O aumento da oferta imobiliária é observado a olhos nus na região central e bairros da cidade. O número de imóveis disponíveis para aluguel ou venda é cada vez maior. As placas indicam a disponibilidade e a constatação é feita por três de quatro corretores locais, que destacam: está sobrando imóvel e faltando pretendente.
A situação teria começado há dois anos e se agravado nos últimos três meses, segundo Luís Fernando Simões, que atua no ramo há 20 anos.
“Não está fácil, e a tendência é que o valor de aluguel, principalmente, caia. Com a redução de vagas de emprego, a procura diminuiu, há imóveis vagos, e a tendência é de que os valores despenquem”, afirmou.
Para o corretor, nem mesmo a venda de imóveis escapa do atual momento de crise. Ele afirma que os investidores estão duvidosos e poucos estão adquirindo imóveis no momento.
“As pessoas estão receosas. Quem está alugando, procura casas mais baratas ou, até, acabam encontrando outras alternativas, como morar com a sogra.”
O aumento da desocupação de imóveis, na visão do corretor Walter Teixeira, é real e sentido mais fortemente nos últimos 12 meses.
“Há um ano, a oferta era menor. Hoje, a situação mudou. É preciso baixar o preço, fazer concessões. Há empreendedor que, inclusive, está pagando toda a documentação do imóvel para quem desejar adquirir um apartamento, por exemplo”, comentou.
Segundo Teixeira, a abertura de novos empreendimentos na cidade – principalmente condomínios com apartamentos compactos e residenciais subsidiados pelo programa social “Minha Casa Minha Vida” – também fez crescer a desocupação.
“Há várias situações que são refletidas na desocupação: aquelas que compraram seus imóveis, as que estão optando por mudar para casas menores e, também, pessoas que perderam o emprego e mudaram de município”, apontou.
Na imobiliária de Teixeira, há imóveis que aguardam por aluguel há cinco meses. “Há, também, casa nova pronta há mais de um ano que não sai. A economia não está ajudando”, destacou.
Outro corretor local, Ricarte Campos, que atua há 30 anos na área, afirma que a desocupação é, de fato, um “ajuste no mercado”.
“As pessoas estão, mesmo, buscando imóveis mais baratos para economizar. O preço de locação manteve-se e, agora, é preciso negociação, pois as pessoas buscam imóveis de R$ 700 a R$ 1000. Uma economia de R$ 50 ou R$ 100 mensais fará muita diferença no orçamento das famílias”, exemplificou.
A queda no valor dos imóveis locais é indicada pelo índice Fipe Zap, indicador de preços de imóveis e, atualmente, o principal termômetro do mercado imobiliário brasileiro.
Segundo o índice, o valor médio do metro quadrado na área central de Tatuí, em fevereiro deste ano, era de R$ 6.739. Em agosto, o índice indicava que o metro quadrado na região era de R$ 3.288.
Entre os fatores negativos, a entidade citou aumento nas taxas de desemprego e de juros, enfraquecimento do índice de confiança do consumidor, restrições das linhas de financiamento para compradores de imóveis e maiores retiradas dos depósitos de poupança.
A desaceleração é justificada por conta da crises política, econômica e pelo consequente desemprego. Inseguros, consumidores passaram a hesitar antes de aderir a um crédito imobiliário.
Temerosos pelo emprego, também veem a inflação corroer a renda e os juros bancários subirem sem cessar. Além disso, a queda no poder de compra impacta até mais no mercado imobiliário que em outros setores da economia, pois a decisão de investimento em um imóvel costuma ser de longuíssimo prazo – entre 20 e 30 anos.
‘Nunca valeu o que pediam’
O correto Cristiano Figueiredo, perito avaliador do setor imobiliário e que atua há quase 20 anos no mercado local, compartilha opinião diferente. Para ele, o fluxo imobiliário está normal ao registrar queda; os valores é que estavam, anteriormente, superfaturados.
“As pessoas estavam pedindo valores irreais. O proprietário pedir é uma coisa, o mercado pagar é outra. Acredito que vivemos, na verdade, uma crise de avaliação nos últimos dois anos. Hoje, o momento é de baixa de valores”, argumentou.
Segundo Figueiredo, os valores de aluguel registram queda média de 8% a 15%, variação que depende do bairro onde está localizado o imóvel.
“Se o bairro não tem produto, o mercado oscila. Para mim, a situação deve se estabilizar até o final do ano, com valores mais próximos dos reais. Na verdade, os imóveis nunca valeram o que estava sendo pedido. Nos últimos dez anos, não pararam de subir e, nos últimos dois, houve um pico irreal, a meu ver. A restrição levou a novas avaliações e à estabilização”, ponderou.
Moeda forte
O aumento da oferta é vantajoso para quem estiver disposto a comprar. É possível, com a demanda, negociar descontos impensáveis bem pouco tempo atrás.
Teixeira é categórico ao afirmar que, havendo a disponibilidade econômica, é sempre indicada a aquisição de imóveis. Ele, assim como Campos, destaca que o investimento é “porto seguro em meio a mercado de incertezas”. “Pode haver boas oportunidades, pois, em meio à crise, muitos crescem”, afirmaram.
Mais otimista, Figueiredo acredita que o início do ano trará novas oportunidades de negócio em um mercado aquecido. “Há pesquisas sérias que indicam que nosso mercado é promissor e temos, anualmente, um déficit habitacional de mil unidades”.
“Neste ano, com o lançamento de diversos empreendimentos, esse déficit já foi suprido. Mas, no próximo ano, independentemente de crise política, novas oportunidades surgirão. O imóvel é, ainda, a moeda mais forte que existe”, concluiu.
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