João Carlos Martins prevê que em dois anos CDMCC será ‘referência nacional’

Assinatura do convênio que permitiu parceria entre o Conservatório e o projeto ‘Orquestrando o Brasil’ (foto: Diléa Silva)

Daqui a aproximadamente dois anos, o Conservatório de Tatuí será a grande referência no ensino de música clássica no Brasil. A afirmação é do maestro João Carlos Martins, coordenador do projeto “Orquestrando o Brasil”.

A previsão do músico foi levada a público minutos antes da solenidade de assinatura do convênio entre o Conservatório e o projeto do maestro, que aconteceu em solenidade na manhã de quarta-feira, 22, no auditório do Salão “Villa-Lobos”, oficializando parceria entre as instituições.

Assim que chegou ao saguão do teatro, antes da solenidade, Martins ressaltou que estava voltando para Tatuí com a missão de promover a instituição de ensino e acrescentou: “O Conservatório já teve altos e baixos, mas garanto, que daqui a dois anos, ele será uma grande referência para o Brasil inteiro”, garantiu o maestro.

O termo de cooperação mútua foi assinado por João Carlos Martins, José Roberto Walker, diretor executivo do “Orquestrando o Brasil”, e por Ary Araújo Junior, diretor executivo da Abaçai Cultura e Arte – OSC (Organização Social de Cultura), que administra o Conservatório.

A oficialização da parceria foi acompanhada pela prefeita Maria José Vieira de Camargo e pelo ex-prefeito Luiz Gonzaga Vieira de Camargo, entre outras autoridades locais e empresários parceiros da instituição.

A solenidade teve início no saguão do teatro “Procópio Ferreira”, com recepção musical da Orquestra de Cordas Infantil do Conservatório de Tatuí, sob regência da professora Ana Lúcia Muzel.

Depois, os convidados seguiram ao auditório “Villa-Lobos”, no qual foram recebidos pelo Grupo de Cordas da Orquestra Sinfônica do Conservatório de Tatuí, que tem regência do maestro Edson Beltrami.

Durante o evento, as duas orquestras foram regidas pelo maestro João Carlos Martins. No saguão, ele pediu licença à professora Ana Lúcia e comandou as crianças. Já no “Villa-Lobos”, Beltrami convidou o maestro a reger o naipe de cordas da Sinfônica.

Idealizado por Martins e realizado em parceria com a Fundação Banco do Brasil e a Fiesp, o projeto “Orquestrando” é uma plataforma digital que oferece ferramenta para a troca de conhecimento visando disseminar conteúdos e promover capacitação para regentes e músicos.

Conforme anunciado, a convênio envolve diversas ações, como o fornecimento de conteúdo pedagógico e artístico do Conservatório e divulgação da agenda cultural da escola, por meio do portal do “Orquestrando o Brasil”.

Maestro João Carlos Martins diz que Conservatório será referência (foto: Diléa Silva)

Também haverá realização conjunta de master classes, seminários, concertos e outras atividades compartilhadas, além do intercâmbio de solistas e outros convidados, entre as orquestras integrantes do projeto e os grupos artísticos e pedagógicos mantidos pelo Conservatório.

Atualmente, com cerca de 2.000 alunos, o Conservatório disponibiliza, gratuitamente, aulas de música clássica, luteria, regência, MPB/jazz, choro, música raiz, artes cênicas e educação musical.

Além do ensino de alta qualidade, mantém 30 grupos pedagógicos e artísticos, como orquestras, bandas, big bands, companhia de teatro e, ainda, dezenas de grupos de música de câmara, com as mais variadas formações.

De acordo com Beltrami, regente da Orquestra Sinfônica do Conservatório de Tatuí, com a parceria, as aulas, a programação e o conteúdo didático do CDMCC irão funcionar como modelo para as orquestras que fazem parte do “Orquestrando o Brasil”.

“Quando o projeto precisar mostrar um modelo de funcionamento de uma escola, de uma orquestra, de uma banda, é o Conservatório que vai funcionar como este modelo. Isso é extremamente interessante para a gente, e vem ao encontro do nosso pensamento, que é levar a música não só para um tipo de público, mas para qualquer brasileiro”, ressaltou.

Abrindo a cerimônia, Beltrami ressaltou que o convênio representa uma boa oportunidade para as duas instituições. “Ninguém funciona sozinho, a parceria, hoje, é a grande solução para todos nós, sejam equipamentos públicos ou privados”, argumentou.

“O ‘Orquestrando’ é um projeto que já é um sucesso. Então, nada mais próprio do que a gente juntar estas duas instituições. Imagine o que pode vir aí?”, argumentou.

Durante sua fala, Beltrami ainda contou que trabalhara com o maestro Martins. Ele disse ter participado do início do projeto, que nasceu em São Paulo, e ressaltou o trabalho do parceiro de música na área cultural.

“Ele (o maestro) me ensinou a ser o artista do século 21, isto é, poder utilizar todos os recursos que nós temos nos tempos modernos, em prol da arte, em prol da cultura, em prol da possibilidade da realização da nossa cultura”, destacou.

