Aeródromo pode receber R$ 10 milhões





AC Prefeitura / Evandro Ananias

Plano do município prevê ampliação de pista de pouso e decolagem, iluminação e mudanças de hangares

 

A criação de um centro de manutenção de aeronaves e a possibilidade de abertura de rotas alternativas de voo estão nos planos da Prefeitura para o aeródromo municipal. Os projetos apresentados pelo prefeito José Manoel Correa Coelho, Manu, à reportagem de O Progresso, exigirão R$ 10 milhões já pleiteados pelo Executivo junto à SAC (Secretaria de Aviação Civil).

Manu havia feito o pedido no dia 16 de outubro, quando assinou o documento que permite ao Executivo gerir o espaço. “Nós conseguimos a outorga do aeródromo que, se Deus quiser, vai se tornar um futuro aeroporto”, afirmou.

De acordo com o prefeito, a autorização de administração pela Prefeitura representa o primeiro passo num caminho a ser percorrido em direção à “profissionalização” do aeródromo. Atualmente, ele é utilizado pelo aeroclube.

O Executivo, no entanto, é o responsável pela manutenção da área. Manu explicou que a Prefeitura arca com as despesas de água, luz e telefone, além de manter sempre as gramas ao redor da pista aparadas. “Tudo é o município que faz. Porém, tem um pessoal do aeroclube, que é uma associação de amigos, que explora, de certa forma, o aeródromo”, argumentou.

Segundo o prefeito, há um convênio que permite aos integrantes do aeroclube utilizarem o espaço. O Aeroclube de Tatuí também mantém, no aeródromo, curso de piloto de planador e detém estrutura física com cinco hangares.

Os associados criaram um posto de abastecimento de AvGás, um centro de tecnologia, mantêm em funcionamento uma casa de guarda-campo, alojamento coletivo, uma sede social e um “parque de aeronaves” com modelos de planadores considerados clássicos, como Neiva Motor, Specht, entre outros.

Manu afirmou que os membros do aeroclube do município utilizam o aeródromo para atividades sem fins lucrativos. “Eles não administram, só utilizam”, frisou.

Em função disso e para criar condições que permitissem o desenvolvimento do espaço, o Executivo decidiu regulamentar o aeródromo. “Na realidade, era como se o local não existisse no contexto do país. Tivemos de cumprir alguns procedimentos para que ele pudesse ser reconhecido pelas autoridades aeronáuticas e, com isso, viesse a ganhar investimentos”, falou Manu.

A SAC informou que o Executivo administrava o aeroporto (denominado de aeródromo) desde 1986. Naquele ano, o terminal havia deixado de ser propriedade privada. “De lá, para cá, a gente nunca buscou regularizar a situação do aeródromo, porque nunca se teve expectativas melhores”, disse o prefeito.

O município pleiteou a outorga depois de tentar inscrever o aeródromo municipal no “Programa de Investimentos em Logística: Aeroportos”, lançado pela presidente da República, Dilma Rousseff, em dezembro do ano passado.

De acordo com o prefeito, Tatuí não pôde ser contemplada porque não dispunha de outorga. “Era preciso que as autoridades de aviação civil reconhecessem o aeródromo. Aí, para isso, fizemos um projeto em parceria com uma empresa privada”, disse.

Os estudos ficaram a cargo da MTX Aviation Manutenção de Aeronaves Ltda., estabelecida no aeródromo. Em conjunto com a Prefeitura, os engenheiros da empresa elaboraram um projeto que prevê melhorias para o espaço. Entre elas, a iluminação e o aumento da pista – que atualmente tem 1.300 metros.

Outras medidas estão previstas, como a mudança dos hangares e a criação de uma pista de escape ao lado da principal. Também são cogitadas a criação de rotas alternativas e a transformação do aeródromo em aeroporto regional.

