Portal de emprego para PCD não tem adesão desde a inauguração





Inaugurado em abril deste ano, o site “PCD Tatuí” consiste em um portal de empregos para a pessoa com deficiência. A ideia de possibilitar cadastro de currículo por parte de quem está em busca de oportunidade e da criação de um banco de dados para que as empresas cumpram a legislação não “decolou”.

É o que divulgou o idealizador do projeto, Marcos Bueno. Com apoio do vereador e presidente do Sindmetal (Sindicato dos Metalúrgicos de Tatuí e Região), Ronaldo José da Mota, ele viabilizou uma ação apresentada como inédita na região.

O portal possibilita que os deficientes cadastrem gratuitamente currículos. Para isso, é preciso um computador com acesso à internet e o preenchimento de dados pessoais.

O acesso é feito por um “link” no site do Sindmetal (http://sindmetaltatui.com.br), ou digitando-se pcdtatui.com.br no navegador.

“Por incrível que pareça, não conseguimos adesão. Houve divulgação em diversos canais. Criamos uma página em rede social (Facebook), mas não registramos nenhuma participação”, disse Bueno. Conforme ele, o fato de não haver cadastro surpreendeu os envolvidos de forma negativa, uma vez que essa é uma das principais demandas das indústrias que buscam respeitar a legislação.

Sancionada em julho de 1991, a lei 8.213 estabelece cumprimento de cotas por parte das empresas para a contratação de portadores de deficiência física. Os percentuais variam entre 2% e 5%, tendo de ser preenchidos, obrigatoriamente, a partir de cem empregados.

O site é uma continuação de iniciativa do sindicato que abriu, em dezembro do ano passado, cadastramento de PCDs. Bueno explicou que o serviço “demorou a sair” por conta da formatação. A etapa mais complicada consistiu na programação do formulário a ser preenchido pelo deficiente.

“O Ronaldo (José da Mota) deu uma força e colocou até na página pessoal dele um ‘link’. Nós tivemos até alguns ‘links’ patrocinados e divulgamos no jornal do sindicato. Mesmo assim, não houve adesão”, descreveu Bueno.

De acordo com ele, nem mesmo as instituições (entidades que trabalham com esse público) e empresas participaram. Bueno informou que o site ainda continua em funcionamento e que algumas parcerias chegaram a ser cogitadas.

Conforme Bueno, alunos da Fatec (Faculdade de Tecnologia) “Professor Wilson Roberto Ribeiro de Camargo” manifestaram interesse em administrar o conteúdo do site. Na ocasião, preparavam um TCC (trabalho de conclusão de curso) sobre o tema e disseram estar dispostos a colaborar.

“Nós tivemos a sugestão de algumas parcerias, mas acho que os estudantes sentiram que o mercado não é tão simples de trabalhar e desistiram”, comentou.

Além da temática, Bueno avaliou que o momento econômico também interfere no andamento do projeto. Embora não exista relação entre o desemprego e a cota que as empresas têm de cumprir, a redução da contratação diminui a procura pela mão de obra com deficiência.

O presidente do Sindmetal explicou que as empresas com mais de mil empregados têm de preencher entre 2% e 5% do quadro com deficientes, independentemente do momento econômico.

“Se a indústria tiver de dispensar algum funcionário, isso não significa que ela vai mandar embora os deficientes de modo proporcional. Também não é necessário aumentar o quadro”, disse.

Nesse sentido, a cota de trabalhadores PCDs mantém-se estável, mas pode ser ajustável ao panorama econômico da empresa. O mesmo ocorre com o piso salarial.

Apesar disso, Bueno disse que o site não registrou nenhum cadastro, em dois meses de funcionamento, por uma questão diferente. Conforme ele, falta organização por parte das empresas e das famílias em colocar esse público em evidência.

Há quase um ano trabalhando com esse segmento, Bueno afirmou que sentiu “pouca evolução”. “Nós criamos ferramentas (o site), oferecemos cursos de qualificação. Os meios existem, mas não há a adesão. Esse é o maior dificultador que estamos encontrando, e não foi por falta de divulgação”.

Para ele, o desinteresse representa “o ponto mais preocupante” no sentido de promoção da igualdade para as pessoas com deficiência. Em Tatuí, apenas a Apodet (Associação dos Portadores de Deficiência de Tatuí) procurou Bueno para estabelecer contato a respeito do trabalho de cadastramento.

“Nós conversamos não de forma oficial, mas, até o momento, não houve evolução. A Apodet é a que se mostrou mais interessada em participar”, contou.

Bueno considera que o assunto deve ser mais trabalhado no âmbito empresarial. A razão é que o trabalho também beneficia as empresas. “Não há uma procura por parte delas ,e nós sentimos que, não adianta a sociedade fazer a parte dela se as empresas não estão predispostas ao diálogo”, argumentou.

Em Tatuí, Bueno destacou que houve um primeiro diálogo, mas que não deu resultados. Segundo ele, as empresas do município aceitam discutir o assunto, participar de eventos relacionados ao tema, mas não adotam ações práticas.

“Não há uma afinidade entre a empresa usar essa ferramenta e a família incentivar a inserção desse público. Acredito que deveria ser um assunto amadurecido mais na rede local. Até porque o cadastro serviria para fazer um mapeamento para apurar qual é essa população e o tipo de deficiência dela”.

Nessa linha de trabalho, Bueno afirmou que está buscando novas alternativas. Entre elas, um censo, por meio do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) de Itu, com apoio da Prefeitura.

O projeto envolve o sindicato, com aval do prefeito José Manoel Correa Coelho, Manu. A ideia é realizar um mapeamento para definição das políticas públicas necessárias para atender melhor às pessoas com deficiência.

Com base nos dados, Bueno explicou que o município, o sindicato e os parceiros poderão viabilizar um “diálogo mais forte com a sociedade”. A partir desse ponto, seriam estudadas ações mais “contundentes”, como conferências.

“Qualquer coisa que façamos, hoje, fica na subjetividade, ou seja, estamos entendendo que pode ser isso, mas não temos dado concreto nas mãos. Como não existe um censo qualificado, não sabemos que passo dar”, argumentou.

Para Bueno, o censo é a melhor ferramenta para definição de qualquer tipo de iniciativa. A partir dele, o Executivo poderá implantar modelos de políticas públicas e as entidades, verificarem se o portal será, ou não, “a melhor forma de diálogo ou ferramenta” para auxílio no processo de inclusão.