Segundo a falar, o diretor executivo do Conservatório salientou que a parceria ainda deve fazer com que a escola volte a ter um reconhecimento nacional dentro da música.

“Essa parceria vai fazer o Conservatório voltar àquilo que ele sempre foi: uma casa de excelência, acima de tudo, uma casa de formação e reconhecida por esse papel”, reforçou.
Por fim, Araújo agradeceu a parceria das empresas, instituições e secretarias municipais e contou que a proposta de parceria aconteceu há cerca de dois meses, quando o maestro Martins o convidou para uma conversa sobre o projeto.

Orquestra de Cordas Infantil do Conservatório de Tatuí é regida pelo maestro Martins (foto: Diléa Silva)

A O Progresso, Araújo Júnior falou da importância da parceria para a escola de música e ressaltou que o projeto é uma forma de fazer com que a instituição tatuiana saia do intramuros.

“A ideia é que nós disponibilizemos todo material pedagógico e a excelência do nosso ensino para as mais de 200 orquestras que fazem parte do projeto. Isso é Tatuí mostrando a cara em todos os rincões deste país”, enfatizou o diretor executivo.

A opinião também foi reforçada pela prefeita. “Para nós tatuianos, é uma alegria muito grande receber o maestro João Carlos Martins, e, com certeza, o ‘Orquestrando o Brasil’ será um projeto que vai fortalecer a Capital da Música, por meio do nosso Conservatório”, declarou ela a O Progresso.

Encerrando os discursos, Martins enfatizou que vincular o projeto “Orquestrando o Brasil” à instituição de ensino local vai possibilitar o acesso de milhares de músicos ao conteúdo disponibilizado aos alunos do Conservatório.

“Chegou a hora de o nosso projeto, que é virtual, fisicamente poder dar um passo adiante. E, para isso, nada melhor que uma parceria com o Conservatório, uma das mais sérias e bem-sucedidas ações no setor cultural do país”, frisou.

Martins não deixou de citar que conhecera Beltrami em São Paulo, justamente na época em recebeu a notícia definitiva de que nunca mais poderia tocar piano.

A somatória de eventos que incluem uma doença degenerativa levou o então pianista de renome internacional a diversas cirurgias e a não conseguir mais tocar seu instrumento principal. Ele buscou outros caminhos para permanecer na música e o renascimento artístico se deu pelo trabalho como regente.

“Em 2003, tive a notícia de que nunca mais poderia tocar piano profissionalmente, e falei que não tinha mais tempo para estudar regência. Mas só sei fazer música, então, reuni 18 músicos em casa, comecei uma orquestra e, em seguida, tive a oportunidade de conhecer Beltrami”, relembrou.

“Quando o vi tocar, percebi que estava na frente de um músico fora de série e imediatamente convidei ele para ser meu regente associado na Bachiana Filarmônica do Sesi-SP, hoje a principal orquestra da iniciativa privada na América Latina”, mencionou.

A principal inspiração para desenvolver esse projeto social é o compositor Heitor Villa-Lobos. Finalizando, o maestro ressaltou: “Villa-Lobos queria fechar o Brasil em forma de coração, através da música, mas ele não tinha nem internet, nem teve a exposição da mídia. Então, revolvi levantar essa bandeira e continuar com essa missão”, completou.

Atualmente, o “Orquestrando o Brasil” conta com 250 orquestras e bandas participantes, um universo que representa mais de 9.000 músicos em 150 municípios espalhados pelos estados de Alagoas, Ceará, Distrito Federal, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rondônia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo e Tocantins.

Conforme o maestro, a meta é que esse projeto chegue a mil orquestras por todo o Brasil, com sessões à distância e presencial de aulas supervisionadas, e Tatuí faz parte deste planejamento.

“O ‘Orquestrando o Brasil’ se une ao Conservatório de Tatuí para que o aluno que está tomando uma aula aqui também possa estar tomando uma aula com a excelência da instituição em Campo Grande, Rondônia, Amapá, Rio Grande do Sul, e outros estados”, ressaltou.

A O Progresso, o maestro revelou que, primeiro, quis “deixar o bolo crescer” para, depois, buscar uma parceria que pudesse ser sólida e ainda revelou que, de certa forma, sente-se ligado ao Conservatório de Tatuí.

“Quase me sinto um tio da escola. Há 52 anos, pedi para o governador investir aqui porque eu sabia que o Conservatório seria importante. A instituição passou por altos e baixos, teve grandes diretores, outros não tão bons, mas, hoje, está no caminho certo. E agora chegou a hora de nos unirmos”, comentou.

“Eu fiz uma proposta de vida para o meu pai antes de ele morrer, que eu ia tentar deixar um legado. O ‘Orquestrando o Brasil’ é o projeto que logo vai atrair a atenção de toda a comunidade internacional e que vai revolucionar a divulgação da música clássica, com toda certeza. Eu acredito que música se faz com ideais, e é nessa linha que estamos seguindo”, concluiu.