Evento exalta 14 anos e ‘papel’ do Gaata





Iniciado como um movimento entre pessoas com o mesmo interesse de tornarem-se pais, o Gaata (Grupo de Apoio à Adoção de Tatuí) completa 14 anos de trabalho em 2016. Por ocasião da data e do Dia Nacional da Adoção, celebrado em 25 de maio, a entidade promoveu jantar beneficente.

O evento aconteceu na noite do dia 20, em espaço pertencente à chef e empresária Claudia Heloise Rauscher. O Claudia Rauscher Buffet & Gastronomia é sede provisória do grupo e recebeu, para a confraternização, convidados e um homenageado: o médico pediatra Jorge Sidnei Rodrigues da Costa.

Na ocasião, ele ganhou uma placa de agradecimento, entregue pela diretoria do Gaata. Em discurso, o médico exaltou o trabalho da entidade, a contribuição dada por profissionais à época da fundação e o papel do grupo no município.

Apesar de ser o homenageado, Jorge Sidnei enfatizou que não criara o grupo sozinho. Em entrevista, mencionou que o Gaata surgiu a partir de uma proposta do juiz da Vara da Infância e da Juventude, no ano de 1999, e por empenho de assistentes sociais do fórum – duas delas, ainda em atividade.

“Não fiz nada sozinho. Na época, já tinha dois filhos adotivos quando recebi o convite para participar de uma reunião que seria na sede do antigo Cosc (Centro de Orientação e Serviço à Comunidade)”, contou. O encontro aconteceu no prédio que abriga, atualmente, a Secretaria Municipal da Saúde.

Convidado pelas assistentes sociais da Vara da Infância e da Juventude, Jorge Sidnei conheceu outros casais que queriam adotar crianças. O grupo recebeu orientações de uma profissional vinda de São Paulo. “Depois desse dia, nós formamos uma comissão provisória”, afirmou.

O médico se tornou o primeiro presidente do Gaata, com diretoria composta por vice-presidente, secretário e tesoureiro. A organização não governamental do município surgiu com ata devidamente registrada no ano de 2002.

Jorge Sidnei seguiu como presidente por dois mandatos, “passando o bastão” a partir da terceira gestão. “Treinei um pessoal que está junto comigo, até hoje, para que um pessoal mais jovem tomasse a frente”, comentou.

No decorrer dos anos, o grupo cresceu, tornando-se um dos mais representativos do município. O trabalho consiste em promover reuniões regulares com pessoas (ou casais) que pretendem adotar, em consonância com o Judiciário.

A missão do Gaata é orientar quem está na fila de adoção, ou mesmo quem está adotando. O papel da ONG é tão importante que frequentá-la é uma das exigências feitas pela Justiça a quem deseja ampliar a família, ou constituir uma.

“Ele (o Judiciário) praticamente exige que todos os casais ou pessoas que queiram adotar passem por uma experiência junto ao Gaata”, comentou Jorge Sidnei. O pediatra tem quatro filhos, sendo três adotivos e uma natural.

A família dele começou a aumentar em uma época na qual não havia instruções. Jorge Sidnei adotou pela primeira vez quando a filha mais velha (a natural) tinha quatro anos – atualmente, tem 33. Na ocasião, o pediatra registrou uma menina (que está com 29 anos de idade) com dois dias de vida.

Ele recebeu o segundo filho – que fez 25 anos em 2016 – também com dois dias de vida. A terceira filha adotiva veio com 15 anos (atualmente, tem 31). Ela morou no Lar “Donato Flores” dos dois até virar parte da família do médico.

Por influência das profissionais que a atenderam em Tatuí, o médico disse que a terceira filha adotiva tornou-se assistente social. “Ela se empolgou tanto com o serviço social que se formou em Sorocaba e trabalha numa ONG em Florianópolis. Ela está muito feliz”, disse o médico, que é “pai de coração”.

O relato dele é uma das muitas experiências que pais adotivos – ou pessoas propensas à adoção – conhecem antes de começar o processo. Jorge Sidnei disse que um dos fatores mais importantes é o apoio de pessoas próximas.

No caso do médico, ele recebeu apoio da esposa Terezinha de Jesus Teles Rodrigues da Costa e da filha mais velha. “Se não fossem por elas, eu não adotaria”.

Mais que incentivo, Terezinha acolheu a filha adotiva como se fosse natural. “Ela chegou a amamentar a menina, colocou no peito, e o leite desceu”, disse. “Juntas, ela e minha filha mais velha foram mãezonas”, adicionou.

O médico disse que o processo de adoção deve ser de esperança e não de angústia. Para ele, “os futuros pais devem aproveitar o momento para refletir e, quando concretizarem a adoção, construir a família com “muito amor e dedicação”.

Com esse propósito, Cláudia Rauscher, Bernadete Camargo Elmec e Adriana Coelho seguem firme no Gaata. Presidente, vice-presidente e secretária executiva, respectivamente, colocaram “a mão na massa”. Elas organizaram o jantar, recepcionaram os convidados, prestaram homenagem e divulgaram o grupo.

Claudia e Adriana integram o Gaata desde a fundação. Bernadete chegou um pouco depois. As duas primeiras participaram da reunião inicial, agendada pelo então juiz da Vara da Infância e da Juventude, Clovis Ricardo.

“A maioria que faz parte da diretoria tem filhos adotivos. Nós nos conhecemos na reunião e, de lá, surgiu a ideia de criarmos o grupo”, disse a presidente.

Conforme Adriana, a preocupação do magistrado, na ocasião, era dar orientação mais pontual aos casais que pretendiam adotar. “No fórum, o processo é mais frio, mais documental. Então, muitos casais tinham dúvidas”, lembrou.

Outra necessidade era reduzir o preconceito com relação à adoção. A secretária executiva explicou que havia discriminação, por conta de eventuais incertezas. O juiz, então, queria que os casais tivessem um contato mais íntimo, informal com quem já tinha tido a experiência da adoção.

Do encontro inicial até a formação do grupo, o Gaata levou três anos para ser fundado. O estatuto próprio foi aprovado em 2012, prevendo apoio aos casais. Num primeiro momento, eles recebem orientações para sanar dúvidas.

Os esclarecimentos são feitos pelos próprios membros da diretoria. Nos encontros, eles falam sobre as experiências da adoção, tanto da parte burocrática de documentação quanto da criação propriamente dita dos futuros filhos.

“Muitas pessoas têm dúvidas se contam ou não que a criança é adotiva, em qual momento contar. Tudo isso é conversado. Em geral, as dúvidas são esclarecidas pelas experiências, mas há, também, uma apostila”, contou Adriana.

O material é fornecido gratuitamente pela presidente e contém informações “garimpadas” pela diretoria. A apostila foi formatada pelo próprio Gaata, com base em pesquisas e materiais já existentes. “O que falta nós complementamos nas reuniões, visando atender às dúvidas dos pais”, disse Adriana.

Em princípio, o Gaata assiste aos casais por três meses. Esse é o tempo mínimo estipulado pela Justiça para que os pais possam seguir com o pedido de adoção. O prazo permite que os candidatos participem de três reuniões, uma vez que os encontros na sede da instituição são mensais.

Eles acontecem toda penúltima terça-feira de cada mês, às 19h, no Claudia Rauscher Buffet & Gastronomia. O espaço fica na avenida Coronel Firmo Vieira de Camargo, 171, no centro. O telefone de contato é o 3251-8520. Para participar, não é preciso inscrição. “Basta chegar”, disse a presidente.