PT discute em janeiro se fica com Manu





Cristiano Mota

Vicentão e Marinho debaterão em janeiro com correligionários futuro do PT dentro da administração local

 

O relacionamento entre o PT (Partido dos Trabalhadores) e o PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) em Tatuí será tema de debate agendado para janeiro de 2015.

Em data ainda a ser marcada, o diretório local do PT promoverá reunião entre correligionários para decidir se continua ou não na base de apoio do prefeito José Manoel Correa Coelho, Manu.

A consulta faz parte de planos anunciados pelo presidente do diretório local, Mário Luis Rodrigues da Costa (Marinho) e pelo vice-prefeito Vicente Aparecido Menezes (Vicentão). Os dois informaram que o objetivo é realinhar o papel do Partido dos Trabalhadores dentro da atual administração.

Também disseram que a reunião será realizada por conta de questões atribuídas a “ruídos de comunicação”. Reforçaram, ainda, que a decisão será tomada em consenso com os diretores, membros e filiados, e alegaram que, mesmo que a legenda decida deixar o governo, ela não fará oposição.

Vicentão conversou com O Progresso na quarta-feira, 29 de outubro. Na primeira entrevista após o período eleitoral, ele destacou que não participa efetivamente das decisões da administração municipal desde o dia 4 de abril.

Na data, houve a exoneração, resultando no afastamento do vice-prefeito do cargo de secretário municipal de Governo, Segurança Pública e dos Transportes. “O prefeito solicitou minha saída porque tinha pretensões de que eu fosse candidato a deputado estadual”, comentou.

Vicentão disse que não tinha a mesma ideia porque não via, naquele momento, “nenhum projeto viável para ganhar a eleição”.

“Eu já tinha informado que não seria candidato. Acho que Tatuí também não está preparada para ter um deputado federal. Primeiro, precisa eleger um estadual para, depois, numa outra eleição, ter uma dobradinha”, argumentou.

Fazendo uma leitura política, o vice-prefeito afirmou que nem mesmo o projeto da oposição (do Partido da Social Democracia Brasileira) tinha condições de eleger um candidato.

Ele citou que não havia meios de ele concorrer porque a ideia da situação “não previa um consenso entre lideranças”.

Segundo ele, Tatuí não apresentava a mesma condição oferecida pelo então ex-prefeito Ademir Signori Borssato (atual Partido Social Democrático), em 1998.

Para ele, “a história é clara”, uma vez que Tatuí só conseguiu eleger deputado estadual (o ex-prefeito Luiz Gonzaga Vieira de Camargo, candidato eleito em 1998 e reeleito em 2002), a partir de um “projeto de união”.

À época da disputa da primeira eleição de Gonzaga, Vicentão disse que tanto ele como o deputado eleito faziam oposição a Borssato. Contudo, destacou que o ex-prefeito conseguiu unir a classe política para viabilizar a candidatura única.

“Percebi que minha candidatura não ia ser única. O grupo não tinha no meu nome um projeto para ganhar, só para confrontar”, afirmou Vicentão. Por conta disso, resolveu não concorrer, auxiliando outros nomes do PT na região.

Fora do governo há seis meses, o vice-prefeito disse que deixou o cargo a “contragosto”. “Não queria sair, queria permanecer, mas o prefeito insistiu”, declarou.

Conforme ele, a decisão foi tomada “unilateralmente”. “O prefeito tem a caneta. Eu não queria, ele quis, mas não posso, em hipótese alguma, dizer que sou eu que brigo com os prefeitos. Aliás, essa é uma oportunidade que O Progresso está me dando de explicar algo que não tem razão de ser”, declarou.

Nas vezes em que ocupou o cargo de vice-prefeito (são três), ele disse que se afastou por conta de acontecimentos relacionados a desentendimentos políticos.

Sustento haver mentiras sobre a saída dele dos governos de Borssato e Gonzaga e que, sempre, colocou Tatuí “à frente dos interesses particulares”.

Vicentão citou que nunca exerceu um cargo na Prefeitura na gestão de Borssato porque o grupo político ao qual ele pertencia havia rachado com o então prefeito antes de ele ter assumido. Também afirmou que se afastou do governo Gonzaga por conta de “acordo político não cumprido”.

Entre 2005 e 2006, Vicentão ocupou o cargo de presidente da Femague (Fundação Educacional “Manoel Guedes”), entidade mantenedora da Etec (Escola Técnica) “Gualter Nunes”.

Ele deixou a presidência para disputar candidatura a deputado estadual, quando concorreu com outros nomes do município.

