Fiesp inscreve para fórum sobre deficiência





David Bonis

Secretário Ronaldo Mota visitou Piracicaba para entender modelo de inclusão local

 

Com pouco mais de 107 mil habitantes, Tatuí tem 22,7 mil moradores que possuem alguma deficiência, segundo censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Desse total, 17,7 mil são deficientes visuais.

Esses – e outros – dados têm preocupado especialistas do município quanto à inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Segundo eles, o cenário atual é “insatisfatório”.

Por conta disso, a cidade abrigará o fórum “Sou Capaz – Promovendo a Inclusão Profissional”, que acontece na próxima quinta-feira, dia 9, das 8h30 às 12h40, na Câmara Municipal, na avenida Cônego João Clímaco de Camargo, 226.

O evento é realizado pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) em parceria com a Prefeitura de Tatuí. As inscrições estão abertas e podem ser feitas por meio do site da Fiesp: www.fiesp.com.br.

Para isso, o interessado deve clicar no meu “Agenda”, procurar pelo evento que acontece em Tatuí e, em seguida, clicar no botão “Inscreva-se” localizado no final da página. O “link” remete a um formulário que pede dados pessoais dos participantes e das empresas as quais eles representarão no dia do evento.

O fórum tem sido aguardado por especialistas da cidade ligados ao tema da inclusão de pessoas com deficiência. Uma delas é a presidente da Apodet (Associação dos Portadores de Deficiência de Tatuí), Solange Sales Abude.

A importância do evento se dá, também, porque “muito poucos” deficientes de Tatuí trabalham nas empresas da região, segundo Solange.

A Prefeitura prepara levantamento para detalhar quantos deficientes tatuianos estão empregados nas empresas da cidade. Porém, o estudo ainda não está pronto.

Mas para se ter ideia do cenário, nos últimos cinco anos, a Apodet, voltada à encaminhar deficientes ao mercado de trabalho, conseguiu apenas 50 colocações.

A avaliação é de que esse é um número “baixo” devido ao contingente de deficientes na cidade, associado ao fato de que as empresas são obrigadas pela lei de cotas (8.213/1991) a terem um percentual de pessoas com deficiências dentro do plantel.

Há diversas respostas para entender por qual motivo há dificuldade na colocação de pessoas com deficiência no mercado de trabalho formal. Segundo Solange, esses problemas não afetam só Tatuí, mas todo o Brasil.

“O despreparo é total. Temos uma lei moderna, mas o cidadão que quer cumprir a regra não consegue”, avalia. Para ela, a falta de qualificação profissional dos deficientes é o maior problema. “As políticas de gestão pública não têm cursos profissionalizantes para deficientes, mas deveriam”.

Há mais problemas, segundo a presidente da Apodet, como a falta de preparo dos profissionais que educam os deficientes durante o processo de formação; a escassez de pessoal de recursos humanos especializado em captação de deficientes; o receio de algumas empresas em relação ao custo da adaptação da estrutura interna para receber o deficiente; e a falta de conhecimento geral sobre o tema.

Para ela e para o secretário municipal da Indústria, Desenvolvimento Econômico e Social, Ronaldo José da Mota, a Loas (Lei Orgânica de Assistência Social) também tem sido um entrave. Trata-se de benefício do governo federal aos deficientes, que recebem auxílio financeiro para arcarem com custos diversos.

“Muitas pessoas que recebem esse auxílio têm medo de perder (o benefício). Antigamente, ela começava a trabalhar e perdia. Mas, hoje, não. Ela tem uma interrupção, mas volta a receber quando fica desempregado de novo. Mas, as pessoas, muitas vezes, não sabem disso”, pondera o secretário.

Como mudar esse cenário em Tatuí é o que fórum deve discutir, para deixar um legado ao município. Por isso, Solange acredita que o evento pode ser positivo.

“Faltam políticas de governo. Tem que fazer parcerias. Por que não o governo, ao invés de obrigar a empresa a cumprir a cota com o cidadão ali trabalhando, ela não cumpre a cota ajudando aquele deficiente a estudar?”

