Tatuí­ ganha rede de dados meteorológicos

 

Compreendendo 34 municípios, o CBH-SMT (Comitê da Bacia Hidrográfica dos rios Sorocaba e Médio Tietê) ganhou um “reforço e tanto” na gestão dos recursos hídricos.

O órgão começou a receber, a partir do dia 13 deste mês, dados meteorológicos captados por cinco estações implantadas com recursos do Fehidro (Fundo Estadual de Recursos Hídricos).

As informações são transmitidas por equipamentos instalados em cinco unidades gerenciadas pelo Ceeteps (Centro Estadual de Educação Tecnológica “Paula Souza”).

Todas elas enviam medições em tempo real para uma central instalada na Fatec (Faculdade de Tecnologia) “Professor Wilson Roberto Ribeiro de Camargo”.

A unidade de ensino tecnológico é, além de pioneira na proposta que permite a elaboração de projetos, a principal responsável por viabilizar o sistema. O projeto foi trazido ao município pelo professor José Carlos Ferreira, pesquisador do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico).

“Esta é a concretização do projeto que iniciamos em 2014 e que foi desmembrado em outro que tramitou junto ao comitê da bacia”, explicou o diretor da Fatec, professor Mauro Tomazela. Há três anos, Ferreira promoveu a instalação de uma estação meteorológica, focada em estudos específicos.

Em paralelo e incentivado pela direção, o docente deu início a um trabalho que buscava subsidiar estudos do CBH-SMT. Este previa a instalação de cinco equipamentos, implantados neste mês nas cidades de Cerquilho, Itu, Mairinque e Piedade, além de Tatuí, e “inaugurados” em solenidade com presença de autoridades.

O evento, iniciado às 10h, contou com participação da prefeita Maria José Vieira de Camargo, representantes dos municípios que receberam as estações meteorológicas e diretores da FABH (Fundação Agência da Bacia Hidrográfica).

A proposta da Fatec recebeu aval do comitê de bacia, depois de ser avaliado. “Passamos por toda tramitação burocrática para fazermos as aquisições dos equipamentos. Então, hoje, cinco foram implantados”, disse Tomazela. Todos são autônomos, já que recebem energia limpa, através de placa solar.

A placa alimenta a bateria da estação que é dotada, ainda, de um chip de telefonia móvel. É esse chip que faz a transmissão dos dados para a central de forma contínua.

As cinco estações estão integradas num portal que está nas nuvens, coletando informações e repassando-as para a central na Fatec”, descreveu o diretor.

Os mesmos dados podem ser consultados em cada uma das unidades e trabalhados de acordo com as linhas de pesquisas das instituições. Tomazela explicou que a faculdade em Tatuí pode empregar as informações de “n” maneiras, uma vez que os dados são considerados bastante amplos.

Entre as variáveis mensuradas pelas estações, estão dados de chuva, temperatura, incidência solar e dos ventos. “Todas essas informações, para qualquer um dos cursos, dá para desenvolver projetos para a Defesa Civil, captação de água, de energia solar ou outras fontes renováveis, como vento”, afirmou.

Uma vez registrados, Tomazela declarou que os dados permitirão não só às unidades fazerem uso das informações, mas a quem se dispuser a solicitá-las. O acesso será liberado a partir de solicitação, que deve ser feita junto à instituição.

Com os registros, os professores, alunos e técnicos da faculdade poderão desenvolver projetos cujos resultados estejam ligados aos fenômenos meteorológicos.

O diretor acrescentou que as propostas, como estarão mais embasadas, terão mais chances de serem apresentadas ao comitê de bacia e serem aprovadas.

Mesmo contemplando cinco municípios, as estações poderão servir de base para estudos em cidades que não abrigam os equipamentos. Isso porque, segundo Tomazela, as informações estarão disponibilizadas no portal do SigRH (Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo).

Por meio dele, todos os comitês de bacias poderão ter acesso aos dados captados nos cinco municípios. “É gratuito e integra um banco de dados”, disse o diretor.

