Cinquenta anos serão completados, neste dia 1º de abril, do golpe militar de 1964. Muito se fala, divulga, publica e, especialmente, se opina sobre o assunto. Mais do mesmo, portanto, não acrescenta nada.
Importante é conhecer a história para, verdadeiramente, não se cometer os mesmos erros. Não seria por outro motivo que a Alemanha, por exemplo, mantém ainda erguidas as estruturas de campos de concentração nazistas, monumentos como o Memorial aos Judeus Mortos na Europa e outros tantos marcos que simbolizam o Holocausto.
Teoricamente, aposta-se na ideia de que o ser humano aprende com os erros e, assim, não comete os mesmos equívocos mais de uma vez (risos?). Pode até ser verdade, mas somente para uma parcela menor de cidadãos, aquela que, de fato, busca, retém e avalia as informações.
Grande parte da população, contudo, se deixa levar pelo senso comum, sempre impregnado por bobagens, afirmações postas como definitivas, embora sem embasamento e não raro comprometidas com interesses não “sociais”, embora este ideal justifique tudo na atualidade, até os absurdos e excessos. Se é “tudo pelo social”, então, pode.
A verdade é que essa cínica premissa tem imposto um preço alto demais. Pelo social, perdem-se direitos sagrados, como a própria liberdade. Que tem isto a ver com o nazismo e a ditadura: Hitler, feito os militares brasileiros, tomaram o poder em nome dos “interesses do povo” – do social (risos novamente?).
Neste sentido, tanto faz se a sempre opressora, truculenta e assassina ditadura é de direita, esquerda ou sem direção, até porque alheia e ignorante sobre qualquer conceito político e filosófico.
Sobre a história propriamente dita, há infindáveis livros e filmes sobre o nazismo – os quais, aliás e certamente, nunca foram vistos por essas bestas carecas no Brasil, que se dizem “defensores da pureza de raça”, os “skinheads”, por exemplo (risos é pouco. Gargalhadas?).
Pureza no Brasil? Se o fanático ariano tivesse ganhado a guerra, provavelmente, nem perderia tempo construindo campos de concentração num país tão miscigenado quanto o Brasil. Certamente, mandaria uma chuva de bombas para acabar com tudo de uma vez, assim extinguindo a “não raça” por completo.
Por aqui, a desculpa para se intervir em favor do povo foi a “ameaça comunista”, supostamente em iminência por conta de propostas políticas de reformas “esquerdistas” – as quais, aliás, se comparadas ao que se vê hoje no país, tornam-se risíveis, haja vista ao Bolsa Família (“ad eternum”, por ter se tornado instrumento político imprescindível a qualquer candidato à presidência), à quebradeira de patrimônios públicos e bens privados sem qualquer punição, à crença de que os animais são mais importantes que os seres humanos etc., etc.
Mas, para quem se interessa em saber mais sobre o golpe tupiniquim, embora não existam tantas produções audiovisuais (por que será?), há um grande volume de livros, inclusive, sendo lançados. Um dos melhores, porém, é antigo. Chama-se “Brasil Nunca Mais” e contém farta documentação e depoimentos que comprovam torturas e assassinatos cometidos pelo Estado.
Entre tantos aspectos nefastos do sectarismo natural das ditaduras – de ambos os lados -, quanto à brasileira, um dos piores, além de se repercutir até hoje, parece ganhar corpo de maneira descontrolada e irracional.
Este fenômeno consiste no fato de que tudo aquilo que tem a ver com conceitos políticos de “direita” seria ruim – ou, como querem os incautos alienados , “do mal”. Naturalmente, porque a ditadura, nas instâncias social e econômica, seguiu a cartilha do conservadorismo.
Assim, o mundo, que é óbvio e explicitamente colorido, tem sido apresentado e interpretado somente em preto e branco, numa infantil e idiota contraposição entre “do bem” e “do mal”.
Em meio a esta bobagem, pela visão “de esquerda”, todo patrão é um “canalha explorador”. Ganhar dinheiro, por consequência, é pecado.
Problema seria, apenas, ganhar dinheiro desonestamente, tal como ser empreendedor é fundamental ao pão de cada dia – de todos, patrões e empregados.
Em lugares mais civilizados, por conta disso, o empreendedorismo é estimulado, admirado, ao passo em que, aqui, o termo empresário está se tornando palavrão.
Apenas para se ter noção da importância, particularmente, dos micros e pequenos empresários – os que mais pagam todos os tipos de contas, principalmente dessa bobagem retórica -, no Brasil, existem mais de 5 milhões de pequenos negócios, entre micros e pequenas empresas (MPEs) e microempreendedores individuais (MEIs).
Desse total, mais de 2 milhões estão no Estado de São Paulo e 5.800, em Tatuí, segundo dados do Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae), divulgados por O Progresso nesta quarta-feira.
Isso significa que 99% das empresas instaladas no Brasil são MPEs e que 67% dos postos de trabalho com carteira assinada estão dentro, justamente, desses empreendimentos. Ou seja, de cada dez vagas de emprego, quase sete estão em MPEs.
A despeito disso, ser empresário (com o perdão da palavra), é algo suspeito. Ganhar dinheiro, então, mostra evidente de mau-caratismo – embora seja impossível achar quem trabalhe de graça, até porque esse cidadão já deve ter morrido de fome e levado a família junto.
É certo que essa ditadura medonha que agora é lembrada cometeu muitos crimes, além de assassinatos e torturas, como a imposição da censura e o menosprezo aos direitos humanos, mas, não apenas isso: deixou herança de preconceito contra tudo aquilo que não seja aparentemente pelo social.
Por conta dessa visão equivocada, habilmente implantada no senso comum por políticos então opositores ao regime militar, uma ditadura como a cubana é apresentada como “do bem”, e a brasileira, “do mal”, quando ambas deveriam ser postas no mesmo patamar de opressão e sectarismos.
Como resultado da insensibilidade, brutalidade e autoritarismo do pessoal de direita e do poder de retórica vã do pessoal de esquerda – não menos autoritário -, o país, 50 anos depois, ainda sofre.
Alguns até podem argumentar que o Estado não mais tortura ou mata. Só que estariam equivocados, tampouco teriam coragem de dizer isto, por exemplo, à família da auxiliar de serviços gerais Claudia Ferreira da Silva, cuja uma “parte” do corpo foi arrastado na rua enquanto a outra parte seguia dentro de uma viatura, depois de suposta troca de tiros.
Basta observar o volume absurdo de mortes cometidas por militares – ainda! -, a pretexto de enfrentamentos com marginais. Todos os mortos são marginais? Não. Há punições, posteriormente? Também não. Ou seja, é o Estado matando, igual a 50 anos…
Com os mesmos problemas sociais sem solução, pouco mudou, salvo um pouco de liberdade a mais – cujo autoritarismo da esquerda busca sistematicamente cercear, seja pela Justiça, seja pelo poder econômico a partir de dinheiro público, pois não aceita oposição.
E assim, o Brasil agora padece sob essa política demasiadamente assistencialista, demagoga e oportunista, que cultua o “coitadismo” e “tortura” os empreendedores – grandes e pequenos – essa gente “do mal”, que insiste em gerar emprego e girar a economia, ao invés de distribuir esmola a partir da impressionante coleção de bolsas públicas.