Um Dois Feijão com Arroz

Mouzar Benedito *

Uma brincadeira de criança é falar rimando “um dois, feijão com arroz; três quatro, feijão no prato…”. “Um Dois Feijão com Arroz” virou nome de um restaurante popular no centro de São Paulo.

Uma inovação do restaurante era que a pessoa “montava” seu próprio prato. Não como os self-services de hoje (que uns amigos chamam de serve-serve). A gente olhava o cardápio e pedia ao garçom cada componente do prato, um a um.

Por exemplo: feijão preto, arroz, lombo de porco e couve; ou tutu de feijão, arroz, bisteca e salada de tomate.

Hoje, podemos também pedir porções separadas em alguns restaurantes, só que os preços são altos, um prato “montado” assim acaba custando muito caro. O “Um Dois Feijão com Arroz” era baratinho, frequentado por estudantes.

A frequência lá aos domingos era enorme, porque muita gente ia à feira de artesanato da praça da República e, em seguida, procurava um lugar próximo com comida barata e saborosa.

O restaurante chegou a abrir filiais. Uma delas ali perto, outra na praça da Sé. Eram locais preferidos por muita gente de bom gosto e pouco dinheiro. Não consigo imaginar porque eles fecharam, pois eram muito frequentados. Eu sempre frequentei o primeiro deles.

Mas mesmo sendo barato, havia estudantes que não tinham dinheiro nem pra comer lá e precisavam usar uns expedientes diferentes.

Um deles, estudante de História, não vou dizer o nome, vou chamar de Fulano. Mas ele comia lá, dando um bom espaço de tempo entre uma vez e outra. É que ele costumava dar o que chamávamos de pinote. Comia bem e depois saía correndo sem pagar a conta.

Quase nunca tinha dinheiro e fazia isso em vários lugares, muitas vezes com garçons correndo atrás.

Depois, o Fulano virou professor universitário, com carteira assinada e tudo, e voltou ao Um Dois Feijão com Arroz para comer… e pagar!

Mas justo nesse dia, um garçom se lembrou dele, do pinote acontecido muito tempo antes. Chamou os donos e, com um policial que estava por ali, enquadraram o Fulano.

Ele se fez de ofendido, dizendo “eu sou um professor universitário”, mostrando a carteira profissional e dando bronca no garçom, nos donos e no policial.

Acabou comendo de graça, de novo. Desta vez, sem garçom correndo atrás, e com pedido de desculpas pela ofensa…

* Escritor, geógrafo e contador de causos.


Livros do Mouzar Benedito pelas editoras Boitempo, Limiar e Terra Redonda.

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