Escola estadual tem três denuncias de ameaças de atentados em Tatuí

Suspeitos são denunciados à Polícia Civil e ao Ministério Público local

Cartaz com ameaça encontrado em banheiro da escola “José Celso de Mello” (Foto: arquivo pessoal)
Da reportagem

Três casos de ameaças de atentados na escola de Tatuí “José Celso de Mello” foram denunciados ao Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do estado de São Paulo (Apeoesp) na subsede de Tatuí. nos dias recentes.

Dois casos teriam ocorrido na sexta-feira da semana passada, 31 de março, conforme relatado por conselheiras da Apeoesp na sessão de segunda-feira, 3, da Câmara Municipal, e outro na manhã de terça-feira, 5.

Segundo a Apeoesp, cartazes e mensagens de WhatsApp ameaçaram um “massacre” na escola estadual do município. Alunos ainda foram flagrados com facas em sala de aula.

A O Progresso de Tatuí, a coordenadora da Apeoesp de Tatuí, Fátima Rodrigues dos Santos de Campos, apontou que todos os professores e alunos da rede estadual de ensino locais “estão com medo”.

Uma professora (que não quis se identificar) enviou uma carta ao sindicato na manhã de segunda-feira, 3, informando que, na sexta-feira anterior, 31 de março, um aluno havia publicado, no status do WhatsApp, que a “escola viraria pó” naquela manhã.

A docente conta que os colegas de sala viram a publicação e mostraram a uma professora. Ela ainda informou que outro aluno carregava uma faca em sala de aula. Segundo ela, o estudante já havia sido denunciado por seguir colegas na escola e na rua.

“O ambiente ficou muito tenso: todos apreensivos, professoras, funcionários da escola, equipe gestora, todos muito nervosos com a situação e por saber que teríamos que retornar às salas após o intervalo”, relatou a denunciante anônima.

“A polícia e os responsáveis pelos alunos foram chamados na escola e tivemos que retornar para a sala de aula. Confesso que eu não conseguia transmitir tranquilidade, tive medo em retornar, mas fui assim como todos os meus colegas. A gente se olhava e verbalizava para ter coragem, mas há momentos em que queremos desmoronar e não ter coragem”, continuou a docente.

Segundo Fátima, alguns dos alunos suspeitos, em conversa com os professores e o Conselho Tutelar, apontaram existir uma “organização” formada por meio da chamada “Deep Web” (ou “Dark Web”) para “orquestrar” ataques em escolas.

“Os alunos se comunicam entre si e usam da Deep Web, um submundo da internet, para se organizarem visando o terrorismo. Diversas escolas de Tatuí estão sofrendo ameaças. Alguns alunos participam da Deep Web dentro de grupos organizados e há uma situação muito orquestrada, com mensagens programadas para a prática de terrorismo”, sustentou a coordenadora.

Fátima informou que, na terça-feira, 4, alunos e professores encontraram um cartaz colado no banheiro da “José Celso de Mello”, com os dizeres: “Todo mundo dessa escola vai morrer”, e a data “04/04” “Pode ser uma coisa de adolescente, mas não podemos deixar isso passar em branco”, reforçou a diretora.

A GCM foi acionada e um boletim de ocorrência, registrado na presença de um advogado da Apeoesp. Conforme Fátima, na tarde de terça-feira, o aluno responsável já havia sido identificado. Ele estaria com um canivete em sala de aula.

“Não houve ameaça somente na ‘José Celso de Mello’, a situação está meio generalizada aqui em Tatuí. Outras escolas também estão sofrendo ameaças por parte de alunos que participam destes grupos na Deep Web”, declarou Fátima.

De acordo com a coordenadora da Apeoesp, em caso de violência, é lavrado boletim de ocorrência, comunicado os pais e ou responsáveis, e a situação é relatada em uma plataforma da Seduc (Secretaria da Educação do estado de São Paulo). Entretanto, “as medidas não são suficientes”, garante ela.

“Qualquer coisa que o aluno faça fica o registro, mas não tem muito o que fazer. Geralmente, a providência da escola é dar um tempo ao aluno, para protegê-lo e para que a família possa levar a criança ou adolescente ao psicólogo ou outro tratamento”, informou a coordenadora.

Para Fátima, uma das medidas mais necessárias, no momento, para evitar a violência dentro da escola, é a disponibilização de mais psicólogos nas unidades escolares estaduais. Segundo ela, a rede estadual conta com apenas 300 profissionais da psicologia para atender mais de 3 milhões de alunos.

“Ter 300 psicólogos para 3 milhões de alunos é a mesma coisa que não ter. Quando ocorre o atendimento, ainda é feito online ou em grupos de 20, em que os alunos não ficam confortáveis para se abrir e passar os seus anseios, na verdade”, apontou Fátima.

A coordenadora ressaltou que, em Tatuí, o serviço já é oferecido pela rede municipal de ensino. “Somente a rede estadual não conta com este serviço. Existe um atendimento em grupo, mas não é eficaz”, reforçou.

A reportagem entrou em contato com a direção da Escola Estadual “José Celso de Mello”, mas a diretoria alegou não poder se manifestar sobre o assunto e direcionou a impressa à Diretoria Regional de Ensino de Itapetininga.

Por telefone, a O Progresso de Tatuí, o órgão regional disse ter “tomado todas as providências cabíveis” e acrescentou ter acionado o Ministério Público. A Diretoria Regional de Ensino ainda informou estar disponível aos pais dos alunos e à população em geral pelo telefone (15) 3275-9624.

Em nota ao jornal, a Secretaria Estadual de Educação garantiu que “tem tomado todas as providências para tranquilizar a comunidade escolar, garantindo a segurança de alunos, professores e funcionários, sem interromper as aulas, que seguem normalmente”.

Conforme o órgão estadual, a ronda escolar tem atuado nas proximidades das escolas para garantir a segurança dos estudantes. A Seduc ainda ressaltou ter dirigentes de ensino e autoridades policiais atuando em todas as regiões do estado para “conscientizar comunidades escolares” e identificar qualquer tipo de ameaça.

“O Gabinete Integrado de Segurança e Proteção Escolar promove estudos permanentes sobre casos de violência nas regiões escolares, além de estratégias para conter ameaças e fomentar a cultura da paz”, apontou o órgão.

A Seduc salientou, ainda, que as escolas da rede estadual “estão atentas aos comportamentos dos estudantes, atuando com a escuta ativa e mediação, buscando solucionar os conflitos identificados”.

Segundo a Sedec, periodicamente, a equipe Conviva SP – Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar – promove encontros formativos junto aos COE (coordenador de organização escolar), cujas pautas são voltadas à promoção da cultura da paz, à valorização da vida e à mediação de conflitos.

O assunto ainda foi pauta de reunião em Tatuí na tarde de quarta-feira, 5. Com as denúncias e o medo dos pais em enviar os filhos para a escola, na quinta-feira, 6, unidades de ensino locais cancelaram as aulas (reportagem nesta edição).

1 COMENTÁRIO

  1. Já que a professora não quis se identificar, por que está na matéria inteira “segundo Fátima”?
    Acredito que esses alunos estão se comunicando através de algo mais simples do que a “deep web”.
    Pode ser um grupo de jovens que estão fazendo essas ameaças atraves de “telegram” “reddit” entre outros.

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