Da reportagem
Deixar de usar o cinto de segurança é a maior causa de multas no trânsito tatuiano. Os dados são apontados em levantamento do Departamento de Mobilidade Urbana, feito a pedido de O Progresso.
De acordo com o órgão da Secretaria Municipal de Segurança Pública e Mobilidade Urbana, que administra e fiscaliza o trânsito local,em 2020, as multas por falta do uso do cinto de segurança superam em 55,59% as ocorrências flagradas no mesmo período de 2019.
Nos dois anos, a falta do uso de cinto ficou no ranking das infrações que mais geraram multa. No ano passado, a irregularidade rendeu, em média, nove autuações por dia – 24% do total de multas aplicadas durante o período. Em 2019, foram pelo menos seis multas diárias por não uso do cinto–14,54% do total.
Os dados consideram as ocorrências flagradas diariamente pelos fiscais de trânsito, tanto de condutores como de passageiros, nos bancos dianteiros ou traseiro, sem a utilização do equipamento de segurança.
Conforme o Código de Trânsito Brasileiro, deixar de utilizar o cinto de segurança é considerado infração grave. Quem for flagrado nessa situação está sujeito à penalidade de cinco pontos na CNH (Carteira Nacional de Habilitação) e pagamento de multa de R$ 195,23.
O secretário da pasta, coronel Miguel Ângelo de Campos, aponta a falta do cinto de segurança como um dos temas mais debatidos em campanhas de conscientização e, também, o que mais preocupa as autoridades de trânsito, devido à gravidade das consequências que pode causar aos passageiros e condutores.
“Já era para ser uma situação habitual. Todos sabem o quanto o uso do cinto é importante, mas a gente vê que muitos ainda insistem em não usar. Por conta desta questão comportamental, vemos que a conscientização é cada vez mais necessária”, argumentou o secretário.
Segundo ele, o DMU já realiza campanhas focando no assunto, mas a intenção é intensificar o tema durante 2021, relembrando a obrigatoriedade e a importância da utilização do cinto de segurança, por meio de ações educativas.
Para Campos, “os números chamam a atenção para a necessidade de mais campanhas, principalmente por ter ocorrido aumento de casos em um período de pandemia, o qual registrou menor circulação de veículos na cidade”.
Além da multa, a qual pode até fazer o condutor perder a CNH, o secretário reforça que o uso do equipamento de proteção (obrigatório desde 1977) faz a diferença e pode salvar vidas na hora de um acidente.
Estudo da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego) mostra que o cinto de segurança no banco da frente reduz o risco de morte em 45% e, no banco traseiro, em até 75%.
Já um segundo estudo, do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito), aponta que, se o passageiro não estiver usando os cintos atrás, o risco de se machucar ou morrer é maior do que estar no banco da frente.
“É até cansativo ficar batendo sempre na mesma tecla. O uso do cinto de segurança já era para ser um hábito, porém, entendemos que somente com a conscientização das pessoas vamos conseguir mudar essa realidade”, observou o secretário.
O DMU ainda apresentou outros cinco “maiores motivos” de autuações na cidade. Quatro deles entram no ranking das principais causas de acidentes de trânsito fatais e não fatais: dirigir sem cuidado, segurar o celular, manusear o celular e utilizar o aparelho ao volante.
A falta de cuidado ao dirigir foi a terceira maior causa de multas em 2020. Os números referentes à infração não foram divulgados, contudo, o percentual representa aumento de 6,06% em comparação aos registros de 2019.
Já a totalização dos três tipos de autuações referentes à “combinação perigosa” entre o volante e o celular foi responsável por 22,73% das multas em 2020 – média de oito infrações por dia. Em 2019, elas representaram 24,5% das autuações (média diária de nove multas).
Nos 12 meses de 2020, o órgão ainda registrou aumento de 2,27% nas infrações por segurar o telefone ao volante,em relação a 2019. A ação foi a segunda maior causa de multas, com cerca de quatro autuações por dia.
Apesar da representatividade no número de ocorrências, por outro lado, houve queda de 27,07% nas multas por manuseio do aparelho. Com isso, a média diária foi de 2,93 para 2,13 autuações por dia, com redução de 14,12% nas infrações por utilizar o celular (1,92 para 1,64multas diárias).
Pela classificação do CTB, o uso do celular como telefone, segurando-o com uma das mãos e o manuseio do celular para ler ou enviar mensagens de textos, postar em redes sociais, consultar aplicativos, entre outros, é considerado infração gravíssima, com R$ 239,47 de multa, além de sete pontos na CNH.
Já o uso do celular como telefone, mas sem usar as mãos (usando fone de ouvido, por exemplo), é considerado infração média, com multa de R$ 130,16 e quatro pontos na CNH. O acúmulo de 20 pontos ou mais, em um período de até 12 meses, implica na suspensão da CNH.
