Moradores aguardam limpeza de fossas um mês após cheia





Vítimas das enchentes do mês de janeiro, moradores do distrito de Americana ainda sofrem com os reflexos das fortes chuvas que castigaram o local nas primeiras semanas do ano.

Com a subida do nível do rio Sorocaba, que no dia 15 de janeiro atingiu a marca de 8,2 metros acima do nível normal, as fossas sépticas das casas do distrito ficaram inundadas.

Com as fossas cheias, os moradores têm dificuldades em utilizar o banheiro e em lavar louças e roupas, atividades que utilizam grandes quantidades de água.

A dona de casa Cleonice Amaro mora no distrito de Americana há um ano. Ela contou que precisa tomar banho de caneca, com medo de que a fossa transbordasse. Já aconteceu de a água da fossa voltar pela tubulação e chegar ao ralo do banheiro.

“É complicado: se quiser tomar um banho decente, não pode, porque, se você usa como tem que usar, a fossa enche e a água entra tudo dentro de casa”, contou.

A residência que Cleonice mora é alugada. Em dezembro, o proprietário do imóvel pagou R$ 700 para uma empresa limpar as duas fossas da casa. Menos de um mês depois, o serviço terá de ser refeito, pois, com a enchente, os fossos estão cheios.

“Só faz três meses que estou nessa casa. No segundo mês que estava aqui, já peguei uma enchente”, lamentou ela.

Uma das fossas da residência está sem utilidade. Para não transbordar, a dona de casa quebrou o cano que levava água da pia da cozinha. Agora, a água é despejada no quintal, que está encharcado.

A moradora reclamou, também, do mato alto que toma ruas e terrenos baldios. Com as chuvas constantes, a vegetação cresceu rápido e está atraindo insetos e pragas, como ratos. “Aqui, apareceram alguns ratos nos últimos dias. Deve ser esse mato que está por todo lado”, disse Cleonice.

Ela e outras moradoras do distrito afirmaram que, quando retornaram às casas com o final da cheia, a Prefeitura teria prometido que faria a limpeza das fossas.

A faxineira Selma Maria Longarezzi disse que a situação no bairro e “difícil”. O problema na casa de Selma é mais grave. A tampa de uma das duas fossas caiu e a faxineira precisou pagar para um homem tampar com terra. Agora, a fossa está inutilizada.

“Tenho outra fossa, que tinha feito antes da enchente. A intenção era deixar a velha para o tanque e a nova para o banheiro. Agora, estou com uma só”, afirmou.

Para a abertura do novo fosso, Selma pagou R$ 300 para um profissional fazer o serviço. Como está cheia, a faxineira teme que o buraco ceda. “Gastei o dinheiro e, agora, tenho medo de usar a fossa. Está crítica a situação para a gente”, contou.

Com uma única fossa no quintal, a dona de casa Ivete Perim Ferreira só liga a máquina de lavar roupa com o mínimo de água possível.

Como os aparelhos modernos possuem seletor de quantidade de água, que vai de um a quatro, Ivete procura nunca usar o nível máximo, sempre pensando na quantidade de esgoto que tem no fosso. “A fossa serve o banheiro, a pia de louça e para a máquina de lavar. Se eu tivesse duas fossas, até seria melhor”, afirmou.

Uma reclamação em comum dos moradores é a quantidade de pernilongos no distrito. Por ter a coloração listrada, o inseto que transmite a dengue, a zika e a febre chikungunya é facilmente notado pelas donas de casa.

“Tem muito pernilongo da dengue aqui. Com a graça de Deus, acho que não está contaminado. Está difícil para o povo”, reclamou Selma.

Morador de uma das casas mais atingidas pela enchente, o aposentado Antonio Machado perdeu praticamente tudo o que tinha. Armários, colchão, roupas e mantimentos foram doados, e o aposentado agradece o empenho dos moradores da cidade, que fizeram campanha.

Na casa do aposentado, as lembranças da enchente estão gravadas na parede, que, mesmo após uma lavagem, persistem as marcas marrons. Outra lembrança desagradável é o fosso, que está cheio.

“A casa foi lavada ainda. Precisei pagar duas moças para limpar aqui. Perdi dois televisores, roupas, colchões e móveis”, afirmou. Por problemas de saúde, Machado anda pouco e utiliza uma cadeira de rodas para se locomover pela casa.

Por causa da cheia do rio Sorocaba, que passa no fundo do quintal, o aposentado precisou ficar sete dias na casa de uma conhecida da família, que mora em Tatuí.

O aposentado vive no local desde 2000. Diz que não vai embora por falta de opção. “É falta de moradia. Você vai alugar na cidade qualquer casa é um absurdo o valor. Eu não tenho condições, se eu pagar caro o aluguel, como vou comer?”, questionou.

O morador guarda um canhoto da inscrição para conseguir uma casa popular, e disse esperar ser contemplado no futuro.

A Secretaria Municipal de Infraestrutura, Meio Ambiente e Agricultura informou que não dispõe de equipe de trabalho para a limpeza de fossas. A operação será realizada por empresa terceirizada. O processo administrativo de contratação já está em andamento.

A secretaria informou, também, que o trabalho de capinação já está agendado e que segue o cronograma regular. A expectativa é de que já nesta semana seja realizado.

A Secretaria Municipal de Saúde esclareceu que realiza visitas em toda a cidade, inclusive no distrito de Americana. Novas ações preventivas e de controle ao mosquito serão realizadas ao longo das próximas semanas.

Campanha

O Fundo Social de Solidariedade de Tatuí realizou, no mês passado, uma campanha de arrecadação de donativos para as vítimas dos temporais que castigaram a cidade no início de janeiro. A campanha foi idealizada pelo Departamento de Comunicação e Gestão Estratégica.

De acordo com levantamento do Departamento do Bem-Estar Social, as principais carências das famílias são de alimentos não perecíveis, leite, colchão, roupas de cama, móveis e eletrodomésticos.

Na época, não foi possível contabilizar o número de itens doados, pois, à medida que as doações chegavam ao Fundo Social, foram repassadas para a Coordenadoria Municipal da Defesa Civil, que realizou a distribuição.

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