Espetáculo de Paraguaçu Paulista é ‘grande premiado’ do 26º Fetesp





AI Conservatório / Kazuo Watanabe

Espetáculo encenado por grupo Trupe do Trupé faturou quarto prêmio e completou 20ª apresentação

 

“A arte é o espaço da utopia, e este festival é a prova de que a utopia é possível de realizar-se a partir do esforço de todos nós.” Com esta frase, Carlos Ribeiro concluiu o discurso da noite de premiação dos vencedores do XXVI Fetesp (Festival Estudantil de Teatro do Estado de São Paulo). O coordenador do evento anunciou os espetáculos vencedores na noite do último sábado, 18.

A cerimônia de encerramento aconteceu no teatro “Procópio Ferreira”, com presença de alunos das instituições participantes, de atores, comissão julgadora e do público. A peça “Auto de Antonio Santinho” sagrou-se a grande vencedora pela categoria competitiva “Escola de Teatro”. A montagem apresentada pelo grupo teatral Trupe do Trupé, da Escola Estadual “Professora Maria Angela Batista Dias”, de Paraguaçu Paulista, somou seis prêmios. Entre eles, o de “melhor espetáculo”.

Realizado em parceria com a SP Escola de Teatro, o festival recebeu apoio da Prefeitura local, resultando na apresentação de espetáculos selecionados e de oficinas de sonoplastia, direção, de interpretação e humor e “a voz e o canto na cena”. Todos os ingressos para as apresentações foram trocados por alimentos não perecíveis que serão doados ao Fundo Social de Solidariedade e ao Banco de Alimentos.

Criado em 1977 como festival municipal, o Fetesp envolvia todas as escolas de Tatuí e era realizado como forma de divulgar alunos para o recém-criado curso de iniciação teatral do Conservatório de Tatuí. “O festival e o curso detonaram um grande movimento teatral na cidade”, disse Ribeiro na abertura da cerimônia de premiação. Na época, o curso era coordenado pelo então diretor teatral Moisés Miatskowsky, homenageado do evento.

“A ação deu frutos que colhemos até hoje, a exemplo do festival”, complementou Ribeiro. O coordenador citou que, em 1982, o festival tornou-se estadual. A partir de então, passou a fazer parte do calendário de eventos da Secretaria de Estado da Cultura.

Os oito espetáculos que compuseram a Mostra Principal do evento foram selecionados dentre 35 inscritos e divididos em duas categorias: “Teatro na Escola” e “Escola de Teatro”, com quatro peças, cada. As quatro peças concorrentes na categoria “Teatro na Escola” submeteram-se as premiações de menção honrosa, melhor iluminação, melhor figurino, atriz coadjuvante, melhor atriz, melhor ator, melhor diretor e melhor espetáculo.

“O sentido dos prêmios é incentivar as vocações tanto dos envolvidos que estão nas peças como das instituições de ensino que as promovem para que prossigam na busca de suas aspirações no campo da arte”, explicou o coordenador.

A categoria “Escola de Teatro” não teve caráter competitivo, uma vez que as instituições de ensino de teatro e os alunos já desenvolvem ações no sentido de incentivar as vocações.

“O mais importante dentro de um festival que se propõe a ser estudantil é que aproveitemos este encontro para aprimorarmos os nossos conhecimentos. E, nesses dias do festival, todos nós estudamos junto, aprendemos uns com os outros”, enfatizou Ribeiro.

Diretora, atriz, dramaturga, arte-educadora e mestre em artes pela Unicamp (Universidade de Campinas), Solange Dias, compôs o júri que escolheu os vencedores. Ela destacou a recepção dos estudantes e o compartilhamento de informações por meio dos debates.

Para ela, a essência do festival é a promoção de encontros que incentivam conversa sobre teatro e momentos de troca, viabilizados por meio de oficinas. “Essa semana foi muito rica no sentido de podermos ter paradas, não só para refletirmos sobre o nosso ofício. A continuidade desse processo de trabalhos deve continuar com os participantes ou em outros festivais”, disse.

Coordenadora da SP Escola de Teatro, Marici Salomão descreveu a experiência promovida pelo Conservatório de Tatuí, por meio das atividades artísticas e pedagógicas, como incrível. “Acho que o teatro é o lugar da doença do amor. O lugar onde, realmente, se adoece, porque é sempre tão difícil e, ao mesmo tempo, tão possível. Estou saindo completamente doente de amor. Foi incrível ver o que está acontecendo no Estado”, afirmou.

A jornalista e dramaturga destacou que as mostras realizadas dentro do festival – tanto a paralela como a principal – são representativas de vários municípios do Estado. Disse, também, que as cidades que não são capitais, como Tatuí, estão mostrando que o caráter formativo é possível de acontecer.

