Danos de chuva ultrapassam R$ 2 milhões

 

Quase 120 litros de água para cada metro cúbico. Foi esse o volume de chuva que causou em Tatuí estragos em diversos bairros, desde clubes, repartições públicas e moradias, na noite de sexta-feira, 3.

O prejuízo causado pelo temporal deve ultrapassar os R$ 2 milhões, de acordo com a Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura. O relatório é elaborado por equipe própria, em parceria com o secretário-adjunto da Comdec (Conselho Municipal da Defesa Civil), João Alves Batista Floriano.

A chuva pegou os moradores da cidade de surpresa. A inundação na vila Dr. Laurindo ocorreu rapidamente e encheu o salão do Clube Renascer da Terceira Idade. Também ficaram alagadas sedes de repartições como o Bolsa Família, departamento da frota e sala dos conselhos.

Moradores tiveram a casa invadida por água nas imediações. A força da enxurrada levou consigo automóveis, vans e parte do asfalto da avenida Senador Laurindo Dias Minhoto. Também foram afetados os bairros Vale da Lua e Jardim Thomaz Guedes, cujas residências foram inundadas.

O índice de chuva em três horas de temporal foi de 116 milímetros, de acordo com o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais).

O número aproximou-se à média mensal registrada nos últimos 25 anos, conforme histórico disponibilizado pelo Ciiagro (Centro Integrado de Informações Agrometeorológicas).

Os estragos do temporal mobilizaram equipes das secretarias municipais de Obras e Infraestrutura e Trabalho e Desenvolvimento Social. Voluntários ajudaram na limpeza do Clube da Terceira Idade, um dos locais mais prejudicados pela enxurrada.

A região do ribeirão Manduca voltou a ser afetada pela passagem da água. A ponte interditada no Jardim Paulista voltou a ter deslizamentos. O desmoronamento já havia causado o deslocamento da estrutura de sustentação do dispositivo.

A ponte de madeira construída ao lado também apontou pequenos desmoronamentos, porém, não teve a integridade afetada pela passagem da água.

A secretaria começou a receber chamados da população após o temporal. Conforme Marco Luis Rezende, a chuva torrencial atingiu a cidade por volta das 19h e afetou mais fortemente a vila Dr. Laurindo, entre o Clube da Terceira Idade e a praça Ayrton Senna da Silva, e a região do Vale da Lua, incluindo o Jardim Thomaz Guedes, perto do “cemitério novo” (São João Batista).

“Nos dois pontos, registramos mais alagamentos que qualquer outro problema mais grave. Eu, pessoalmente, fui até os locais para socorrer algumas das vítimas”, relatou.

O secretário disse ter ficado na região do clube prestando atendimento a moradores enquanto o Corpo de Bombeiros garantia socorro para o restante das ocorrências. Na vila Dr. Laurindo, pelo menos quatro famílias tiveram dados provocados pela chuva. Os imóveis sofreram com alagamento.

“Uma Chevrolet Montana ficou submersa e a chuva atingiu metade de uma van que estava estacionada na frente do clube. No Vale da Lua, houve alagamentos nas casas mais próximas ao rio Tatuí”, informou.

Em outros pontos do município, a secretaria contabilizou desmoronamentos de barrancos à margem do ribeirão do Manduca. Houve deslizamento em pelo menos dois pontos: um na ponte do Jardim Paulista e outro na proximidade do Jardim Junqueira, no trecho em que havia um acesso.

“Apesar de não termos registrado muitos pontos de risco, a chuva provocou estragos bem grandes. Tivemos 116 milímetros no período. Então, foi uma tromba d’água”, avaliou.

O volume de chuva provocou estragos em diversos pontos da cidade. Em especial, no asfalto, que cedeu ou teve parte da capa arrancada.

Rezende informou que, até ontem (terça-feira, 7), a secretaria estava realizando ações emergenciais. Em um primeiro momento, funcionários da pasta realizaram limpeza das vias públicas, desobstruções de bocas de lobos e remoções de entulhos, lixos e restos do asfalto que se desprenderam.

A Prefeitura deve realizar, inicialmente, a recuperação de áreas consideradas “mais emergenciais”. Entre elas, a reconstrução do muro que cerca os prédios da Assistência Social e da frota municipal, na vila Dr. Laurindo.

O trabalho exigiu a suspensão do cronograma original programado pela pasta para a recuperação da malha asfáltica, com a realização da operação tapa-buracos.

A Prefeitura estimava tampar mais de 500 buracos na primeira etapa. Entretanto, por conta da chuva e para providenciar reparos emergenciais, precisou interromper o curso dos trabalhos, de modo a minimizar os transtornos.

“Alterou todo o nosso cronograma. Vamos ter de repensar a viabilidade de todas as nossas ações, refazer a programação para podermos resolver as questões o mais rápido possível”, informou Rezende.

