O atual cenário econômico do país não é favorável, e para aqueles que dependem da solidariedade humana a situação não poderia ser diferente. Porém, graças ao empenho e à dedicação de voluntários e funcionários de instituições beneficentes, muitos moradores de Tatuí que não têm condições financeiras conseguirão ter um Natal um pouco mais digno, com direito a alimentação de qualidade, lazer e presentes.
O jornal O Progresso conversou com três dessas instituições: Lar Donato Flores, Lar São Vicente de Paulo e Recanto do Bom Velhinho Vale da Lua, que há anos se dedicam a fazer o bem e melhorar a qualidade de vida de muitos que vivem à margem da sociedade. Além de um grupo de jovens, ligado à Igreja Católica, que iniciou em um bairro uma atividade em prol de crianças carentes.
Cada um deles, focada em um determinado tipo de situação, ao longo do ano, desenvolveu um trabalho de seriedade e compromisso com o próximo.
No Lar Donato Flores, a data é celebrada com apresentações das meninas que, durante o ano, frequentaram as oficinas de coral.
“Elas participam das aulas e, para fechar o ano, apresentam-se em diversas cidades da região, sendo Sorocaba uma delas”, contou Ubirajara Feltrin, diretor da entidade.
Os abrigados do Lar São Vicente de Paulo comemoraram no sábado, 19, o “Natal em família”, que consiste em reunir os familiares de todos que lá residem.
Houve a entrega de presentes, feita pelo Papai e Mamãe Noel, e também foi servido um lanche aos participantes. “A assistente social faz um contato com todos os familiares, e eles participam deste momento”, explicou o presidente do Lar, Ivan Rezende.
No Recanto do Bom Velhinho, o Natal foi comemorado no dia 12 de dezembro. Segundo o administrador do local, José Joaquim Mendes Castanho, foi servido um almoço, mas não houve entrega de presentes nem visitas.
Motivado pelo “espírito natalino” e em meio às dificuldades, ainda é possível encontrar pessoas dispostas a doar parte do que têm aos menos favorecidos.
Um exemplo foi dado pelo grupo de jovens da comunidade Nossa Senhora do Carmo, no Residencial Astória, que realizou uma campanha de arrecadação de brinquedos.
“Nós andamos pelas ruas do bairro, passando de casa em casa, entregando comunicado sobre o trabalho. Então, retornamos no dia seguinte para recolher as doações”, explicou o catequista Valdinei Pereira da Silva, que teve a iniciativa e também coordenou a campanha.
Assim como em outras ações que grandes entidades costumam fazer neste período do ano, os brinquedos arrecadados não são todos novos, porém, estão em bom estado de conservação e já não eram mais utilizados pelos donos. A doação beneficiará as crianças da Casa de Acolhimento de Tatuí.
As Instituições
A população mais carente de Tatuí vem sendo beneficiada pelo trabalho social que envolve diversas entidades, igrejas e iniciativas particulares, porém, cada uma atende determinado segmento.
Desde a criação, o Lar Donato Flores é voltado ao atendimento de meninas carentes, A partir do sonho de Donato Rafael Flores, escrevente que dedicou a vida a ajudar os desprotegidos, foi criado o Lar em sua homenagem, no ano de 1960 – o idealizador faleceu antes de ter seu sonho concluído.
A partir de 2003, foi integrado o projeto socioeducativo, complementar à escola, no qual são oferecidas às participantes, com idades entre 7 e 18 anos, diversas oficinas, sendo que, aos 14, elas passam a ser preparadas para o mercado de trabalho.
“Nossos cursos são registrados pelo Ministério do Trabalho e totalmente regularizados a partir dos 14 anos. Na medida em que as empresas solicitam, a gente encaminha essas meninas para o mercado do trabalho”, explicou o diretor.
Atualmente, a instituição tem 50 meninas em atividade trabalhista e mais 150 em fase de preparação. Ao todo, o projeto já formou cerca de 2.000 meninas.
O Recanto do Bom Velhinho Vale da Lua dedica as atividades em benefício àqueles que já não podem mais ingressar no mercado de trabalho. O espaço tem duas alas, uma masculina e outra feminina, e todos têm dormitórios e banheiros.
É uma instituição filantrópica, que iniciou os trabalhos em 1989, por Maria Benedita Garcia Bueno. O Recanto abriga, atualmente, 49 idosos, que seguem o “planejamento da casa”.
Como conta o administrador, “a rotina” do Recanto consiste em: banho às 7h; café da manhã, às 07h30; almoço, às 11h; café da tarde, às 14h, com várias igrejas e segmentos da sociedade; jantar, às 16h; e chá da noite, às 19h.
Completando 110 anos em 2015, o Lar São Vicente de Paulo abriga pessoas a partir de 60 anos de idade e em vulnerabilidade social ou busca espontânea desses idosos.
“Hoje, temos muita procura de pessoas que estão bem nas suas casas, mas que gostariam de ter uma convivência maior, num lugar que tenha atividades”, conta o presidente. Como nas demais entidades, o Lar se mantém de serviço voluntário, doações parcerias e verba do governo.
Superando a crise
Manter uma instituição filantrópica é tarefa que, embora seja gratificante aos idealizadores, é também muito difícil quando o assunto é finança.
Essas instituições recebem, em geral, uma quantia do governo ou da Prefeitura – em alguns casos, de ambos. Porém, o valor nem sempre dá para cobrir os gastos mensais.
Para continuar oferecendo qualidade de vida aos assistidos durante este ano, que foi marcado pela crise econômica, os administradores tiveram que “abusar” da criatividade para levantar fundos, além de investir na conscientização da população para que não ela deixasse de realizar as doações.
No Lar Donato Flores, o impacto não foi tão grande, como conta o diretor Feltrin: “Tivemos um ano mais ou menos como os outros anos. Com pouquinho mais de dificuldades financeiras, a nossa festa junina rendeu um pouco menos, o jantar, um pouco menos, mas a verba do governo municipal e estadual veio normalmente. Então, a gente não sofreu um ‘baque’ violento, e algumas coisas deram para cobrir com outros eventos”.
No Recanto do Bom Velhinho, a crise gerou diversas dificuldades. Castanho relata que, por ser uma situação que atingiu toda a sociedade, o numero de doações caiu consideravelmente.
“As doações quase que foram a zero, e ainda necessitamos de fraldas geriátricas, gêneros alimentícios e produtos de higiene”. Não diferente de outras entidades, o que tem mantido a instituição são eventos.
“Tivemos a feijoada realizada no Rotary por três meses consecutivos e a cavalgada do dia 22 de novembro, realizada pelo senhor João, da Autopeças Denis”, completou.
Assim como nas demais instituições, a crise econômica afetou as finanças da casa, mas ainda foi possível manter a qualidade dos serviços e a manutenção do local durante o ano.
Por sua vez, segundo Rezende, mesmo com o país em crise, o bem-estar dos idosos foi assegurado. “A providência nunca falha, apesar de todas as dificuldades que nós tivemos, aqui é uma casa muito abençoada, um lugar que tem muita oração, pois, independente da religião, o Lar está sempre aberto, e essa abertura é o que fez com que nos terminássemos o ano de 2015.”