“O que está havendo é que há um esgotamento em São Paulo, de gente, de excesso de tudo. Nas cidades que não são capitais, o espaço e o tempo para o amadurecimento são mais possíveis”, declarou, sobre eventos realizados no interior.

Também nesse sentido, Marici afirmou que os prêmios concedidos pelo Fetesp representam somente uma sequência – e consequência – de um projeto de debates e de troca de aprimoramento de reflexão e pensamento. “Isso (a premiação) quer dizer muito menos do que aconteceu nessa semana”, disse.

Premiações

Na solenidade, os espetáculos participantes da categoria “Escola de Teatro” receberam certificado de participação. Houve entrega a representantes da Cia. Aleatória, da Escola Livre de Teatro de Santo André (SP), com a peça “Cogitação Feita de Farinha, Leite e Ovos”; do grupo Laminicac, do Centro de Artes Cênicas “Walmor Chagas”, de São José dos Campos (SP), com a montagem “Édipo Rei”; da Sarcástica Companhia de Teatro, da FAAL (Faculdade de Administração e Artes de Limeira (SP), com o espetáculo “Asterios Polyp”; e da Indac Escola de Atores, de São Paulo, com a peça “Ocupação”.

Pela categoria “Teatro na Escola”, o corpo de jurados concedeu menção honrosa para o elenco de “Auto de Antonio Santinho”. O prêmio foi entregue pelo desempenho impecável de atuação em canto, dança e instrumentos musicais.

Grande vencedor, tendo sido escolhido como “melhor espetáculo”, “Auto de Antonio Santinho” também rendeu prêmios a Daiana Rodrigues de Andrade (melhor sonoplastia), Carlos Eduardo Galvão (ator coadjuvante); Julia Beatryz de Oliveira Rodrigues (melhor atriz); e Reginaldo Galhardo (melhor diretor).

O prêmio de “melhor figurino” ficou com Aurea Almeida e Jane Kastorsky, do espetáculo “Descobreu”, de Salto de Pirapora, encenado pela Cia. de Teatro UTA, da Escola Estadual “Afonso Vergueiro”, de Salto de Pirapora (SP).

Amábile Cristina Silva de Oliveira venceu como “atriz coadjuvante”, pelo espetáculo “Raízes”, do Grupo Casca Grossa, da Emef (Escola Municipal de Ensino Fundamental) “Barão de Piratininga”, de São Roque (SP). Já Matheus Wilczek recebeu prêmio de “melhor ator”, com a peça “Descobreu”.

Durante a cerimônia, houve apresentação de clipe com fotografias das oficinas e apresentações das mostras principal e paralela, assinadas por Kazuo Watanabe. O evento contou, ainda, com homenagem a Moisés Miastkwosky.

Na ocasião, Ribeiro fez a leitura de um texto escrito pelo dramaturgo e publicado em um blogue na internet no dia 29 de dezembro de 2012. Idealizador do Fetesp, o diretor de teatro Miastkowsky faleceu em maio deste ano.

História e surpresa

Grande vencedora do 26o Festival Estudantil de Teatro do Estado de São Paulo, a Trupe do Trupé tem uma história muito estreita com o evento e com o Conservatório de Tatuí. Formado na década de 90, o grupo teatral deve a existência ao festival promovido pela maior escola de música da América Latina.

“O evento é um marco na história do nosso grupo. Quem está aqui (no Conservatório) há mais tempo sabe que o festival de Tatuí abriu os nossos caminhos. Então, ele é muito representativo. Só de sabermos que fomos selecionados, já ficamos arrepiados. Uma premiação, então, é sempre uma surpresa, ainda mais diante de tanto trabalho bom”, disse o diretor Reginaldo Galhardo.

Segundo ele, os prêmios recebidos se revertem em estímulo para os componentes do grupo teatral. Galhardo afirmou que os participantes saíram do evento fortalecidos tanto pelo reconhecimento do júri como pelo aprendizado.

“Pelo pouco que conversei com os meninos, pude notar que eles ficaram satisfeitos, e com uma baita vontade de multiplicar isso em Paraguaçu”, destacou.

O diretor disse, também, que os efeitos da participação devem perdurar por muito tempo. Além da reflexão para os componentes a respeito do aprendizado, o conteúdo absorvido nas oficinas realizadas ao longo de uma semana devem ser multiplicados. “Isso vai retribuir mais do que se imagina”, disse.

Comemorando a 20a apresentação de “Auto de Antonio Santinho”, sendo ela acontecendo em Tatuí, o diretor citou que o espetáculo recebeu outros três prêmios. Galhardo disse que a peça está “sendo amadurecida com o grupo”. Ela obteve destaque em festivais das cidades de Tupã, Bernardinho e Avaré.