Maior parte das mulheres agredidas acaba retirando queixa em seguida





A maioria das mulheres vítimas de violência doméstica em Tatuí retira as denúncias contra os agressores. Segundo a delegada titular da Delegacia da Mulher, Silvia Fernanda Betti Albiero, aproximadamente 50 ocorrências envolvendo mulheres ameaçadas e agredidas pelos companheiros são registradas por mês, sendo que desse número a maioria retira a queixa.

“O medo de perder a guarda dos filhos, falta de dinheiro e de serem agredidas novamente são os principais fatores que contribuem para tal atitude”, supõe a delegada.

De acordo com ela, há casos em que a mulher chega a registrar mais de uma vez uma ocorrência contra o companheiro, entretanto, por medo, acaba voltando atrás.

“Nós temos um índice muito alto de vítimas constantes de agressões, que são sempre as mesmas. Elas não se separam de seus maridos”, explica.

Silvia aproveita para enfatizar outro fator que contribui para que as mulheres agredidas retirem as queixas: as ameaças dos companheiros.

“Eles usam o que está a seu favor para estimulá-las a não continuaram com a queixa. Na maioria dos casos, os maridos as ameaçam, dizendo que vão retirar a guarda de seus filhos”, esclarece.

A delegada diz que isso ocorre porque, em muitos casos, apenas o homem trabalha e sustenta a família, deixando, assim, a mulher vulnerável.

“Também há casos em que as mulheres retiram as queixas por acharem que a violência não voltará a se repetir, então acabam se sujeitando às agressões”, enfatiza.

Entretanto, há casos em que os papéis se invertem. “Muitas dessas mulheres querem manter relações sexuais com o marido, e eles não querem. Aí, elas recorrem à delegacia e registram queixa por agressão. Depois, a ‘vítima’ pede a medida protetiva para ameaçar o marido”, contou.

Pela Lei Maria da Penha (11.340/06), os juízes podem determinar a execução de medidas protetivas de urgência para não só assegurar o direito da vítima, mas a proteção dela e da família.

O acusado de violência doméstica que descumprir as medidas, como a que obriga o afastamento do lar, proíbe a aproximação com a vítima e exige que restitua a ela bens indevidamente subtraídos, pode pegar até seis meses de prisão.

De acordo com Silvia, os casos mais comuns registrados na Delegacia da Mulher são os de lesão corporal leve e ameaças. Conforme ela, nessas primeiras agressões, “a mulher deve se impor e valorizar a si mesma”.

“Se não quer estar mais casada com aquele marido, separe e procure um advogado. Faça um boletim de ocorrência, mas não fica nesse ‘vai e volta’. Não perca o respeito por si própria”, opinou.

A delegada disse acreditar que os casos mais graves de agressões às mulheres não chegam ao conhecimento dela, pois as vítimas ainda têm medo de denunciar o marido agressor.

Ao contrário disso, a delegada informa que, dos 50 boletins de ocorrências que geram inquérito policial, apenas 5% das mulheres envolvidas realmente se separam dos companheiros.

“O maior problema é que elas retornam com o marido e, o pior, perdem o respeito por seus parceiros. O agressor sabe que veio até a delegacia e não foi preso”.

Silvia contou haver casos de mulheres que pagaram a fiança para libertar o marido, após flagrante de agressão. “Isso é comum. Nós fazemos o flagrante do marido e, no dia seguinte, a mulher retorna à delegacia e diz que pensou melhor”.

Adriana de Oliveira Kirschner, escrivã de polícia, acredita que a mulher agredida que retorna com o marido vive em um ciclo vicioso.

“A vítima que retira a queixa é aquela pessoa que se acostumou com aquela vida, não consegue sair. É um ciclo vicioso. Outro fato é a maneira em que ela foi criada. Ela entende que aquilo faz parte, já que a mãe era agredida pelo pai”, argumenta.

Adriana conta que a Delegacia da Mulher chega a desenvolver um trabalho social e de orientação à mulher vítima de agressões, apesar de trabalhar com registro de ocorrências e prisões.

“Muitas mulheres não querem que seus parceiros sejam presos, apenas orientados. Elas acreditam que, após uma conversa, o agressor possa mudar de postura”.

A escrivã explicou que a delegacia também atua na orientação das partes envolvidas, ajudando com que muitos casais superem as desavenças.

Já a delegacia Silva argumenta que o trabalho de esclarecimento às mulheres vítimas de violência doméstica é muito importante.

“É um trabalho social difícil. Tem muitas mulheres que querem apenas ouvir conselhos, pois vivem um casamento conturbado, às vezes, com infidelidade e desrespeito”, salientou.

Silvia explica que, quando há denúncia, a equipe de investigadores vai ao local, averigua os fatos e, então, encaminha a vítima e o agressor à Delegacia da Mulher.

“Nós acompanhamos a polícia, mas só intervimos com autorização da vítima. O delegado titular de Tatuí, Francisco José Castilho, colabora com a gente, assim como a GCM (Guarda Civil Municipal) e as polícias Civil e Militar”, afirmou Silvia.

A sociedade pode ajudar no combate à violência contra mulheres fazendo denúncias por meio do número 181, ou diretamente na delegacia (rua Cel. Aureliano de Camargo, s/n). A identidade do denunciante é preservada.

Fotos íntimas

Um hábito que vem se tornando cada vez mais comum entre os jovens é compartilhamento de fotos e vídeos íntimos. Mas, esse hábito é perigoso e até criminoso se não houver o consentimento dos envolvidos. E normalmente não tem.

Alguns jovens já chegaram a cometer suicídio, em função desses “vazamentos”, os quais, na maioria das vezes, são propositais. Já existe até um termo para identificá-los: “revenge porn” ou “vingança pornô”.

Com o avanço da tecnologia, esse tipo de crime se tornou algo novo e deve ser enfrentado pela sociedade, conforme Silvia.

“Quem tira esse tipo de foto pode ser exposto a qualquer momento. Muitos acham que vai ficar só entre amigos, mas depois acabam sendo expostos em rede social”, apontou a delegada.

Na ocasião, uma jovem havia procurado a Delegacia da Mulher para denunciar o ex-namorado por supostamente ter vazado fotos íntimas dela na internet.

Segundo a vítima, o “ex” teria publicado as imagens em rede social para ameaçá-la, uma vez que a filha do casal também teria sido envolvida no caso.

De acordo com Silvia, quem tiver fotos expostas pode procurar a delegacia e fazer o registro do caso. Se o autor da postagem for descoberto, ele poderá ser preso.