Em princípio, o aeródromo deverá abrigar um centro de manutenção de aeronaves. A intenção é que mais empresas de manutenção se agreguem ao centro e que ele possa atender a demanda de companhias que operam linhas particulares e comerciais em aeroportos da região, como os de Sorocaba e Jundiaí.

Caso o projeto vingue, o número de aeronaves cruzando o céu de Tatuí deve aumentar. Atualmente, a MTX registra fluxo de 20 aeronaves por mês, em manutenção.

“Vislumbramos que temos grande potencial de crescimento nesse aeroporto, tanto comercialmente, como turisticamente e fomos atrás disso”, afirmou o prefeito.

Manu entregou uma cópia do projeto custeado pela empresa ao titular da SAC, ministro Moreira Franco, no evento de assinatura da outorga. O prefeito agendou encontro por meio do deputado federal Edinho Araújo (PMDB).

Segundo o prefeito, a regulamentação do espaço permite que ele receba investimentos, dentre os quais, os R$ 10 milhões solicitados junto ao governo federal. Independente da vinda do recurso, a Prefeitura quer, também, inscrever o aeródromo na “segunda edição” do plano nacional de aviação civil.

Caso a SAC destine o dinheiro ao município, a Prefeitura pretende iniciar série de obras na área do aeródromo. Projetadas por engenheiros da aviação civil, algumas delas devem gerar “grandes impactos”. Isso porque, para ampliar a pista, o Executivo terá de realizar um processo de desapropriação.

“Tudo isso tem um custo, mas eu quero deixar bem claro que esse é um projeto que está sendo desenhado e que tem muitas chances de acontecer”, declarou.

Para a criação do centro de manutenção de aeronaves, o município está desenvolvendo parceria com a Fatec (Faculdade de Tecnologia) “Professor Wilson Roberto Ribeiro de Camargo”. O objetivo é implantar, em Tatuí, curso de mecânica de aeronaves nos mesmos moldes do existente em São José dos Campos.

A viabilização está a cargo de representantes da empresa de manutenção estabelecida no município e do diretor da Fatec tatuiana, Mauro Tomazela. A Prefeitura também está auxiliando no projeto de implantação do curso tecnológico.

Manu antecipou que a Prefeitura está empenhada em criar dentro da faculdade uma estrutura que permita qualificação de mão de obra para as futuras empresas que vierem a se instalar no centro de manutenção de aeronaves.

A capacitação deverá atender não só as demandas das novas empresas, como do setor, de modo geral. Conforme o prefeito, quatro mecânicos que já atuam na MTX vieram de outras cidades. Parte saiu de Sorocaba e outra parte, de Jundiaí.

“Nós podemos ter, aqui, essa mão de obra. Estamos trabalhando nessa parceria para poder atender a quem vier montar os hangares”, salientou o prefeito.

Somando-se ao curso, o aeródromo deverá ter a planta atual revista. Isso porque o projeto prevê a mudança das disposições dos hangares. O prefeito disse que as adequações a serem feitas permitirão o “desenvolvimento do espaço”.

“O nosso aeroporto não tem, realmente, outra finalidade a não ser a esportiva, de lazer. Queremos trazer para Tatuí, dentro dele, a finalidade comercial, de desenvolver uma rota alternativa”, antecipou o gestor público.

Para que o aeródromo receba voos comerciais é preciso o alongamento da pista. Apesar de Tatuí possuir metragem semelhante ao do aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, a pista local está situada a 635 metros de altitude acima do nível do mar. O Santos Dumont está a zero, o que faz o fator altitude e densidade favorável para a pista carioca, mas desfavorável para a tatuiana.

É por essa razão que algumas aeronaves comerciais precisam de apenas 600 metros de pista para decolar no Santos Dumont. Em Tatuí, um avião do mesmo porte necessitaria de uns 2.000 metros de comprimento de pista para sair do chão.

Tatuí está preparada para receber aviões de pequeno porte, os chamados turboélices. São aeronaves com capacidade para até 30 passageiros que podem, até o momento, decolar e pousar em Tatuí. A pista suporta até um Fokker 50, vazio.

