Da reportagem
Detentor de cinco recordes mundiais, o avião “Anequim” passa por período de testes no aeródromo municipal, após receber um novo motor. A aeronave brasileira deverá deixar o país até o final de fevereiro.
Construído com estrutura básica de fibra de carbono e elementos de titânio, o avião recebeu o nome em homenagem ao tubarão Anequim, cuja principal característica é a alta velocidade.
O projeto foi desenvolvido por estudantes de mestrado e graduação do CEA (Centro de Estudos Aeronáuticos), da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), a partir de 2011, sob coordenação do professor Paulo Iscold.
Anequim possui um motor de quatro cilindros e pesa menos de 500 quilos. Ele foi construído conforme as medidas específicas do piloto Gúnar Armin Halboth. A visibilidade dentro do avião é restrita para que ele seja o mais aerodinâmico possível, para “cortar o ar”.
Conforme o piloto, o principal objetivo do projeto era bater o recorde na distância de três quilômetros, com uma média de quatro passagens baixas. “Os cem metros rasos da aviação”, explica Halboth.
Entretanto, pilotado por ele, Anequim conseguiu quebrar, além deste, outros quatro recordes mundiais, na Base Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, com apoio da Força Aérea Brasileira, em agosto de 2015.
O recorde anterior em trecho de três quilômetros com altitude restrita era de 466,83 quilômetros por hora, mas a aeronave aumentou-o para 521,08 quilômetros por hora. A melhor marca em trecho de 15 quilômetros passou de 455,8 para 511,18 quilômetros por hora.
Halboth destaca o fato de o avião ter conseguido aumentar dois recordes em mais de cem quilômetros em comparação aos anteriores. Os recordes em trechos de cem quilômetros e 500 quilômetros em curso fechado passaram de 389,6 e 387,4 para 490,14 e 493,74 quilômetros por hora, respectivamente.
A aeronave ainda bateu o recorde mundial de menor tempo no alcance de 3.000 metros de altitude. Antes, a melhor marca de um avião que havia atingido essa altitude, a partir da decolagem, era de 3 minutos e 8 segundos. Esse tempo foi superado pelo Anequim, ao alcançar a altitude em 2 minutos e 26 segundos.
O piloto conta que, para bater os recordes mundiais, a equipe, formada por alunos e professores da UFMG, ficou abrigada na Base Aérea da FAB, junto ao Hangar do Zeppelin – um dos últimos hangares de dirigíveis existentes e um dos mais bem conservados do mundo, tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
“Eu sou uma parte desse quebra-cabeças. É um trabalho de colaboração muito interessante”, afirma Halboth. Ele ainda sinaliza que os recordes batidos tiveram um grande reconhecimento, sendo publicados em reportagens de capa nas principais revistas internacionais de avião leve.
“Houve um reconhecimento muito grande mundial, talvez mais reconhecimento mundial do que interno”, reconhece.
Além de piloto recordista mundial, Halboth é associado do Aeroclube de Tatuí, piloto de planadores e competidor de acrobacias aéreas, modalidade que vem treinando em Tatuí desde 2019.
Após receber um novo motor, Anequim passa por diversos períodos de testes feitos por Halboth no aeródromo municipal. Conforme Alexandre Simões, ex-presidente do Aeroclube de Tatuí, o motivo dos ensaios na cidade é que o avião passou por alterações para, futuramente, voltar a quebrar recordes.
Simões reforça que Tatuí é um ótimo local para esses tipos de testes e treinamentos. Segundo ele, “com o crescimento do espaço aéreo dos grandes centros urbanos, cada vez mais congestionados, os voos de treinamento e desenvolvimento tecnológico da aviação geral possuem cada vez menos espaço para exercer suas atividades”.
“Nesse sentido, Tatuí possui uma das melhores infraestruturas e espaço aéreo do estado de São Paulo, graças à parceria entre o Aeroclube de Tatuí e a prefeitura”, declarou.
“O futuro pode nos trazer boas oportunidades de parcerias com universidades, desenvolvendo tecnologia através do aeródromo”, complementou.
Em breve, Anequim será desmontado e enviado para a Cal Poly (California Polytechnic State University, em tradução livre, Universidade Politécnica Estadual da Califórnia), nos Estados Unidos, uma universidade pública localizada em San Luis Obispo, Califórnia, na qual Iscold está ministrando aulas.
O professor e coordenador do projeto na UFMG deixou o Brasil para trabalhar no projeto Nixus, primeiro planador “Fly-By-Wire” (sistema de controle por cabo elétrico é um tipo de controle das superfícies móveis de um avião por computador) da Nasa.
Conforme Simões, os alunos da Cal Poly formarão equipes para tentar fazer a adaptação do projeto aeronáutico para o novo motor. Inicialmente, a prioridade é de que a aeronave sirva como plataforma didática e de pesquisa, mas também com o objetivo de quebra de novos recordes.
“Se os recordes forem batidos, serão pelo próprio Anequim. É um motivo de muito orgulho nacional e, principalmente, para Tatuí, estar presenciando a despedida desse recordista mundial”, ressaltou. “Para nós, é uma dádiva poder ser testemunha disso”, finaliza Simões.