“Um convênio entre empresários e governo para cumprir a lei de cotas, mas ajudar a capacitar essas pessoas. Isso tem que ser discutido no fórum”, diz Solange, que foi convidada a participar do evento. Ela defende união de esforços entre governo, setor privado, organizações não governamentais e sociedade civil para solucionar o problema.

A união de forças entre governo e empresários é o objetivo do fórum “Sou Capaz”, de acordo com o secretário Mota. No entanto, ele pondera em relação às dificuldades. Segundo ele, empresas da cidade foram convidadas a participar do evento, mas algumas recusaram, com receio de expor que não estão cumprindo a lei de cotas.

De acordo com Mota, após o fórum “Sou Capaz”, a segunda etapa do processo será a realização de curso voltado a profissionais de recursos humanos, para treiná-los a como selecionar deficientes para o mercado e ensiná-los também sobre o funcionamento das leis brasileiras quanto as pessoas com deficiência. A estimativa previa dos organizadores é de que essa fase aconteça na segunda metade de outubro.

Já na terceira etapa, a promessa é apresentar o programa “Meu Mundo Melhor”. Trata-se de iniciativa da Fiesp, que será trazida para Tatuí, segundo o secretário.

O objetivo dessa última fase é fazer com que o deficiente estude no Centro de Qualificação Profissional Senai Tatuí, pago com recursos da empresa que quer contratá-lo para que, encerrado o processo de capacitação, o deficiente possa trabalhar.

Nesse período de formação, a pessoa terá salário enquanto estuda, e a empresa atenderá à lei de cotas ao mesmo tempo em que auxilia no desenvolvimento profissional do futuro funcionário.

A ideia de trazer o “Sou Capaz” para Tatuí partiu do secretário da Indústria, após visita ao mesmo evento em Sorocaba, no mês de abril. Já na quinta-feira, 18, ele esteve em Piracicaba, para entender como funciona o modelo local de inserção de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Piracicaba aplica o mesmo modelo de inclusão que Tatuí quer implantar, segundo Mota.

O evento será aberto ao público, que deve se cadastrar gratuitamente no site da Fiesp. Conforme o cronograma, o credenciamento dos inscritos acontecerá às 8h30, tendo a abertura sido programada para as 8h45. A cerimônia contará com a presença do prefeito José Manoel Correa Coelho, Manu, e com o diretor do Ciesp e Depar (Departamento de Ação Regional) da Fiesp de Sorocaba, Erly Domingues de Syllos.

Às 9h, haverá apresentação do “Programa Sou Capaz – Inclusão de Aprendizes e Pessoas com Deficiência”, a cargo de Cristiane Gouveia, seguido do primeiro dos quatro painéis programados, com tema apresentado pela gerente regional do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego), de Sorocaba, Valquíria Camargo Cordeiro. A partir das 9h30, ela abordará “Práticas do Ministério do Trabalho e Emprego para a Inclusão Profissional de Pessoas com Deficiência, Reabilitados e Aprendizes”.

O segundo painel ficará a cargo do gerente de qualidade de vida do Sesi (Serviço Social da Indústria), de São Paulo, Eduardo Arantes. Ele discorrerá sobre “Segurança e Saúde do Trabalhador e Reabilitação Profissional”, às 10h10.

Após uma parada para café, os participantes acompanharão o terceiro painel sobre “Boa Prática no Processo de Inclusão e Retenção dos Profissionais com Deficiência, Reabilitados e Aprendizes no Mercado de Trabalho”. O assunto será apresentado a partir das 11h10, por Sergio Ricardo Gonçalves Rocha.

O último painel terá participação de Helvecio Siqueira de Oliveira, Silvana Cristina Ribeiro Moreira Farrapo, Claudinei Toledo de Camargo e Marcio Fernandes Oliveira. A temática é “Elevação de Escolaridade e Qualificação Profissional, Investimento que gera Produtividade e Competitividade para sua Empresa”.

Já os debates serão iniciados às 12h20, contando com 20 minutos de duração.