Para aumentar o número de passageiros, para 50 – o que inclui as bagagens – a pista precisaria ser ampliada. Os pousos e decolagens noturnos dependeriam de iluminação da pista, o que aumentaria o tráfego de aeronaves.

“Isso tudo é um trabalho que vai passar por várias etapas”, comentou o prefeito. O acompanhamento das ações ficará a cargo da comissão de administração aeroportuária, nomeada por meio do decreto municipal 14.502, de 15 de outubro.

A comissão é presidida pelo vice-prefeito e secretário municipal de Governo, Segurança Pública e Transpores, Vicente Aparecido Menezes. Tem como componentes, representantes da empresa de manutenção e “pessoas ligadas a diversas áreas da Prefeitura”. “É sempre bom deixar claro que os cargos não são remunerados, são voluntários”, citou Manu, em entrevista.

A meta da Prefeitura é dar um “novo direcionamento” ao aeródromo. Conforme ele, o espaço é bom, mas não está “sendo totalmente explorado para a atividade fim que se propõe”. “O aeroporto tem que estar disponível para pousos de aviões a qualquer momento e, assim, entrar na rota de voos”, falou.

Para Manu, o desenvolvimento do aeródromo poderá ser ainda maior por conta da presença de empresas multinacionais próximas. O prefeito citou que a Toyota (que está instalando unidades em Sorocaba e Porto Feliz), as chinesas Zoomlion e Metro-Schacman e a Noma do Brasil Ltda. poderão fazer uso dele.

“Vamos nos tornar um polo industrial, e, essas empresas, vão precisar de um aeroporto para dar retaguarda, trazer equipamentos e mesmo empresários”, falou. “Essa é a intenção. Tatuí está caminhando muito para um progresso com sucesso. O aeroporto vai, realmente, ser a cereja do bolo”, adicionou.

Discutido com engenheiros, o projeto de alteração do aeródromo deve provocar mudanças no atual funcionamento do aeroclube. Entretanto, o prefeito disse que a intenção é que os membros possam continuar a utilizar o espaço.

“De maneira alguma foi cogitado tirar o aeroclube, mesmo porque essa é uma tradição cultural da nossa cidade”, comentou ele, sobre a relação da Prefeitura com os membros que, atualmente, fazem uso de toda a pista do aeródromo.

Manu afirmou que a Prefeitura manterá a concessão de uso ao aeroclube, mas falou que ele poderá sofrer “algumas adequações”. “Evidentemente, o projeto exige mudanças, para que o aeroporto do município se desenvolva”, comentou.

Segundo o prefeito, as adequações sugeridas pelos engenheiros poderão ser discutidas com membros do aeroclube. Entretanto, o projeto pode sofrer nova mudança, a partir do momento que for inscrito e entrar no plano nacional de aviação civil. “Se houver necessidade, modificações serão feitas”, falou.

A Prefeitura quer melhorar os acessos ao aeródromo, com obras de infraestrutura tanto no acesso pela rodovia Mário Batista Mori (SP-141), por meio do Jardim Aeroporto, como pela Antonio Romano Schincariol (SP-127), no bairro dos Fragas.

Novos hangares deverão ser construídos, bem como intervenções maiores poderão ser realizadas. Entre elas, a mudança da linha de transmissão de energia elétrica construída para alimentação de empresas como a FBA (Fundição Brasileira de Alumínio) e Rontan Eletrometalúrgica. O “linhão”, conforme o prefeito, passa perto da cabeceira da pista, comprometendo 200 metros dela.

“Evidentemente, isso vai ter de ser retirado. Vamos ter de entrar em contato com a companhia energética, mas não vejo dificuldade alguma”, alegou o prefeito.

“São várias e muitas mudanças que vão ter que acontecer, mas com um intuito: cada vez mais proporcionar melhorias para a cidade, para o aeroporto, para o aeroclube. Ninguém quer prejudicar ninguém”, completou.