Bons e maus exemplos na Educação brasileira

É mesmo muito surpreendente e desafiador buscar compreender a considerável parcela da sociedade que ainda se mantém inflexível à obviedade de determinados fatos, sobretudo os que não se sustentam na verdade e em um mínimo de coerência.

Desastres seguidos têm ocorrido no país nestes anos recentes, senão no todo, ao menos em muito estimulados pela política de fake news, negacionismo, segregação e aposta na violência como solução para tudo.

Estão aí mais de 660 mil mortes precipitadas pela Covid-19 para o comprovar – entre as quais, os estudos mais modestos indicam que pelo menos 100 mil vidas poderiam ter sido poupadas se, simplesmente, as maiores autoridades do país dessem bom exemplo.

Bastaria, para tanto, que apenas não desestimulassem o uso de máscaras, não se posicionassem contra o distanciamento, tivessem deixado de “receitar” medicamento ineficaz e, por fim, realmente não protelassem ao máximo o início da imunização – como o fizeram, só se mexendo quando a Coronavac picou a primeira brasileira.

Mesmo não abordando aqui demais descalabros, como a “normalização” de assassinatos de tanta gente inocente (não raro, pretos e pobres, claro), ou de indigenista e jornalista (desrespeitados até após o luto ao serem chamados de “aventureiros”), vale atenção sobre uma área em especial, ainda sob a penumbra do obscurantismo, com relevo para a incoerência: a Educação.

Por este aspecto, não há dúvida de que muitos brasileiros decidiram seus votos ao serem enganados de que haveria um tal “kit gay” a ser distribuído para crianças em todas as escolas do país – um negócio só não mais falso do que insano. De qualquer forma, no mínimo, a comoção indicaria preocupação dos pais para com os filhos. Certo.

Contudo, menos de quatro anos depois, o sujeito que ocupava o cargo de ministro da Educação, Milton Ribeiro, é preso por corrupção.

E, aí, se faz pensar: se o modus operandi dessa pasta tão fundamental ao Brasil (de hoje e do futuro) tinha como meta extorquir prefeitos país afora, como seria o programa educacional proposto para as crianças “salvas da homossexualidade”? A verdade é que isto parece nunca ter existido.

Ou, desde que se possa externar a homofobia, comprar armas sem problema e garantir a “liberdade de expressão do ódio e de golpe”, tudo bem? Pode-se até ignorar a obrigação de se garantir educação de fato e sair com sacolinha por aí pedindo ouro à vontade para liberar recurso público?

Será que esse pessoal realmente tem conseguido educar bem os filhos da “família” brasileira? Enfim, o que realmente querem os pais e mães para seus filhos no futuro? Que país se quer deixar de herança?

Na dúvida, segue um belo exemplo do que seria educação séria e de qualidade. Que sirva de modelo para as “autoridades” – e de reflexão para os pais e mães, eleitores e eleitoras deste país dilacerado.

Conforme divulgado pela assessoria da iniciativa:

“Um estudo realizado pela Fundação João Pinheiro, em parceria com o Instituto Natura, correlaciona resultados observados nos processos de segurança pública à implementação da política de ensino médio integral (EMI) na Paraíba.

A instituição de pesquisa avaliou os efeitos do EMI sobre diversas dimensões da segurança pública: segurança comunitária, índices de criminalidade e sensação de segurança no entorno das escolas.

O EMI é uma política baseada em um modelo pedagógico sistêmico, que promove o desenvolvimento pleno dos estudantes a partir de um currículo integrado e de práticas pedagógicas inovadoras.

O modelo parte da centralidade do jovem e seu projeto de vida, considerando suas expectativas de aprendizagem e seu desenvolvimento socioemocional.

O estudo avaliou as percepções, opiniões e experiências de gestores e ex-gestores envolvidos na implementação das escolas de EMI coletadas por meio de entrevistas, também realizadas com profissionais do Instituto de Corresponsabilidade pela Educação (ICE) e do Instituto Sonho Grande (ISG), entidades parceiras do estado.

A avaliação foi subsidiada por documentos e bibliografia disponíveis sobre o EMI na Paraíba, bem como documentos do ICE e ISG.

Como conclusão, o estudo traz que, na percepção dos entrevistados, há evidências de que o investimento em escolas de EMI gera consequências positivas à comunidade que vão além da melhoria dos indicadores educacionais – com impactos relevantes na área de segurança pública.

Por três motivos: primeiro, pela mudança, no médio e no longo prazo, na trajetória de vida dos alunos; segundo, pelo efeito imediato da permanência do aluno no ambiente escolar pelo período estendido – o que o coloca fora do ambiente de criminalidade; e terceiro, pelos efeitos de transbordamento comunitário que a mudança na escola pode provocar, especialmente por meio do aumento do pertencimento do aluno ao ambiente escolar.

Para Carolina Ilidia Faria, gerente de Políticas Públicas de Ensino Médio no Instituto Natura, o estudo ajuda a entender os impactos sociais da educação de qualidade no território, para além dos já conhecidos resultados de aprendizagem.

‘Este estudo mostrou que as transformações extrapolam os muros da escola, trazendo efeitos positivos para os alunos egressos e para a sociedade. Avançar em estudos e pesquisas que investiguem tais aspectos é um reforço para fomentar o investimento em políticas públicas baseadas em evidências’.

‘É importante salientar que, embora o EMI não tenha ações diretas para o combate da violência ou criminalidade, o modelo coloca o jovem como papel central da escola, influenciando, assim, a trajetória do indivíduo. Como consequência, contribui para diminuição da violência na escola e na comunidade’, explica Juliana de Lucena Ruas Riani, pesquisadora da Fundação João Pinheiro.

‘Os impactos positivos educacionais na vida deste jovem, como a empregabilidade e níveis de salário, ajudam a reduzir as taxas de agressão, roubo, assassinato e encarceramento’, complementa.

A implementação do Programa de Educação Integral na Paraíba teve início em 2016 e tem se caracterizado como a principal política educacional do estado.

A partir de 2017, na primeira expansão do modelo (de 8 para 33 escolas), e de forma sistemática e prioritária a partir de 2018 (de 33 para 100 escolas), um dos indicadores utilizados para a seleção de novas escolas a serem inseridas foi o CVLI (Crimes Violentos Letais e Intencionais), da pasta da segurança pública.

A intenção era integrar as duas políticas, para que a escola fosse mais um vetor de combate para a redução destes crimes. De acordo com a sinopse estatística do Censo 2021, 67.920 estudantes do estado estão matriculados no EMI.

Outro ponto forte do modelo da Paraíba é a relação entre escola e comunidade. O estudante participa ativamente das tomadas de decisão das escolas e é acompanhado pela equipe escolar por práticas como tutoria e projeto de vida – o que significa mais atuação da escola para além da sala de aula.”