Salvador!

Muitas pessoas me perguntavam e perguntam por que esse meu amor pela cidade. Os motivos são muitos. Vou falar de uma das vezes que estava de férias na Bahia.

Eu fiquei hospedado numa república no bairro da Federação. E o último ônibus que ia para esse bairro saía à meia-noite, do centro da cidade. Então, se eu quisesse ir pra farra fora do bairro à noite, tinha esse limite de horário. Senão tinha que fazer uma longa caminhada a pé, pois táxi era raro, além de caro para nós.

Um dia, quer dizer uma noite, peguei esse ônibus da meia-noite, no ponto inicial. O ônibus andou uns 200 metros, o motorista parou e perguntou ao cobrador: “Cadê fulano?”.

O cobrador respondeu que também estranhou a ausência dele. O motorista ficou de pé voltado para os passageiros e falou: “Olha, gente. O Fulano é um rapaz que trabalha numa padaria aqui perto. Se ele não pegar este ônibus, vai ter que dormir por aqui e a família dele vai ficar preocupada, então vou voltar ao ponto…”.

Ninguém reclamou. Ele deu uma volta na praça e voltou ao ponto inicial, quando um rapaz, aparentando uns 16 anos de idade, chegava lá, apressado. Pegou o ônibus, agradeceu, e a viagem continuou.

Achei muito legal o motorista se interessar por ele e ninguém ter reclamado. Em muitos lugares, alguns passageiros iriam protestar, dizendo que não tinham nada a ver com isso, o rapaz que se danasse. Lá, não.

No dia seguinte, resolvi ir pra casa mais cedo e um ponto antes de chegar ao meu destino, o ônibus parou. O motorista se levantou e foi a um banco, onde um bêbado dormia. Cutucou o sujeito e falou: “fulano, acorda… seu ponto chegou”. O sujeito resmungava e não acordava direito.

Demorou uns cinco minutos para o bêbado se levantar e sair do ônibus. E ninguém reclamou também. Fiquei feliz de ver isso, e pensei: “ô gente solidária!”.

Gostaria que todo lugar fosse assim.

* Escritor, jornalista e contador de causos

Livros do Mouzar Benedito pelas editoras Boitempo, Limiar e Terra Redonda.

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