Os riscos de dirigir falando ao celular vão além do bolso e da possibilidade de ter o direito de pilotar suspenso. O secretário frisou que o uso do aparelho é uma das principais preocupações, “por deixar os motoristas desatentos em relação ao trânsito”. E, segundo ele, a falta de atenção também é uma das principais causas de acidente.
De acordo com a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, o uso do aparelho ao volante já é a terceira maior causa de fatalidades no trânsito do Brasil. Anualmente, o trânsito tira a vida de mais de 37 mil pessoas no país.
Estudos internacionais indicam que manusear o celular durante a direção é tão perigoso quanto conduzir sob o efeito de álcool. Estima-se que teclar ou atender ligação ao volante amplia em 400 vezes a chance de acidentes.
Até 2016, o uso de celular ao volante era uma infração média. O crescente número de acidentes fez com que uma alteração no CTB o transformasse em infração gravíssima. Mesmo com maior rigor, os números sugerem que a prática segue ocorrendo.
“No nosso ranking, temos três tipos de infração relacionados ao celular. Isso também deve ser motivo de campanha neste ano, para tentar minimizar os casos e mostrar para as pessoas o risco que elas estão correndo”, antecipou o secretário.
Alguns especialistas garantem que, com o celular no ouvido, o condutor reage de forma mais lenta, dificilmente olha para o retrovisor, assume uma trajetória errática na via e reduz ou ultrapassa a velocidade compatível com o tráfego.
Isso, além de outras infrações, como avançar sinal, não conseguir trocar de marcha ou, simplesmente, não ver as placas de sinalização no trânsito – o que pode desencadear acidentes.
A orientação é de que, em caso de não poder desligar, não faça e nem atenda ligações enquanto estiver dirigindo. Ao receber ou ter que fazer uma, estacione em local seguro, resolva o problema e continue o caminho.
O secretário afirmou que, se o motorista respeita e segue as placas e faixas de sinalização, o número de colisões tende a diminuir, e acrescentou que “tudo depende da conscientização, já que é a população que faz o trânsito”.
“O uso do celular está enraizado, é uma situação que entrou na nossa vida, mas olha o risco que as pessoas estão passando, de estar no meio do trânsito, manuseando, ligando, digitando e o veículo em andamento. É uma mistura muito perigosa”, acrescentou o secretário.
No ranking das situações que mais geraram multa em 2020, aparece ainda o ato de dirigir com som alto no carro. A infração também é considerada grave e rende multa de R$ 195,23 e cinco pontos na CNH.
Ficam fora dessa regra: buzinas, alarmes, sinalizadores, sirenes, veículos de publicidade com caixas de som e carros de competição e entretenimento em locais permitidos pelas autoridades competentes.
O secretário classificou o aumento de multas por dirigir com som alto como resultado do reforço das operações de fiscalizações nas praças da cidade, devido às determinações de isolamento social, para a prevenção ao novo coronavírus.
“Na Praça do Junqueira, em particular, realizamos diversas ações nos últimos meses, em atenção à revindicação dos moradores ali da região, e também devido à lei editada em janeiro, que proíbe o consumo de bebidas em ruas e praças”, justificou Campos.
Segundo o secretário, a pandemia e a consequente redução de tráfego no trânsito tatuiano, ocorrida por conta das determinações de isolamento social, também resultaram em queda de cerca de 3% no total de autuações aplicadas neste ano, em relação ao ano de 2019.
“A pandemia tem fator de influência para praticamente todas as estatísticas, e com o trânsito não é diferente. Houve diminuição no fluxo de pessoas nas ruas, então, reduziu os números de multa”, completou o secretário.
Campos apontou que o DMU “tem como objetivo conscientizar a população para seguir as leis de trânsito estabelecidas no CTB e reduzir cada vez mais o número de multas aplicadas e de acidentes de trânsito”.
“Nenhum policial militar, guarda municipal ou agente de trânsito vai multar alguém sem ter motivo. Até porque isso traria consequências e processos administrativos. A intenção é cumprir as normas determinadas pelo CTB e evitar acidentes, como já está ocorrendo”, disse o secretário.
De acordo com dados do Infosiga (Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito no Estado de São Paulo), as mortes no trânsito caíram 13,63% nos 12 meses, em comparação ao mesmo período de 2019, passando de 22 para 19 óbitos, enquanto os acidentes fatais baixaram de 21 para 18 (menos 14,28%).
O número é menor desde 2016, quando o município também havia registrado 19 mortes em 12 meses. Em 2018, 24 pessoas perderam a vida em acidentes de trânsito e, em 2017 – pior da série histórica –, 29 óbitos foram registrados em um ano.
Os índices do Infosiga também mostram redução de 11,21% nos acidentes não fatais entre janeiro e dezembro de 2020, com relação ao mesmo período de 2019, caindo de 838 para 744 ocorrências.
Os números do Infosiga são atualizados mensalmente pela Polícia Militar, Polícia Rodoviária Federal e Corpo de Bombeiros. As corporações somam informações do SioPM (Sistema de Informações Operacionais da PM), que reúne dados de acionamento de viaturas para atendimento.