A UPD (Unidade de Pesquisa e Desenvolvimento) de Tatuí, conhecida como “Estação Experimental”, detentora do segundo maior banco ativo de germoplasma (coleção genética) de bambu da América Latina, participará de um grupo de trabalho para disseminar conhecimento sobre o cultivo, manejo e aplicações do vegetal.
O grupo envolverá a área técnica da UPD e a Aprobambu (Associação Brasileira de Produtores de Bambu). Em longo prazo, a parceria prevê a construção de uma unidade agroindustrial experimental junto à Unidade de Pesquisa.
De acordo com o chefe da seção técnica da UPD de Tatuí, Marcelo Ticelli, o grupo de trabalho originou-se com o objetivo em comum, do órgão estadual e da associação de produtores, de promover o uso e manejo do vegetal, que até pouco tempo atrás era considerada uma “praga” por agricultores.
“O bambu está se expandindo e deixou de ser uma praga. É uma planta 100% utilizável. Tem espécies que podem ser consumidas, outras usadas para fazer mobília, gerar energia ou na construção civil”, afirmou o pesquisador.
O protocolo de intenções do grupo de trabalho não prevê quando a unidade agroindustrial experimental será construída, entretanto, na opinião de Ticelli, não deverá tardar, pois a Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento está trabalhando para diminuir o atraso das pesquisas locais frente às de outros lugares do mundo.
“É a abertura de um caminho para que as coisas comecem a acontecer dentro da secretaria. Hoje, temos todo esse patrimônio genético que é pouco explorado”, disse.
A UPD de Tatuí é detentora do maior banco de germoplasma de bambu do país e do segundo maior da América Latina, ficando atrás somente da Colômbia.
O banco foi iniciado pelo pesquisador Júlio C. Medina, em 1958, e continuado por Armando Pettinelli e Antônio L. B. Salgado, Armando Pettinelli Júnior e Márcio Ito.
São 70 touceiras de bambu de diferentes gêneros e espécies, com aplicações diversas, como alimentação humana e animal, uso em construções, manufatura de móveis e construção civil.
Uma das pesquisas já em andamento consiste na substituição da madeira por bambu em fornos de cozimento das olarias, o que poderia beneficiar os produtores locais de produtos cerâmicos.
O custo do bambu ainda não foi calculado, entretanto, o pesquisador vê como promissor o uso da planta, que tem poder calorífico semelhante ao da madeira e pode apresentar vantagens ao combustível tradicional.
“Para explorar comercialmente uma touceira de bambu, demora cerca de cinco anos. Não fizemos comparações de valores com a madeira, mas é um meio que está se difundindo bastante”, declarou.
Outra linha de pesquisa a ser explorada pelo grupo de trabalho é a utilização da planta em locais sujeitos a erosão, como encostas. O bambu poderá ser usado como método complementar de estabilização e, até, na recomposição de matas ciliares.
De acordo com o pesquisador, alguns interessados na planta procuram a UPD de para obterem informações sobre espécies mais adequadas à produção de móveis.
Como o grupo de trabalho prevê a construção de viveiros e a multiplicação de mudas, a disseminação da planta para objetivos comerciais e industriais específicos deve aumentar.
“Tem muita gente que vem procurar espécies para fabricar móveis, sofás. Se tivéssemos condições fazer a multiplicação e construir um viveiro para explorar, teríamos procura maior”.
A planta pode servir como renda extra para agricultores familiares, que poderiam explorar o bambu para a venda direta às fabricas ou, então, cultivar espécies mais adaptadas ao uso em trabalhos manuais, como o fabrico de cestas artesanais.
Na China, afirmou Ticelli, o vegetal da família das gramíneas é utilizado para praticamente tudo. “É matéria prima de primeira. Agora que começamos a usar mais”.
Até dois anos atrás, a UPD local tinha uma casa feita com bambu. As hastes da gramínea não receberam nenhum tipo de tratamento fúngico, bacteriano e inseticida e durou dez anos. Ela foi demolida após uma infestação de caruncho, que comprometeu a estrutura.
“Tem tratamentos que se aplicam ao bambu e a vida útil duplica. Isso mostra a durabilidade sem produtos específicos”, explicou.
Marcada pela versatilidade nas aplicações e usos, o vegetal se destaca por suportar diferenças grandes de temperatura, altitude e regime chuvoso. A única manutenção, segundo o pesquisador, é a limpeza das touceiras.
Ticelli afirma que o banco ativo de germoplasma de bambu é um “tesouro” que será explorado pelo grupo de trabalho. Uma parceria com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) possibilitou a atualização da identificação das touceiras.
Outras unidades de pesquisa e desenvolvimento do Estado possuem bancos genéticos da planta. Campinas, Ribeirão Preto, Ubatuba, Pindorama e Paraguaçu Paulista também estão investindo no incentivo do uso da gramínea. Nenhuma delas possui a diversidade da coleção tatuiana.
Pesquisa de grãos
Além da coleção da gramínea, a UPD de Tatuí colabora no desenvolvimento de novas cultivares de sementes. Um dos testes desenvolvidos atualmente pela equipe, composta por oito pessoas, é o ensaio de valor de cultivo e uso de uma linhagem de feijoeiro desenvolvida pelo IAC (Instituto Agronômico de Campinas).
A nova cultivar é submetida a testes de campo, que avaliam a produtividade, a incidência, resistências a pragas e adaptação climática. A pesquisa antecede o registro e a comercialização de sementes a produtores rurais.
Esse ensaio é realizado simultaneamente em diversas unidades de pesquisas do Estado e é imprescindível para o Registro Nacional de Cultivares, do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento).
Outro teste de campo no qual a unidade tatuiana participa e engloba diversos pontos de São Paulo é o “Ensaio Regional de Cultivares de Milho”. São 32 cultivares, que disputam a produtividade por hectare plantado.
O resultado da disputa é publicado na internet e em formato de apostilas e serve de orientação a produtores rurais que procuram sementes com melhor adaptação e produtividade na região onde planta.
“Todos os resultados feitos aqui em Tatuí, seja em Votuporanga, seja em Jaboticabal, na Unesp (Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”), são mandados para Campinas, para tabular e montar o ranking, que é disponibilizado ao agricultor”, contou.
A equipe da UPD de Tatuí colaborou com a produção de sementes da IAC comercializadas em todo o Estado. Parte dos 48 alqueires, equivalentes a 118 hectares, são usados para multiplicação de sementes do Instituto.
Nos últimos dois anos, foram enviados, para Campinas, 80 toneladas de sementes de trigo, arroz sequeiro (plantado sem irrigação), feijão, milho e triticale (cereal híbrido, resultado do cruzamento de trigo e centeio).
“Essas sementes retornam para o IAC, que faz o tratamento e a melhora da qualidade física e realiza análises laboratoriais. Após isso, as sementes são disponibilizadas no mercado”, explicou.
Os serviços de plantio e colheita de sementes rendem à UPD local recursos que são utilizados na manutenção da fazenda. De acordo com o chefe de seção, 40% dos lucros com as vendas das sementes são revertidas para a unidade tatuiana.
A UPD de Tatuí também recebe recursos com a venda de milho da lavoura de custeio e com o arrendamento de terras para cultivo canavieiro.