Voluntária pretende entregar pelo menos 300 brinquedos neste Natal





David Bonis

Circe ao lado dos brinquedos que acabara de receber na quarta-feira

 

O relógio marcava pouco mais de 14h quando a voluntária Circe Machado Bastos, 70, recebia um novo lote de brinquedos em sua residência, no bairro Santa Cruz, quarta-feira, 26.

Eram cerca de nove itens, entre bonecas e ursinhos de pelúcia de personagens infantis famosos da televisão. Limpos e em bom estado de conservação, segundo ela, esses brinquedos, especificamente, poderiam ser doados sem necessidade de qualquer reparo.

Há pouco mais de duas décadas, a tatuiana faz esse trabalho no município. Recebe doações de brinquedos e repassa-os a crianças que vivem em bairros carentes, como Santa Rita, Thomaz Guedes, Vale da Lua, Inocoop e outros.

Para a edição deste ano, Circe está se preparando para mais uma maratona: ir atrás das doações, recebê-las, limpar os brinquedos que estiverem sujos ou mal cuidados, embrulhá-los e entregá-los.

Mas, não é apenas isso. As roupas das bonecas ela deixa de molho numa água com sabão em pó. Limpas, penteia o cabelo delas e lava os carrinhos que serão doados aos meninos.

Conforme o dia 25 de dezembro se aproxima, mais tempo ela passa fazendo esse trabalho. “Às vezes, eu almoço, lavo a louça, e já começo a cuidar dos brinquedos. Quando vou ver, já passou da meia-noite”, conta Circe. “Alguns vizinhos até brincam comigo quando me veem penteando o cabelo das bonecas”.

A porta da sala de estar de Circe fica em frente à rua. Normalmente, ela permanece sentada no sofá, com a televisão ligada, enquanto prepara os brinquedos a serem doados no Natal.

No Natal de 2013, ela distribuiu cerca de 400 brinquedos. Porém, diz que não consegue se lembrar de quantos presentes já entregou em mais de duas décadas promovendo esse trabalho.

Quando começou, Circe doava os brinquedos apenas a crianças vizinhas. Mas, segundo ela, a ação expandiu-se com o passar do tempo, devido à divulgação das pessoas e da imprensa local, que passou a abordar o trabalho que ela fazia.

Esse contexto fez com que as doações de brinquedo aumentassem. Às vezes, chegam pessoas na casa dela com alguns itens e, em outras, ela mesma vai retirar os objetos, após ser informada de que há presentes disponíveis para doação.

Além desse processo, Circe conta que a Rontan vem a ajudando. Ela diz que, com a proximidade do Natal, a empresa coloca uma caixa de papelão em um dos setores da companhia e pede aos funcionários que doem brinquedos. Os itens são direcionados a Circe.

“Eu não faço esse trabalho sozinha. São tantas pessoas que nem consigo citar o nome de todas. Elas são minhas ‘formiguinhas’. Costumo dizer que ‘uma formiga só não faz carreira’”.

Até o dia 22 de dezembro Circe receberá doações de brinquedos. Mas não é só isso: ela também recebe doações de doces.

Ela costuma montar “kits” para entregar às crianças. Cada conjunto conterá um brinquedo, balas, chicletes e um saco de pipoca.

Esses itens ela coloca em um saco plástico transparente, amarra com uma fita – e não com grampo, “para não machucar” – e os leva aos bairros.

Na Páscoa e no Dia das Crianças, ela costuma repetir esse trabalho. A diferença é que, no Natal, ela se veste de Mamãe Noel para fazer as doações.

“Só de verem a fantasia, as crianças já ficam encantadas. Gritam, pulam. O Natal é diferente das outras datas. É muito gostoso ver a reação delas”, lembra.

Circe tem dois uniformes do “bom velhinho”. Um vermelho e outro, azul. Na edição deste ano, ela diz que vai usar o primeiro, pois utilizou o segundo no ano passado.

A ideia dela é distribuir os presentes nas manhãs dos dias 24 e 25 de dezembro. Ao lado do marido, José Carlos Bastos, e da amiga Ana Maria Teixeira, ela enche o porta-malas e o banco de trás do Monza cinza do esposo, e parte para as doações. Neste Natal não vai ser diferente, segundo ela.

Como ela não sabe dirigir, o marido fica encarregado de levá-la. “Ele é meu tudo. Me apoia tanto. Até a garagem dele cede para colocar os brinquedos”, conta Circe. Com a proximidade do Natal e a maioria dos kits já montados, a sala de estar de Circe também fica “lotada”.

Em uma das diversas fotos que guarda das campanhas de doações de brinquedos que já realizou, Circe tem uma na qual há uma pilha de brinquedos na sala da casa dela com quase 1,60 metro.

As recordações que as fotografias provocam nela “são muitas”. Circe conta, por exemplo, que, no Natal de alguns anos, atrás entregou uma boneca a uma menina que morava na CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano).

“Ela tinha quatro anos na época e tinha acabado de perder os pais, que tinham Aids. Eles morreram poucos dias antes do Natal. (Essa história) Me marcou muito. Não sai da mente mais. Você precisava ver a alegria dela ao ver o Papai Noel, que era eu. Por essa e por outras que a gente continua”, lembra a Circe, com os olhos marejados.

Não é apenas a voluntária que se emociona. Ela conta que, em muitas ocasiões, os pais das crianças choraram ao ver a alegria dos filhos recebendo um presente.

Ela lembra-se de uma ocasião na qual deu um brinquedo a um menino, morador do Thomaz Guedes, que estava acompanhado pelo pai.

“Quando parei o carro, chamei o pai do menino e disse: ‘Posso dar um brinquedo para o seu filho?’. Ele chorou e me disse: ‘Dona, não tenho um tostão sequer para dar um presente para meus filhos’”.

“A gente fica até emocionada com tudo isso. É muito gratificante ver o sorriso de uma criança quando recebe um presente. Não tem preço ver a alegria delas. Muitas vezes, elas nem esperam ganhar nada no Natal”, completa.

Circe caminha com alguma dificuldade. Aos 70 anos e alguns problemas de saúde, diz que os filhos querem que ela pare de realizar esse trabalho. Mas, ela reluta.

“Um dos nervos do meu braço direito rompeu há alguns anos numa queda. Então, não consigo usar muito esse braço, mas, mesmo assim, não quero parar”, diz a voluntária, enquanto indicava, com um dos dedos da mão esquerda, qual ponto do braço direito está comprometido.

Para o Natal deste ano, ela pretende distribuir, ao menos, 300 presentes. Até o momento fechamento desta edição (sexta, 17h), ela tinha cerca de 70. Conforme ela, a maioria dos objetos é para meninas. São bonecas e ursos de pelúcia. Carrinhos e outros itens para meninos ainda eram minoria.

Contudo, Circe continua recebendo doações de brinquedos. Mas, não só desses objetos. Ela precisa dos doces para montar os kits. Quem quiser doar pode levar à casa dela, na rua Artur Napoleão de Oliveira, 66, ou ligar para o número 3253-7214, para obter mais informações.