Para o vice, o contexto atual é diferente, até porque o afastamento seria temporário. Tanto que ele participou de reunião, na semana passada, com o prefeito. Na ocasião, Manu teria chamado Vicentão de volta a compor o governo.

O vice-prefeito, no entanto, decidiu permanecer afastado até que haja um “alinhamento”. Além de ter atendidas reivindicações, ele quer uma nova postura da atual administração no sentido de buscar unidade entre as lideranças políticas, mesmo com as de oposição.

Como exemplo, citou Itapetininga, que manteve representante na Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo). Edson Giriboni, do Partido Verde, conseguiu reeleger-se, alcançando 105.969 votos. “Ele é meu amigo, mas por mais que ele ajude Tatuí, a prioridade será Itapetininga”, disse.

Além da classe política, o vice defendeu que haja “engajamento maior por parte da imprensa do município para obtenção de conquistas”.

Na opinião dele, a mais importante delas são trevos de acesso na região de Tatuí não implantados na rodovia Antonio Romano Schincariol (SP-127).

Vicentão afirmou que o projeto de concessão previa a instalação de sete trevos na cidade. “Foi construído apenas um, e que demorou um tempão para ser executado”, comentou, referindo-se ao dispositivo que dá acesso à cidade de Quadra.

Para ele, a não somatória de forças entre os políticos – e também a imprensa – faz com que moradores de bairros como Jurumirim, Santa Adelaide e Enxovia sofram.

Em determinados trechos, os residentes desses bairros têm de pagar pedágio para acessar Tatuí ou Itapetininga, pela falta de novos acessos.

Vicentão argumentou que a Prefeitura deve priorizar uma “aproximação com a Castello Branco (SP-280)” e descartar trabalho no mesmo sentido em direção à Raposo Tavares (SP-270). Conforme Marinho, há entendimentos de que o município deveria “crescer naquele sentido”.

Traçando um comparativo, os políticos afirmaram que, se não houver uma mobilização, Tatuí vai perder posto para outros municípios.

“Boituva está se desenvolvendo muito mais que nós, porque aproveitou bem o fato de estar ao lado da Castello, e nós, não. Nós não lutamos, e isso é pior”, ressaltou.

Relação esfriada

Do período do afastamento até a convenção em junho, o vice-prefeito resistiu à ideia de concorrer à Assembleia Legislativa. De modo a manter-se na política, trabalhou na campanha de deputados da região de Sorocaba, como Francisco França, para estadual, e Hamilton Pereira, para a Câmara dos Deputados. “Lamentavelmente, eles não se elegeram”, declarou Vicentão.

O trabalho regional corroborou para o “esfriamento da relação” entre o vice e o prefeito. Também conforme Vicentão, duas questões mais recentes “reforçaram” a possibilidade da existência de um abismo entre o PT e o PMDB.

A primeira seria o fato de que companheiros do partido que estão na administração não teriam apoiado candidatos da legenda – no primeiro turno.

“Não sei se por decisão ou por pressão”, disse o vice-prefeito. A segunda, um mal-estar entre o prefeito e os vereadores André Norbal e José Márcio Franson.

O presidente do PT disse que espera ter havido um mal-entendido. Especialmente, porque a bancada do PT “sempre manteve um bom relacionamento com o Executivo”.

Afirmou, também, que Franson apenas quer a implantação de posto de proteção animal e Norbal divergiu sobre o projeto que deve viabilizar a construção de moradias pelo programa Minha Casa, Minha Vida.

O vice-prefeito afirmou que os dois parlamentares participaram da campanha do prefeito e lamentou o episódio (da votação realizada no mês passado e que gerou desentendimento com Manu). Vicentão disse, também, que o PT deseja que a bancada esteja sempre unida, mas que não pode interferir.

Contudo, argumentou que, como membro do partido, pode sugerir e “indicar caminhos”. O mais importante deles será discutido na reunião em janeiro.

A partir dela, membros e bancada decidirão “em conjunto” se seguem no governo municipal. “Vamos discutir o futuro, porque nós ganhamos a eleição juntos, fomos e continuamos fieis. Porém, queremos correções”, disse Vicentão.

Para continuar na base, o PT deve exigir a viabilização de políticas públicas voltadas para as mulheres, os negros e as “pessoas com necessidades especiais”. “Queremos um governo ainda mais próximo da população”, enfatizou.

