Reuniões semanais entre familiares e deficientes são realizadas na Apae





Amanda Mageste

Problema mais discutidos em encontros sediados na Apae são benefícios oferecidos aos deficientes

 

Todas as terças-feiras, das 19h às 21h, a Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) promove encontro entre as famílias de assistidos pela instituição com o objetivo de melhorar a qualidade de vida das pessoas com deficiência.

De acordo com a diretora administrativa da Apae, Rita de Cassia Leme Ramos, em cada semana são trabalhados grupos diferentes. As reuniões são feitas em blocos, conforme idade e dificuldade dos assistidos, e sob a orientação de assistente social, teólogo e psicólogo.

Há grupos de crianças, adolescentes e pessoas com até 30 anos. Quando há encontro com familiares que possuem parentes com deficiências nessa idade, as discussões giram em torno do modo de viver das pessoas e da vulnerabilidade emocional e financeira dos familiares.

Com um grupo de familiares de deficientes com mais de 30 anos, a equipe da Apae trata a autonomia. É trabalhada a sexualidade, os direitos, a inclusão no mercado de trabalho e o “envelhecer”.

Os encontros são somente para familiares de assistidos pela instituição. Para a diretora, as reuniões são importantes para tirar dúvidas sobre assuntos que cercam as vidas dos deficientes.

Conforme a diretora, as reuniões auxiliam no desenvolvimento dos deficientes e das famílias deles. Ela contou que, muitas vezes, há os que estão bem situadas no contexto familiar, mas não têm poder de “produção”.

“Será que essas famílias estão promovendo autonomia aos seus filhos, de forma que eles consigam se sustentar, terem autocuidado, se alimentarem, se vestirem sozinhos?”, destacou Rita.

Com a finalidade de ajudar no autodesenvolvimento é que ocorrem as reuniões. Além disso, são discutidas questões como saúde, direitos, educação e outros.

Há reuniões que tratam familiares que descobriram há pouco tempo que o filho possui deficiência mental ou intelectual. Com eles, são feitos tratamentos baseados no psicológico de cada membro.

“Essas famílias, às vezes, desestruturam-se tanto, que, quando chegam para a gente, temos que tratar mais a família do que a criança. Porque a deficiência é uma coisa já instalada, não é uma doença que tem cura. Vai ficar do começo ao fim da vida daquele ser humano”, destacou a diretora.

Segundo Rita, os familiares muitas vezes não compreendem o contexto em que se encontram e acabam entrando em um processo de sofrimento muito grande. Portanto, nas reuniões, têm abertura para falar sobre as angustias.

As famílias e os deficientes usam o encontro para conseguirem entender o conceito das deficiências, quais as condições e perspectivas de futuro. Além de servir como “um apoio familiar”.

Rita contou que os encontros são importantes, também, para que os familiares e deficientes saibam quais são os direitos deles, e para que haja envolvimento entre eles.

“A gente também faz um trabalho de autoconhecimento, de dar voz à pessoa com deficiência”, acrescentou a diretora.

Os direitos a benefícios como Loas (Lei Orgânica da Assistência Social) e BPC (Benefício de Prestação Continuada) são “bastante trabalhados” nas reuniões. Segundo a diretora, muitos ainda não sabem como eles funcionam.

“Ensinamos como as famílias podem acessar os benefícios, porque, muitas vezes, elas têm esse direito e não sabem como fazer. São detalhes dentro da lei que as impedem de ter acesso àquele benefício”, explicou.

De acordo com a diretora, há famílias muito bem orientadas quanto aos direitos dos deficientes. Porém, outras não sabem nem que possuem benefícios.

Baseada na falta de informações, a equipe da Apae convidou o advogado José Carlos de Quevedo Junior para comandar a reunião de terça-feira, 5.

Segundo o advogado, o encontro foi muito produtivo, porque muitas pessoas apresentaram diversas dúvidas sobre quem pode conseguir benefícios e como consegui-los.

“A população, em geral, tem dúvidas. Então, nós entendemos que o governo não faz a mínima questão de divulgar e deixar claro para a população qual seu direito de benefício”, ressaltou.

Quevedo Junior afirmou que há uma série de benefícios que são negados pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), “e as pessoas se contentam com a negativa, deixando de buscar vias judiciais”.

O advogado disse que a falta de informação é a maior causa de as pessoas não conseguirem os benefícios dos quais possuem direitos. “E isso não é algo específico da Apae, infelizmente é no geral”.

Conforme Quevedo Junior, a maior dificuldade apresentada pelos participantes da reunião foi a compreensão do que são os benefícios previdenciário e assistencial.

O advogado disse ser importante que os deficientes e familiares procurem ajuda de um advogado especializado na área previdenciária, caso não consigam os benefícios por meio do INSS.

“O segurado não deve se contentar com a resposta que o INSS deu. O INSS é regido por algumas instruções normativas que nem sempre estão no compasso que a lei define”, destacou Quevedo Junior.

O advogado aconselha que o segurado procure o INSS e faça o requerimento administrativo antes de procurar um profissional na área jurídica.

Afirmou, porém, que, apesar de os deficientes possuírem benefícios sociais, não devem deixar de procurar uma posição no mercado de trabalho.

Para ele, há muitos deficientes que possuem potencial para trabalhar, mas obstem-se disso para receberem ajuda mensal do governo. E, de acordo com o advogado, por causa da Lei de Cotas, falta mão de obra de pessoas com deficiência.

Segundo o advogado, é importante que o estabelecimento que contrata e o deficiente tenham cautela sobre as atividades desenvolvidas. O trabalho deve ser compatível com a deficiência da pessoa.

“As atividades não podem ser perigosas, (o deficiente) não pode trabalhar em atividades insalubres e à noite. Então, tem que ser compatível mesmo com a condição de saúde do deficiente”, destacou o advogado.

Para ele, não há muitas buscas de deficientes para ingressarem no mercado de trabalho. Um dos motivos para isso seria que eles precisam superar “preconceitos”.

“A sociedade ainda não está preparada para interpretar o deficiente como pessoa hábil a exercer uma vida quase normal, como todas. Então, dependendo do tipo de deficiência, acredito que exista certa discriminação da população. Tanto que é comum as pessoas com deficiências serem relegadas a ficarem em casa”, argumentou.

O advogado acredita que algumas famílias preferem não expor os deficientes. De acordo com ele, há uma parcela significativa da população deficiente “escondida” dentro de casa.

Para ele, é preciso grande avanço com relação à contratação de deficientes em empresas. “Acho que a gente tem que ter campanhas incentivando a contratação, a exposição das pessoas, para que se possa, de fato, inseri-las no mercado e dar uma condição de vida digna, que é isso que nossa constituição estabelece”.