Mercado Municipal de Tatuí completa 110 anos

Inspirado em trabalhos europeus do século 19, “Nilzo Vanni” é o 2º do tipo no município

Prédio do “Mercadão” possui características europeias do século 19 (Foto: Juliana Jardim)
Da reportagem

Construído em 1914, o Mercado Municipal “Nilzo Vanni”, de Tatuí, completa 110 anos de história na cidade em 2024. Idealizado na gestão do prefeito Cândido José de Oliveira, a arquitetura do prédio é inspirada nos trabalhos europeus do século 19, sendo uma das principais características daquele período os grandes arcos e os tijolos aparentes.

O “Mercadão” – como é conhecido – trata-se do segundo mercado municipal de Tatuí, tendo sido o primeiro inaugurado em 1880, entre as ruas 11 de Agosto e Coronel Lúcio Seabra.

Contudo, esse pioneiro foi considerado impróprio, por não oferecer o “conforto necessário aos mercadores”. Assim, acabou sendo construído o segundo mercado municipal, na rua 7 de Abril, em área de melhor localização e com as edificações necessárias.

Tradicional na cidade, o Mercadão oferece diversidade de produtos, como grãos, hortifruti, roupas e brinquedos, além de abrigar um açougue e pastelarias.

Em 2020, o prédio foi reconhecido pelo Conselho Municipal de Defesa do Patrimônio Histórico e Artístico de Tatuí (Condephat) como patrimônio histórico da cidade. E dois anos mais tarde, em 2022, foi tombado por meio do decreto municipal 22.068/2022.

O pedido de tombamento aconteceu “em virtude da beleza arquitetônica imponente no centro da cidade, de sua importância como espaço de lazer, consumo e relações sociais e afetivas de toda a sociedade local, que abrange um público diverso, de diferentes idades e classes sociais”.

Desta forma, o prédio não pode receber qualquer intervenção que possa lhe descaracterizar a estrutura original. De acordo com o relatório do Condephat deve ser preservada a fachada frontal, situada na continuação da rua 7 de Abril, e a de fundos, no chamado Largo do Mercado.

Além disso, devem ser preservadas as três fachadas da ala esquerda, situadas no prolongamento da rua 7 de Abril (frente), rua 15 de Novembro (lateral) e no Largo do Mercado (fundos), das alvenarias, esquadrias e da cobertura do núcleo central interno.

De acordo com o projeto, a volumetria da edificação e o gabarito de altura da edificação devem ser mantidos conforme o estado atual. Todas as propostas de alteração de cobertura e ou alvenarias das outras partes devem ser aprovadas pelo conselho.

De acordo com o então presidente do Condephat, Antônio Celso Fiúza Júnior, para que um prédio seja reconhecido como patrimônio histórico da cidade, deve-se levar em conta a história do local, além de características arquitetônicas e a preservação de sua memória.

Memória

Popularmente conhecido como “Mercadão”, o local se caracterizou como ponto de encontro entre moradores “da cidade” e da zona rural. A comitiva dos carroceiros agricultores saía dos bairros, como Palanques, Campinho e Água Branca, e seguia até o Mercado Municipal, onde vendiam ou barganhavam frutas, verduras, aves e objetos diversos.

Em razão do longo percurso e da profissão de carreto por meio de tração animal, muito comum até os anos 90, fora construído, na praça Anita Costa, um bebedouro para os animais. Atualmente, ele não existe mais, no entanto, o local ainda é conhecido popularmente como a “Praça dos Cavalos”.

Juvenal Paques de Oliveira ainda tem na memória os domingos nos quais saía do sítio no bairro Campinho, ainda de madrugada, para chegar no Mercadão antes do nascer do sol.

Ele lembra que trazia no “lombo do cavalo” uma gama de frutas, verduras e legumes para vender no Largo do Mercado. E, segundo ele, nunca voltava para casa com a mercadoria.

“Vendia tudo e ainda voltava para o sítio com encomendas para a semana seguinte”, conta. Atualmente, com 87 anos, o aposentado diz ter saudades daquela época e dos amigos que fizera.

“O Mercadão faz parte da minha vida. Tenho muitas memórias boas de lá. Espero que a juventude de hoje saiba o significado que ele tem para Tatuí”, comenta.

Casado há 50 anos com Maria Lúcia de Oliveira, a esposa também afirma ter “boas lembranças” do mercado. “Ainda menina, ia com o meu pai todos os finais de semana para vender galinhas. Adorava brincar enquanto ele trabalhava. E, ao final do trabalho dele, sempre me presenteava com algum brinquedo ou roupa”, lembra.

Com aproximadamente 1.800 metros quadrados, os corredores que remetem à arquitetura do século 19 abrigam cerca 30 comerciantes. Entre eles, está Elizabete Katsuyo, a mais longeva ocupante do “Mercadão”.

“Dona Bete”, como é conhecida entre os fregueses, conta que montou o comércio de hortifruti na década de 70 e que até hoje é de lá que sai a única fonte de renda dela.

“Aqui, foi o meu primeiro emprego. Então, já é a minha casa. As pessoas falam para eu sair daqui, mas não consigo. Parece que finquei o meu pé”, conta.

Há 26 anos no local, Edevaldo Donizete de Jesus começou o comércio dele no mercado vendendo carteiras. E afirma que a banca dele é referência em venda de camisetas esportivas. Ele disse esperar que o comércio passe de geração a geração. “Foi neste lugar onde tudo começou, além de ser parte da história de Tatuí”, salienta.

Ele mostra com orgulho os produtos e comenta que “vendeu muitas camisetas para estrangeiros que passaram por lá”. “Minhas camisetas já foram para o Canadá, Estados Unidos, Colômbia, Chile, Argentina, Noruega, Nova Zelândia. O pessoal que vem conhecer o Mercadão sempre leva uma”, conclui.

Em 1992, o prédio ganhou ampla reforma, quando passou a abrigar o terminal rodoviário (com rota intermunicipal), ainda em funcionamento. A última reforma nas dependências do atual Mercado Municipal aconteceu na administração do ex-prefeito Luiz Gonzaga Vieira de Camargo (2005/2012).

De acordo com a prefeitura, a primeira mudança na estrutura do prédio ocorreu na administração do ex-prefeito Olívio Junqueira (1957/1960). À época, foi incorporada a parte nova, do lado esquerdo de quem olha pela fachada, à construção antiga. A penúltima reforma ocorreu na administração Wanderley Bocchi (1989/1992).