As “exigências” foram apresentadas ao prefeito na semana passada. O partido também avisou Manu sobre a assembleia em janeiro e quer, dele, que haja “sinalização com ações concretas”. “Ele terá de sinalizar que, realmente, quer o PT 100% no governo, e não só alguns membros”, disse o vice.

O partido deve analisar se concordará, ou não, com compromisso de mudança proposto pelo prefeito. Vicentão antecipou que Manu já sinalizou para reformulação. “Ele reiterou que quer novos rumos para a cidade”.

Caso os membros decidam por rachar, Marinho e Vicentão disseram que o partido não fará “oposição por oposição”. Conforme eles, o projeto mais importante é promover o desenvolvimento. “Vamos continuar ajudando Tatuí. Quando o prefeito era do PSDB, nós ajudávamos”, declararam.

O vice disse que o mesmo ocorreu com o governo federal, do PT. Ele afirmou que a presidente da República reeleita, Dilma Rousseff, colaborou muito com o município, mesmo na administração passada – gerida pelo PSDB.

Também fez comparação de ações desenvolvidas na cidade por Dilma e pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, além de lamentar que a população local não tenha “retribuído a ajuda nas urnas”.

Alinhado com o discurso nacional do PT, Vicentão atribuiu o desempenho da candidata à “mídia paulista e nacional”. Segundo ele, a imprensa “joga contra o governo Dilma” e não dá o mesmo destaque para casos que envolvam membros do PSDB.

Vicentão afirmou que São Paulo enfrenta problemas de segurança pública e falta de efetivo policial e que, assim como em Tatuí, as prefeituras têm de ajudar o Estado.

Conforme ele, a “imprensa isenta o PSDB” de uma cobrança. “Ficou claro nessa eleição, que a mídia tem lado. E é difícil lutar contra a imprensa”, disse. O vice também citou que Manu “sofre com a pressão da mídia local”.

Disse, ainda, que há um desequilíbrio e que a imprensa brasileira tem como desejo “destruir o Partido dos Trabalhadores”. “Tem um desejo de criminalizar. E isso ficou claro. Conseguiram transformar essa eleição na eleição do ódio, do preconceito. Veja redes sociais falando dos nordestinos”, alegou.

Nesse mesmo tema, Vicentão afirmou que o “jogo da imprensa é perigoso” e que ele pode redundar em ações como as manifestações de junho. Também citou que um extrato desse comportamento – que ele atribui à “posição da mídia” – pôde ser visto pelo PT em Tatuí, após o resultado final do segundo turno.

Conforme ele e o presidente do PT, membros do partido teriam sido hostilizados por munícipes em carreata realizada na noite de domingo, 26 de outubro.

Um homem teria feito “gestos obscenos” e ameaçado chutar um dos veículos utilizados pelos petistas em manifestação pelas ruas da cidade.

Por conta disso, o PT suspendeu a passeata que havia sido agendada para o dia seguinte. “Nós estávamos com dez carros. Não houve um afrontamento, mas um homem estava com ódio, colocado na cabeça das pessoas”, sustentou Marinho.

Episódios como esse são utilizados como argumento pelo PT para o projeto que visa colocar em discussão a regulamentação da mídia. Vicentão defendeu que é preciso “mudar” e declarou que a mídia “quase colocou em prática um ‘golpe’ contra a democracia”.

Também enfatizou que se a imprensa nacional agisse “de outra forma, o resultado nas urnas seria outro”.

Esse mesmo entendimento é aplicado pelo vice-prefeito ao cenário local. Vicentão disse que Manu “sofreu com a imprensa no episódio envolvendo o reajuste do IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano)”.

Questionado sobre quais dificuldades enfrentadas por Manu e veículos que não atuaram de forma isenta, o vice-prefeito citou o trabalho de emissoras de rádio e de televisão. Ele, ainda, afirmou que é contra o atual sistema de concessão pública desses veículos para políticos.

Também sustentou que Tatuí é uma cidade pobre e que R$ 250 milhões de arrecadação (do Orçamento) para um município com “115 mil habitantes é pouco dinheiro”.

Com relação aos companheiros que teriam cometido supostamente infidelidade partidária, o vice afirmou que não haverá punição. Segundo ele, apenas três correligionários solicitaram votos para políticos de outros partidos, e todos terão chance de apresentarem argumentações.

Vicentão também sinalizou para o avanço da ideia de candidatura própria do PT à Prefeitura. Conforme ele, todo partido tem “projeto claro de chegar ao poder”.

“Um dia, queremos ter candidato a prefeito e, quem sabe, ir à Prefeitura para executar as políticas que imaginamos serem as melhores”, encerrou.