Apesar de a vacinação salvadora acontecer no braço das pessoas, abundam as injustiças derivadas da pandemia de Covid-19. A mais trágica, óbvio, é a morte de pessoas que, mesmo se cuidando e levando a sério o perigo, acabaram vítimas da doença.
O iníquo nestes milhares de casos precisa ser reconhecido como resultado da irresponsabilidade e ignorância de quem não se cuidou e, por isto, levou o vírus a quem tinha menos resistência e concluiu por tirar-lhes a vida – ainda que inadvertidamente, na hipótese menos ruim.
Fala-se muito em liberdade quando convém, por exemplo, ao se defender golpe de estado e ditadura, morte sumária de ladrões de galinha, fake news na internet e outros tantos fetiches do reacionarismo obscurantista.
Contudo, não por acaso, a liberdade de viver sem medo é menosprezada – seja da própria morte ou de uma nova onda de contaminações e estragos soberbos na economia, redundando em mais desemprego, miséria e fome…
A situação nacional melhorou extraordinariamente neste último semestre, mas não pelo negacionismo. Longe disto, muitos mais teriam morrido se dele dependessem, com seus maus exemplos de não uso de máscara, “tratamentos precoces” inócuos, ataques ao distanciamento social e na criminosa suspeição quanto às vacinas e sua consequente demora no início da campanha.
No outro extremo, sabe-se lá quantas vidas foram salvas pela iniciativa, ainda que impopular, do estado de São Paulo, que impôs medidas de restrição e, particularmente, conseguiu acelerar a imunização em massa no país, ao concretizar a produção da Coronavac e, assim, forçar politicamente o governo federal a se mexer.
Se ora essa vacina é desprezada pelo Programa Nacional de Imunização, o PNI, é só mais uma injustiça em meio a essas tantas outras.Cabe à população avaliar – lembrar-se de toda a trajetória da campanha no Brasil – quando for decidir por seus votos no ano próximo.
Enquanto isso, segue incomodando quem realmente leva a “justiça” a sério as manifestações de quem, agora, argumenta terrem sido negativas e desnecessárias as medidas de proteção e exagerados os alertas, porque, “como se vê, a pandemia acabou”…
Não, infelizmente, ainda não teve fim. E, claro como o avesso à escuridão de um porão de tortura, se a situação é infinitamente melhor, a vacinação é sua maior responsável. Mais uma vez, basta notar quando ela teve início e quando as mortes começaram a decair: no mesmo momento!
A cidade é exemplo inquestionável disto, conforme evidenciado em reportagem de O Progresso de Tatuí nesta quarta-feira. Ela registra nova queda no número de mortes por causas naturais, desta vez no mês de novembro.
Os dados são apontados em levantamento do Portal da Transparência do Registro Civil, administrado pela Arpen-Brasil (Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais).
O órgão notifica 67 óbitos declarados em novembro de 2021, 15,18% a menos que os 79do 11º mês de 2020. Em comparação a novembro de 2019 (67), o número de mortes representa estabilidade.
O Portal da Transparência é atualizado diariamente por todos os cartórios do país. As estatísticas se baseiam nas declarações (preenchidas pelos médicos que constatam os falecimentos) que dão origem às certidões de óbitos, registradas nos cartórios para a liberação dos sepultamentos.
As mortes por causas naturais são resultado de doença ou mau funcionamento interno dos órgãos, e, nesta classificação, estão inclusos os óbitos por Covid-19, SRAG (síndrome respiratória aguda grave), pneumonia, insuficiência respiratória e septicemia, que é o choque séptico.
Até às 14h de segunda-feira, 6, o registro apontava que, no mês de novembro deste ano, seis pessoas haviam perdido a vida por pneumonia, cinco por insuficiência respiratória, nove por septicemia, duas por causa indeterminada (ligada a doença respiratória, mas não conclusiva) e uma por SRAG.
Além disso, o levantamento mostrava um total de quatro mortes por Covid-19 em novembro. Contudo, a assessoria de comunicação do portal explica que, quando na declaração de óbito há menção de Covid-19, coronavírus ou novo coronavírus, considera-se como causa a Covid-19 (suspeita ou confirmada).
Entre as causas cardiovasculares, o levantamento apontava seis mortes por AVC, sete por infarto e seis por questões vasculares inespecíficas. Outros 21 óbitos estavam relacionados a outros tipos de doenças.
No 11º mês de 2020, seis pessoas perderam a vida por pneumonia, três por insuficiência respiratória e dez por septicemia. Não houve morte por SRAG ou causa respiratória indeterminada.
Além disso, o levantamento mostrava um total de 11 mortes por Covid-19 em novembro desse ano (praticamente três vezes mais que neste novembro!).
Entre as causas cardiovasculares, o levantamento apontava sete por AVC, sete por infarto e sete por causas vasculares inespecíficas. Outros 28 óbitos estavam relacionados a outros tipos de doenças.
Alarmante, neste momento, por sua vez, é mais um erro grotesco no combate à pandemia, mais um, oriundo do negacionismo: a recusa em se exigir a vacinação a quem entra no país e não se impor restrições aos brasileiros que se recusam à imunização.
O menor número de falecimentos em Tatuí é explícito e “deveria” dispensar mais comentários sobre a eficácia e necessidade da vacinação.
O mesmo vale para se observar o que acontece nas partes do mundo onde a imunização estacou ou mal começou, nos quais a pandemia tem refluído, ainda mais agora com uma nova variante, a ômicron.
A verdade é que nunca foi tão difícil trabalhar pela vida, estando a morte tão ao gosto de muitos que, francamente, não estão preocupados com você – tatuiano, paulista, brasileiro-, senão somente com as próximas eleições.
Esse pessoal sequer pensa que, caso seus correligionários incautos, não conseguirem chegar até lá, porque não se vacinaram, contraíram o vírus e morreram, serão votos a menos para o negacionismo obscurantista.
Finalmente, então, vale apontar a última ironia (ou seria outra injustiça?): graças justamente à consciência e responsabilidade de quem está optando por enxergar a realidade, os negacionistas poderão votar em 2022, porque estarão vivos.
Sem dúvida, devendo a sobrevivência, desde hoje, à queda de mortes e contaminações, resultado da vacinação em massa – em Tatuí, já de mais de 80% da população, concluindo na esperança de que, da abundância de absurdos, talvez o cérebro esteja voltando a ser o órgão mais utilizado do corpo.