Padroeira restaurada

Aqui, Ali, Acolá

José Ortiz de Camargo Neto *

Frase do dia: “A fé remove montanhas” (Jesus Cristo).

Caros amigos:

Na cidade de Aparecida, era a noite de 16 de maio de 1978.

Na Basílica Velha um sacerdote celebrava a missa.

Às oito horas da noite, um apagão deixou tudo às escuras.

Foi então que um jovem, alucinadamente, quebrou o vidro do nicho em que estava a imagem venerada de Aparecida e correu com ela para fora da igreja.

Alcançado por um guarda, jogou (ou deixou cair, segundo algumas versões) a imagem na rua, partindo-a em dezenas de pedaços, pois é feita de argila manufaturada e cozida no forno (terracota).

Como repórter da Folha de S. Paulo na época, acompanhei o restauro da imagem em São Paulo.

Foi ele feito pelos grandes artistas Pietro Maria Bardi e Maria Helena Chartuni, chefe do Departamento de Restauração do Museu de Arte de São Paulo (Masp) na época.

Falei com ambos e publiquei uma entrevista longa com Chartuni.

Pietro Bardi, então, revelou-me algo muito interessante.

Colocou sobre a mesa e mostrou-me dezenas de fotos de Nossa Senhora da Conceição feitas no século 17, muito parecidas com a imagem de Aparecida. A diferença é que as imagens das fotos eram coloridas, pintada a santa de branco e pintados o manto e os adereços com cores vivas de vários tons.

– Esta imagem (de Aparecida) realmente ficou debaixo d’água – disse o experiente restaurador. – Vê-se que a correnteza tirou as tintas que possuía.

Tal fato está de acordo com a história da imagem, de que três pescadores a retiraram do leito do rio Paraíba em 1717, realizando depois uma pesca tão abundante que a consideraram milagrosa.

No dia 19 agosto de 1978, acompanhei o retorno festivo da imagem restaurada a Aparecida.

Ela foi transportada em um cortejo do Corpo de Bombeiros. Bem atrás deles, estava nosso carro de reportagem.

Às margens da rodovia e em todas as passarelas uma multidão se aglutinava. Todos saudavam com palmas, cânticos, vivas e flores a solene passagem da Padroeira do Brasil, de volta a seu nicho.

Lembrando-me de tudo isso, fiz este “Poema à Padroeira’, cujo dia foi celebrado há pouco tempo (12 de outubro). Compartilho então a poesia:

Branca a quiseram

Da cor do jasmim

Porém ela não quis ser só assim

E se descoloriu

Nas águas do rio

E morena surgiu

Como as índias e mestiços do Brasil

Na cabana dos pescadores

Foi que ela enegreceu

Com as velas de tucumã

Que o povo lhe acendeu

E negra surgiu

Para ser a Padroeira do Brasil

Desse modo em si reuniu

Os três povos em que se fundiu

Nosso povo mestiço do Brasil!

* Jornalista e escritor tatuiano