Conforme ele, a secretaria também deve esperar o fim do período de chuvas para retornar com a operação tapa-buracos. Até lá, a pasta manterá uma equipe de 25 pessoas para as ações de limpeza e restauração emergenciais. A força-tarefa deve continuar ao longo desta semana.

Uma vez finalizado o balanço com o saldo dos estragos, Rezende disse que a Prefeitura concentrará esforços em levantar recursos necessários para as obras.

O secretário lembrou que a cidade já atua em “estado de emergência”, o que poderia acelerar os trâmites para a realização de convênios emergenciais.

A meta é conseguir fundos para as obras das pontes ao longo do Manduca (reconstrução dos acessos do Jardim Paulista, Jardim Junqueira e do bairro do Marapé) e a recuperação da galeria pluvial que corta a praça Ayrton Senna da Silva. A tubulação que capta água da chuva estourou devido ao grande volume.

“A tampa subiu e trouxe com a água tudo o que estava aterrado para cima. Lá, na praça, vamos ter de fazer um serviço de engenharia que demanda abertura de toda a rua, com interdição e recursos que estamos buscando”, antecipou.

Segundo o coordenador do programa Bolsa Família em Tatuí, Cláudio Bertolacini Batista, o alagamento causou a perda de materiais de escritório e divulgação. O prejuízo é estimado em mais de R$ 500, somente em material publicitário.

“Tudo que estava em altura baixa nós perdemos: papelada de escritório, divulgação, envelopes e alguns documentos sem importância. O que deu trabalho mesmo foi a sujeira, as salas ficaram todas embarreadas depois que a água baixou”, descreveu o coordenador.

Como os computadores usados pela equipe do programa Bolsa Família têm unidades de processamento integradas às telas, não foram afetados pela água, assim como as cadeiras. Mesas e armários em MDF (fibra de média densidade) ficaram estufados devido à umidade, porém, sem dano maior.

“A água atingiu 30 cm de altura e não tivemos danos graves. Por sorte, entrou menos água do que naquele temporal de quatro anos atrás, quando perdemos tudo”, lembrou.

O trabalho de limpeza da sede local do programa federal teve início ainda na sexta-feira. Assistentes sociais que trabalham no Bolsa Família realizaram a remoção do barro até às 23h30.

A equipe continuou o trabalho de recuperação no sábado, 4, e na segunda-feira, 6. O Bolsa Família voltou a atender ao público na terça-feira, 7.

A sala dos conselhos também foi afetada, porém, sem grandes danos. A exemplo do ocorrido na sede do Bolsa Família, materiais de escritório foram os principais itens prejudicados. Cadeiras estofadas ficaram encharcadas com água da chuva e passaram por limpeza na segunda-feira. A lâmina d’água atingiu 40 centímetros no local.

“Não afetou os trabalhos aqui porque não tínhamos reunião marcada hoje (segunda-feira), somente de terça-feira em diante. Lavamos bem o local, pois o piso ficou encardido”, afirmou o secretário executivo dos conselhos municipais, Gustavo Lencione Marques.

A forte chuva causou o cancelamento de um baile que seria realizado no Clube Renascer da Terceira Idade, ao lado da Assistência Social.

De acordo com a diretora social do clube, Maria José Moraes Ortega, em poucos minutos, a água invadiu o salão e levou mesas e cadeiras que estavam montados para o evento.

Por pouco, as caixas de som da banda Ferro Velho, que se apresentaria no local, não foram danificadas pela água. O clube ainda calcularia o prejuízo causado pelo temporal, que afetou um freezer, uma geladeira e um microcomputador. A força da correnteza arrancou uma porta de madeira e vidro que dá acesso ao salão de baile.

“O baile seria às 21h. Quando cheguei, às 20h30, a água já tinha baixado. Eu me assustei com a quantidade de pedras do asfalto que estavam na nossa porta. O salão estava enlameado”, contou.

O porão, que fica sob o palco, ficou inundado. A diretora afirmou ainda não saber que tipos de equipamentos estavam guardados. A limpeza do local teve início logo após o temporal. Funcionários que trabalhariam na festa encarregaram-se de tirar o barro do salão.

“Ficamos até à 1h30. Lavamos todas as cadeiras e mesas que ficaram boiando na água, a cozinha ficou toda suja e limpamos. A área da bocha também ficou enlameada, e vamos recuperá-la”, disse Mazé.

A banda que se apresentaria na sexta-feira praticamente perdeu uma van. O veículo estava estacionado em frente ao clube e foi levado pela correnteza. O furgão acabou arrastado por metros e ficou quase totalmente submerso.

De acordo com o proprietário da van e vocalista da banda Ferro Velho, Rogério Domingues, o veículo já foi levado para a região de Campinas. Sem condições de rodar, a van precisou ser transportada em um caminhão. Na segunda-feira, o furgão estava em uma oficina mecânica.

“Foi uma perda grande que tivemos. Teremos que recuperar os estofados, o motor e a parte elétrica. Somente o módulo da injeção eletrônica, que não sabemos se está funcionando, custa R$ 8.000”, relatou Domingues.