Como não se tratam de radares, Tomazela esclareceu que os equipamentos não são capazes de fazer previsão do tempo. As estações apenas “relatam o que aconteceu”, por meio dos registros diários dos “acontecimentos”, permitindo somente a projeção de ações, como de safra na agricultura.

Após determinado período, o diretor comentou que os registros históricos estarão mais consolidados. Por sua vez, podem contribuir para decisões sobre plantios de determinadas culturas em épocas específicas de cada ano.

As possibilidades de uso estão descritas no projeto aprovado pela FABH e viabilizadas com recursos do Fehidro. “A ideia era ampliar as estações porque o comitê tinha interesse em obter informações meteorológicas, dentro de um plano de gestão deles. Daí, nós montamos o projeto”, explicou Ferreira.

Originalmente, a proposta prevê cinco estações, que podem ser expandidas. Elas funcionam em prédios ligados ao Centro Paula Souza a partir de consenso, mas com base em critério de localização. “Fizemos um mapa poligonal com a intenção de pagar o máximo possível de área”, disse o professor.

As estações do sistema diferem-se das que abastecem o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), como as que funcionam em Sorocaba e Itu.

Entretanto, ampliam a rede de monitoramento do Estado, considerando-se que podem fornecer dados de interesse para manutenção de recursos hídricos.

“Esse projeto é muito parecido com o que existe na bacia do Alto Tietê, mas diferente, porque o nosso não é preditor (não faz previsão), mas pode contribuir com os sistemas que trabalham com previsão”, acrescentou o professor.

Segundo ele, para o prognóstico, são necessárias somente três variáveis: vento, pressão atmosférica e temperatura. As estações instaladas nos cinco municípios são capazes de capturar oito variáveis: temperatura mínima, temperatura média, temperatura máxima, pressão atmosférica, velocidade do vento, direção do vento, radiação solar e precipitação (volume de chuva).

Com elas, o pesquisador afirmou ser possível realizar “muita coisa”. A mais considerável é o chamado “balanço hídrico”, uma espécie de cálculo que avalia o quanto “entra” e o quanto “sai” de água em uma determinada região do comitê.

As entradas são a penetração no lençol freático da água da chuva, a incidência de precipitações. Já as saídas, consistem em evaporação, escorrimento e, principalmente, consumo para abastecer residências ou indústrias.

“É esse processo que o CBH-SMT tem que gerenciar. Uma região sem disponibilidade hídrica, é uma região pobre, influenciando no crescimento regional”.

O projeto instalado nos municípios custou R$ 386.896, investidos na compra das estações, instalação da central junto à Fatec e uso do software que faz o controle, a análise e o registro das informações em banco de dados. Todo o processo é gerenciado por uma empresa contratada por meio de licitação.

A transmissão dos dados é feita via tecnologia GSM (Sistema Global para Comunicação Móvel, em tradução livre), também conhecida como 2G. As informações abastecem a central, uma sala montada na faculdade de tecnologia.

A unidade realizou a demonstração do funcionamento do sistema na semana passada. Na ocasião, ministrou capacitação dos representantes dos municípios para a operação dos dados, consultas e extração de dados para novos projetos.

No futuro, o sistema criado pela Fatec poderá ajudar o Comitê da Bacia Hidrográfica dos Rios Sorocaba e Médio Tietê a “produzir água”.

De acordo com Tomazela, a água pode ser “fabricada” com ações como não impermeabilização do solo, captação da água da chuva e projetos que permitam à chuva percular (ser absorvida pelo solo e abastecer o lençol freático).

O projeto foi elogiado pela prefeita. Maria José direcionou a palavra à equipe da instituição local e aos demais convidados, citando que a população local ficou muito orgulhosa do trabalho realizado pela instituição.

A prefeita também acompanhou técnicos da empresa encarregada da manutenção dos equipamentos na demonstração do funcionamento. Em seguida, posou para fotos ao lado de autoridades convidadas e professores.