Amigos silenciosos

A longevidade condenou-me, esgotados todos os recursos possíveis, à pena de prisão domiciliar.

Estou cumprindo a sentença com resignação. Não sei até quando. Não espero indulto. Como meus antecedentes não são dos piores e considerando minha idade, fiquei livre das tornozeleiras eletrônicas agora em moda para certos presos ilustres em nosso país.

E como é que estou encarando essa situação longe dos bares, da vida ruidosa das ruas, das rodas de amigos e amigas que tanto enfeitaram minhas noites cheias de prosa e de música?… Assim:

Além da leitura de alguns livros atuais com que sou presenteado, aproveito o isolamento, o silêncio e a solidão para revisitar queridos livros que me acompanharam durante minhas andanças ao longo do tempo, além, claro, de ouvir música – a doce música instrumental ou vocal, que me proporciona fabulosas e generosas viagens mentais, no tempo e no espaço.

Reencontro cenários e entes inesquecíveis que enriqueceram minha inquieta trajetória existencial.

Mas, além da música, socorro-me dos livros em busca do pão espiritual. Eles são aqueles amigos prestativos que nos acodem fraternalmente nos momentos de precisão. Não alardeiam o que sabem. Ficam ali, quietinhos, humildes, descansando na penumbra das estantes, no aguardo de nossa visita e só então se abrem por nossas mãos, para nos mostrar sua sabedoria silenciosa, como nas “Confissões” de Santo Agostinho…

Estamos vivendo tempos de internet, eu sei, mas os livros, ah! os livros…

Eles consolam aqueles que estão na condição de sol poente.