Henrique Autran Dourado
Várias tentativas de se construir um veículo movido a combustível já haviam sido empreendidas, mas só em 1885 o designer e engenheiro alemão Karl Friedrich Benz (1844-1929) lançou seu Benz Motorcar, dando início à primeira produção em série de veículos movidos a combustão. Nascia assim a Benz & Cie., primeira fábrica de automóveis. Em 1926, três anos antes de sua morte, juntou-se à Daimler Motoren Gesellschaft, de onde surgiu a Daimler-Benz, que até hoje produz alguns dos melhores carros do mundo, os Mercedes-Benz. Por essa razão, recebeu de um norte-americano, em plena disputa entre seus dois países, o epíteto “Pai da indústria do automóvel” (FANNING, Leonard. “Karl Benz: Father of the Automobile Industry”. NY: Mercer Publ., 1955). O veículo original, nada confortável, sem amortecedores e uma espécie de manivela como direção tinha as rodas de trás enormes e a única na frente bem menor. Logo Benz introduziria outros avanços: ignição elétrica e motor a quatro tempos com apenas um cilindro, 958 cc e ¾ hp, que atingia até 16 km/h!
O magnata da indústria americana Henry Ford (1863-1947) criou a Ford Motor Company, e iniciou a produção de automóveis por linha de montagem em larga escala, com franquias nos seis continentes. Seu modelo “T”, revolucionou a indústria, baixando a preços acessíveis à classe média. (Filosoficamente, ligava o consumo à conquista da paz, porém durante a Primeira Guerra envolveu-se com o antissemitismo, inclusive financiando publicações como o jornal “The Dearborn Independent” e “The International Jew” – O Judeu Internacional). O “T”, com quatro cilindros, molas e direção à esquerda surgiu em 1908; a produção em massa forçava o preço para baixo, coisa de 25 mil dólares atualizados (R$ 129 mil). A classe média alta podia desfrutar do luxo de volteios em um automóvel confortável para a época, mandando às favas a poluição: a atmosfera, especialmente nos grandes centros, passou a receber, cada dia mais, uma quantidade enorme de gases como o ozônio (O³), o monóxido de carbono (CO), o nitrogênio (NOx) e o dióxido de carbono (CO²).
Paralelamente à escalada poluidora e o desmedido consumo de combustíveis fósseis, o preço nas bombas encareceu a olhos vistos. Várias guerras tiveram como pano de fundo o chamado “ouro negro” – o petróleo -, enquanto industriais e cientistas bem-intencionados começaram a procurar alternativas. Com as frotas de cidades inteiras como Shenzen, na China, movidas a eletricidade acumulada em baterias e inúmeros experimentos de sucesso, os carros elétricos parece terem assumido o protagonismo futurista nessa promissora nova forma de propulsão.
Nova? Nunca! Nos anos 1830 o escocês Robert Anderson já tinha seu veículo elétrico, em 1835 Stratingh e Becker construíram um modelo pequeno, e no mesmo ano Thomas Davenport criava o seu protótipo. Em 1870, David Solomon montou pequenos carros movidos a energia elétrica, mas enfrentava um problema que ainda hoje desafia a fabricação mundial em larga escala desses veículos: a baixa autonomia em distância percorrida e o peso das baterias recarregáveis. Mas houve progresso: em 1977 a Toyota lançou o modelo Prius e vendeu 18 mil veículos; em 2000 criou um modelo híbrido, o Toyota Prius II, que recebeu da Motor Trend Magazine e da North American Auto Show o prêmio “Carro do Ano”.
Elon Musk, dono de 282 bi de dólares, excêntrico playboy nascido na África do Sul em 1971 e naturalizado norte-americano, é um dândi com ideias exóticas, controversas e exibicionistas que vende ao mundo seu Tesla, de linhas esportivas e alto luxo. Deve o nome do carro a um inventor visionário, o engenheiro mecânico e elétrico sérvio-americano Nikola Tesla (1856-1943), que criou projetos de modelos com corrente alternada (AC). Os Tesla de Elon Musk alcançam mais de 250 km/h e têm autonomia acima de 480 km. O modelo Roadster, ainda em aprimoramento, pode rodar mil km sem reabastecer, um grande avanço. Pelo luxo, tecnologia e design, o Tesla de Musk, excêntrico patrocinador de curtos voos espaciais para cidadãos comuns, manda seus preços para a estratosfera. No Brasil, por exemplo, o carro chega a custar entre R$ 500 mil e R$ 600 mil.
Falando em Brasil, onde nós ficamos, nessa história? No passado! Em 1969, o engenheiro João Augusto do Amaral Gurgel criou o primeiro carro elétrico da América Latina, 100% produzido no país, o Itaipu E150. (A remissão a um nome indígena não era novidade para Gurgel: antes de Itaipu, o carro se chamava Ipanema, ao passo que outros foram o Tocantins, o Xavante e o Carajás). Lançado oficialmente apenas em 1974, o carro pesava 460 kg, 70% devidos às duas baterias, por um preço de aproximadamente R$ 65 mil atuais: um automóvel ainda bem rústico, com dois lugares, feito a partir de chapas planas e que chegava a 60 km/h. Fora a economia popular, poderia ter sido um projeto para um Brasil menos poluído tanto no ar que se respira quanto sonoramente. Desde que tivesse sido levado à frente com investimentos e pesquisas, mas…
O establishment brasileiro é retrógrado e cruel. Não interessam nem a economia popular nem o meio ambiente, apenas poderosas empresas como a Petrobras, um Estado à parte, ávido por volumes incríveis de dinheiro e voltado apenas para combustíveis, gás e afins. E nada de pesquisas científicas: universidades e seus centros são sucateados como contrapeso financeiro para campanhas políticas às custas da Educação, da Ciência e da Saúde.