Pela vida das crianças, já é hora de agir diferente

Há não muito tempo, à pergunta “quem foi a pessoa mais inteligente do mundo”, era comum ter como resposta, entre alguns outros poucos, o nome de Albert Eisntein, autor da Teoria da Relatividade (levando a equação física “E=mc²” à condição de “pop”, algo antes nunca visto na história da Humanidade, para citar apenas um exemplo).

Aliás, como todos sabem – ou deveriam saber -, o genial físico alemão teve de fugir de seu país para não ser preso e possivelmente morto, meramente por ser judeu em uma então nação que tinha como slogan de governo “Alemanha acima de tudo” – também conhecida como grito de guerra nazista.

Pois bem, mais de um século depois das maiores descobertas e teorias do físico alemão, o que muito se observa no senso comum é o avesso da maior virtude de Einstein: ou seja, a supremacia da obtusidade em detrimento à inteligência.

A Educação, a ciência, a práxis da experimentação, o bom senso e até a empatia (lembrando que o físico judeu nunca se perdoou por parte de sua pesquisa ter sido utilizada na confecção da bomba atômica) deram lugar à obscuridade da ignorância, sustentada por mentiras e fanatismo – não por acaso, as maiores armas utilizadas pela propaganda nazista para lobotomizar a humanidade de uma nação toda.

Agora, abordando a questão realmente a importar neste momento: a segurança das crianças nas escolas. A introdução, neste caso, sustenta-se no apelo de que, em tese, seria mais difícil rebater a opinião de alguém que (“ainda”, pelo menos) é considerado um gênio da humanidade.

Bom, entre outras “pérolas”, é atribuída a Einstein uma frase tão clara quanto óbvia, genial, portanto: “Insanidade é continuar fazendo a mesma coisa e esperar resultado diferente”.

A partir dela, é preciso lembrar que, tal como no Holocausto nazista, invariavelmente na história do mundo, vale outra máxima universal, segundo a qual “violência costuma atrair mais violência”.

Isso em vista, é de impressionar a surpresa de boa parte da população – e do mundo – diante das ameaças e ataques ocorridos em escolas do Brasil nos dias recentes.

São tragédias irreparáveis as que se concretizaram, vitimando crianças! Não há que se justificar, tampouco como reverter a situação. Famílias acabaram enlutadas com a maior dor que pais e mães não querem nem imaginar. Resta, apenas, buscar medidas para evitar novas perdas monstruosas.

Infelizmente, neste aspecto, a falta de consciência ainda parece muito resistente em parte da população, que busca culpados no videogame, no bullying e até na falta de seguranças armados em escolas…

A surpresa está no fato de que, sob este aspecto, a defesa de armas – simbolizando, na prática, a solução pela violência para todos os problemas do país -, tal como o desprezo pela empatia, a desumanidade e os preconceitos generalizados em profusão nos últimos anos parecem não ter influência nenhuma sobre as crianças e jovens, segundo essa concepção ideológica tão assemelhada ao pessoal da família nazi…

Fala-se em defesa de estudantes, mas, também de maneira inacreditável, não se cogita a ideia de que, em uma hipotética invasão de escola por algum criminoso, as crianças poderiam ser colocadas como potenciais alvos de “balas perdidas” em meio a troca de tiros…

Também não se tem em primeiro plano que a melhor prevenção seria – mais uma vez – o investimento em educação! Dos filhos? Não apenas! Educação junto aos pais, isto, sim!

Menos pessoas insensíveis, mais empáticas e humanas, mais preocupadas com livros e menos com trabucos, certamente dariam melhores exemplos aos filhos, levando-os a crer que a vida é algo sagrado, a vida é que deve ser defendida acima de tudo, e não o hipotético direito de portar bacamarte e matar todo aquele que lhe desagrada ou supostamente o ofende apenas por “pensar diferente”.

Entre tantas outras ações fundamentais, está corretíssima a professora Fátima Rodrigues dos Santos de Campos, coordenadora da Apeoesp de Tatuí, que na semana passada cobrou por mais psicólogos atendendo aos estudantes, particularmente da rede estadual.

Óbvio que, depois de tanto bombardeio, pelos próprios pais, de intolerância, de tanta idolatria ao ódio, as crianças só podiam acabar absorvendo maus exemplos, embora isso não necessariamente seja da natureza delas.

É nesse sentido que a professora defende um acompanhamento psicológico, indicando que jovens e crianças, em seu íntimo, em suas consciências, também estão sofrendo com o massacre de desumanidade.

Algumas, por derradeiro, acabam reagindo de maneira extrema, causando as tragédias – ou, no mínimo, causando todo um transtorno a ponto de mudar a rotina das escolas, como ocorreu em Tatuí na semana passada.

Em outras palavras, este país teve significativa parcela de sua população aplaudindo a “crítica”, a “repulsa” de que uma mudança de governo poderia acabar com clubes de tiro, “transformando-os em bibliotecas”…

Ora, a partir do momento em que um espaço reservado à educação, à cultura e à informação de confiança tornou-se palavrão, que há de se esperar desse país, senão tragédias?

E a “maior” culpa disso (não a única, claro) é do videogame, da “dark web”, da gozação de coleguinhas?

Muito se diz, com razão, que boa parte dos pais, na atualidade, “terceirizou” a educação dos filhos, como se esta responsabilidade coubesse apenas aos professores. E o equívoco é verdadeiro.

Contudo, maior verdade ainda é que já passa da hora de os pais assumirem sua responsabilidade como maiores educadores dos próprios filhos, dando-lhes bons exemplos, simplesmente.

Exemplos de boa educação, gentiliza, tolerância e respeito “ao próximo”, por mais que esse próximo seja “diferente” em cor de pele, gênero sexual, crença religiosa, coloração política…

Caso contrário, as tragédias tendem a se perpetuar, ao menos levando em conta que, segundo o gênio, é mesmo muito estranho fazer as mesmas coisas esperando resultados diferentes.

Por fim, não obstante, há uma até surpreendente e animadora esperança, pelo menos para os tatuianos, que reconheceram em sua grande maioria serem exatamente os pais os maiores responsáveis pelas ações dos filhos.

Essa consolidou-se na opção mais numerosa dos participantes da enquete promovida por O Progresso de Tatuí nesta semana, tendo como assunto as ameaças em escolas locais.

A se observar que em torno de 45% indicaram essa resposta, enquanto outros 30% reconhecem o “discurso de ódio” como maior responsável pelo problema e menos de 20% assinalaram a falta de “segurança profissional” nas unidades de ensino, pode-se concluir que, finalmente, a maioria da população percebeu que, pelo menos pela vida das crianças e para resultados melhores, já é necessário começar a agir diferente.