Virada Cultural da Juventude terá 13h e discussão sobre a maioridade





Arquivo O Progresso

Palco da Concha Acústica será ocupado por um período de 13 horas por ‘tribos naturais’ da periferia

 

Teatro, dança, hip hop, rock e jazz são atrações da Virada Cultural da Juventude agendada para este sábado, 8, na Concha Acústica Municipal “Maestro Spártacco Rossi”. A iniciativa, que está na terceira edição, é do Coletivo Práxis, com apoio do Coletivo Rosas da Revolução e da Prefeitura.

O evento tem 13 horas de duração e mantém a proposta de discutir temas com a juventude. Em 2015, a organização decidiu não informar os horários das atrações.

O objetivo é fazer com que todos os gêneros musicais sejam privilegiados. Também resolveu incluir uma “intervenção de bateria”, intercalando-a com as apresentações dos convidados e discussões sobre redução da maioridade penal.

A programação tem início às 11h e é resultado de discussões entre os organizadores e representantes de movimentos – a maioria jovens da periferia.

“Temos o intuito de criar um espaço onde, realmente, essas tribos diversas da cidade se encontrem, possam interagir e ver que arte é arte”, disse Luan Antunes de Barros, um dos responsáveis pela organização e integrante do Práxis.

Nessa linha de pensamento, o coletivo optou por não informar, no material de divulgação, os horários de apresentações dos grupos convidados. Os folders impressos contêm apenas os nomes das atrações. “A pessoa não vai ao evento de uma banda, vai para um evento”, disse Kelvin Joelmir de Barros.

A intenção é fazer com que os participantes aproveitem todas as ações – ou o máximo delas – que o evento proporcionará gratuitamente. Para manter a atenção do público, a organização incluiu uma “intervenção baterística” (dois bateristas vão interagir com os participantes, por meio de “brincadeiras”).

Neste ano, o evento acontece pelo segundo ano seguido na Concha Acústica. Em 2013, o “piloto” foi realizado na Praça da Matriz, como uma experiência. A mudança de endereço aconteceu, principalmente, para acomodar melhor o público. “Eu, pessoalmente, acho que a Concha é um bom lugar, tem espaço grande, fechado e dá para ter um controle”, disse Kelvin Joelmir.

O “balão de ensaio” da virada aconteceu, mesmo, em 2012. Naquele ano, o coletivo realizou evento chamado “Hip Hop Barão”, na Escola Estadual “Barão de Suruí”. Mais que levar cultura para frequentadores do PEF (Programa Escola da Famíla), os organizadores queriam provar que era possível realizar um evento para jovens da periferia sem que houvesse problema.

“Tinha uma discussão muito grande em Tatuí. Era sobre os eventos para esses setores culturais da juventude, que são periféricos e não era feitos pelo poder público porque dava briga. Essa sempre foi a justificativa”, afirmou Eduardo Dade Sallum, também integrante do Práxis e organizador da virada.

Apoiados apenas pela direção da escola, os jovens mobilizaram os artistas, que conseguiram patrocínios. Para realizar o “Hip Hop Barão”, o Práxis conversou com as lideranças do hip hop, reggae, grafite, skate e break do município. A ideia era mobilizar os organizadores a conversar com o público e, com isso, conseguir engajamento e que não se registrassem incidentes.

“Foi um sucesso, não teve problema nenhum, nem uma lata de cerveja, até porque, na escola não poderia. A partir daí, nós construímos um portfólio. Foi então que fizemos a primeira virada, com público de 1.500 pessoas”, disse Sallum.

Em 2013, o evento contou com dez horas de duração e diversos estilos de arte. No ano passado, para acolher melhor o público, a virada foi transferida para a Concha Acústica, tendo horário estendido para dez horas (das 13h às 21h).

Como o Práxis é um movimento estudantil, a organização abordou – desde a primeira edição – temas ligados aos interesses dos jovens. Em 2013, o coletivo discutiu com os participantes a questão da reforma política (que estava em voga). “Nós conversamos com a moçada entre as atrações”, disse Sallum.

Neste ano, os organizadores farão sobre a redução da maioridade penal. Eles também abordarão os cortes realizados pelos governos federal e estadual na educação.

“O evento vai ser bem maior dessa vez, estruturalmente, falando”, afirmou Sallum. Também por causa disso, os organizadores esperam uma maior mobilização entre os jovens. Em 2014, por exemplo, eles coletaram mil assinaturas por conta de um plebiscito popular que tratava da reforma política.

Por conta do total de horas do evento (13), o grupo disse que conseguiu contemplar todos os movimentos artísticos e culturais da periferia num só local. A preocupação maior do Práxis era reunir o máximo de representantes.

Apesar de realizarem o evento, Sallum disse que os membros do coletivo apenas centralizam as vontades para concretizá-las. Em outras palavras, é responsável apenas por agregar os representantes dos movimentos. Sendo assim, o evento é o resultado de esforço de um “colegiado” e pensado coletivamente.

Além disso, todos os representantes de movimentos da periferia – ou boa parte deles – estão integrados ao Práxis. Tanto que realizaram, em 2011 e 2012, atividades na Escola Estadual “Fernando Guedes de Moraes” pela “Semana Afro-Brasileira”.

“Em toda a história de atuação do Práxis, ele construiu esses vínculos. Não é nenhum vínculo novo com os artistas. É claro que, a cada virada, entra um novo, até por conta dessa ‘network’ que nós construímos”, afirmou Luan.

Em termos de público, o grupo espera a passagem de 5.000 pessoas. A meta do ano tem relação com o público de cada movimento. A terceira edição contará com representantes de vários segmentos da arte. Entre eles, o Teatro de Dança Rosinha Orsi que deve atrair um público mais adulto (em geral, os pais e parentes dos alunos e alunas que frequentam aulas de dança).

Com o evento, o Práxis pretende criar um “espaço permanente e popular” para os movimentos da periferia. “Quanto mais democrático possível”, falou Sallum. Para isso, o coletivo tem feito discussões com “todas as tribos”. A intenção é evitar confrontos e estimular o respeito entre todos os participantes.

Para reforçar esse caráter, Sallum comentou que os artistas são convidados a falar com o público. As mensagens são sempre ligadas à conscientização de problemas ligados aos jovens e o respeito mútuo, por meio de discurso político e social.

Com isso, assuntos como diferenças sociais, preconceito e racismo são abordados. Desta maneira, os organizadores entendem que o público pode compreender que todos os movimentos têm um propósito em comum: o respeito.

Em geral, a organização leva dois meses para preparar o evento. Neste ano, a Virada Cultural da Juventude consumiu três meses e meio. O prazo inclui reuniões com os representantes, com membros da Prefeitura para cessão do espaço para decidir sobre segurança. O evento tem apoio da Guarda Civil Municipal.

No que depender da expectativa do Práxis, a virada terminará sem incidentes. O coletivo argumenta que o evento possui um diferencial porque usa o conceito de segurança comunitária, com diálogo ao invés da força física.

Também reforça esse aspecto com os discursos dos músicos e artistas participantes. As falas devem misturar testemunhos de vida a aconselhamento e devem ser mais bem absorvidas pelo público uma vez que quem está abordando os assuntos são os artistas considerados como referência.

Todo o evento é realizado sem fins lucrativos, com apoio de patrocinadores para confecção de folders, materiais de divulgação, entre outros. O grupo conseguiu 30 fardos de refrigerantes doados pela Refrigerantes Vieira Rossi. Os produtos serão vendidos a R$ 1 para pagar os custos de realização.