Imagens sacras de Jesus passam por cuidadoso processo de restauração

Após trabalho de sete meses de restauração, imagem foi devolvida à Igreja Matriz (Foto: Divulgação)
Da reportagem

Há dois dias da Sexta-Feira Santa, a ser celebrada em 2 de abril, a restauradora Vaneska Sagas Carvalho Tucunduva tem atuado durante madrugadas para entregar a imagem de Jesus Morto à Paróquia-Santuário Nossa Senhora da Conceição. O projeto deve ser concluído até o início do Tríduo Pascal e é um dos incontáveis trabalhos que contam com a assinatura da artista.

Ainda neste mês, a restauradora tatuiana entregou outra imagem recuperada, a de Jesus Bom Passos, com aproximadamente 90 anos de existência. O trabalho de restauração, que ainda contou com serviços realizados pela Marcenaria Zalk, levou, ao todo, sete meses para ser concluído.

O processo de recuperação dessa imagem, especificamente, foi iniciado com os trabalhos de marcenaria na cruz e no caixote que compõem a obra sacra. A restauradora revela que os profissionais que atuaram no projeto “passaram apuros” quando retiraram o caixote, pois a imagem “começou a se soltar”. “Quando eles retiraram o caixote, praticamente a imagem desmontou”, afirma.

Conforme a restauradora, a imagem de Jesus Bom Passo estava quebrada e desgastada. A obra precisou passar por dois trabalhos de integração, um feito pela marcenaria e outro por ela, para que fosse reforçada. O trabalho de Vaneska foi feito com cola animal e gesso cré, uma técnica tradicional de restauradores.

Ela afirma que recebeu a imagem sacra com bastante trincas e obteve ajuda do esposo, Luiz Tucunduva, que a auxiliou na parte da modelagem. O apoio foi crucial, pois, sem ele, Vaneska argumenta que não conseguiria entregar a imagem dentro do prazo previsto. “Havia muito serviço a ser feito”, ressalta.

De acordo com Vaneska, a imagem de Jesus Bom Passos já havia passado por restauro, o que tornou o processo de recuperação mais delicado. Como a camada pictórica fora repintada, houve a perda de mais de 70% da pintura original.

Sabendo dessa situação e partindo dela, a restauradora fez uma limpeza mecânica da imagem, encontrando um resto de pigmento. Posteriormente, Vaneska realizou estudo de cores para chegar o mais próximo da pintura original.

As tintas utilizadas durante o processo de restauração são italianas e alemãs, compradas na Casa do Restaurador, em São Paulo. Vaneska explica que os produtos nacionais não permitiriam a recomposição das cores originais.

A restauradora iniciou a carreira no ano de 1997, quando ainda residia no Guarujá. Vaneska atua como voluntária em diversas igrejas do município, recuperando imagens sacras. Ela também realiza restauração de peças particulares.

Vaneska é designer de interiores e produtos, tendo cursado aulas de patrimônio e restauro. É assessora de definição e montagem de ambiente e vitrine. Trabalha com restauro de imagens sacras, desenvolvimento de modelagem, protótipos, “mock-up” (como são conhecidos os modelo em escala ou de tamanho real de um projeto ou dispositivo, usados para ensino, demonstração, avaliação de design, promoção e outros propósitos) e maquetes físicas.

Entre as formações, a tatuiana fez cursos do Museu de Arte Sacra, de São Paulo, com Titina Corso e Silvana Borges, da escola Laquila Douro. Recentemente, concluiu cursos ministrados pelo maestro carpinteiro Alex Herrera e pela mestra Ana Tropia.

Apesar dos estudos, Vaneska agradece a “Jesus pelo dom concedido” e ressalta o trabalho feito pela marcenaria na recuperação de imagens de valor histórico. “Como dizem, nós não escolhemos as imagens, elas nos escolhem”, garante.

“Ninguém trabalha sozinho nessa vida, somos uma equipe de parceiros”, finaliza.