Caixas com tamanhos variados são foco de mostra que instiga a pensar





Divulgação

Raquel Prestes abre primeira exposição ilustrativa no mês que vem

 

Conhecida pelo trabalho com o público infantil, a professora Raquel Prestes tem se mostrado “multiplataforma”. Dos livros que a consagraram, ela pulou para outro suporte: as caixas. São elas, em formatos e tamanhos variados, o ponto de partida de outro trabalho da educadora, denominado “Caixas, Caras e Caretas”.

“Ele surgiu de uma ideia de eu olhar uma caixa e não ver apenas uma caixa”, iniciou. Se valendo de traços infantis, a educadora decidiu explorar novos caminhos por meio do desenho, tendo como ponto de partida a fisionomia de pessoas.

“Escolhi o desenho de rostos. Poderiam ser desenhos geométricos, mas eu fiz um estudo e resolvi utilizar as expressões por causa das possibilidades”, comentou.

A ideia é que o projeto de ilustração possa, futuramente, virar suporte para outros tipos de trabalho. Um deles se concretizará no mês que vem, quando Raquel abrirá exposição própria – a primeira – no Museu Histórico “Paulo Setúbal”.

Os desenhos foram produzidos durante 40 dias, de modo a respeitar as proporcionalidades das caixas. “É um trabalho baseado em reciclados”, disse a professora.

Rostos ilustram caixas de fósforos, de cereais, sabonetes, sabão em pó e outras mais. Para conseguir ter uma variedade, Raquel recorreu aos amigos.

“As pessoas entraram na minha onda, quando viam uma caixa guardavam para mim, porque eu já tinha decorado uma, mostrado e pedido ajuda”, descreveu.

Daí para a “coleção” que deverá ser exposta no museu foi “um pulo”. Assim como as caixas, as ideias de figuras para ilustrá-las se multiplicaram. “Começaram a pipocar. Por esse motivo, passei um período desenhando fisionomias”.

O resultado são caixas com rostos masculinos e femininos e características bem plurais. “Tem figuras com cabelos ruivo, preto, loiro, castanho. De pele clara, escura, afrodescendente. Tudo isso entrou como um ensaio de desenho”, disse.

As figuras trazem, principalmente, expressões que passeiam pela felicidade e tristeza. “São várias as expressões que podem ser vistas nos olhos, nos lábios. Então, para mim, foi muito divertido trabalhar com essa ideia”, relatou.

O artifício da tridimensionalidade é outro ponto alto do trabalho citado pela professora que quer se firmar, também, como ilustradora. Daí, o motivo de Raquel ter transposto – ou afixado – as figuras nas caixas e optar por variar em formato e tamanho.

“Com essa ideia, o trabalho passou de uma simples folha para o tridimensional, já que as caixas são suportes. Elas se sobressaem. Eu, particularmente, gostei do resultado. Gostei de transformar as caixas”, afirmou.

O trabalho incluiu a descaracterização das embalagens. De modo a fazer com que as marcas, rótulos e outras informações não interferissem nos traços, Raquel optou por virar as caixas ao avesso. “A propaganda do que é a origem da caixa ficou ‘do lado de dentro’. Eu tive esse cuidado”, descreveu.

Para manter “a integridade” das caixas, a educadora as fechou com cola e aplicou os desenhos feitos em papel canson e com uso de lápis de cor. Raquel também utilizou giz pastel para dar o tom de pele nos rostos das ilustrações.

“Está sendo tudo muito divertido. Já tenho mais de 36 peças para expor”, comentou. O trabalho é o primeiro ligado às artes plásticas que será transposto de livros.

Raquel assinou, anteriormente, ilustrações da primeira obra infantil chamada “O Menino Passou Por Aqui”. “Esse é o meu grande orgulho”, disse. O livro traz história criada pela pedagoga atrelada a figuras feitas com as mãos.

“Ser escritora e ilustradora está tudo junto, para mim. É algo que está em mim. Gosto muito do desenho e da história em si. Então, as caixas são um ensaio para que eu treine os meus desenhos, e estão sendo bem recebidas”, declarou.

A expressão artística presente nos trabalhos também está carregada de referências da profissão atual (Raquel é coordenadora do ensino infantil). O motivo é a proposta lúdica dos desenhos. “O professor que for à exposição vai enxergar várias possibilidades de trabalho em sala de aula”, argumentou a educadora.

Entre elas, a representação da família e a conscientização ambiental, uma vez que as caixas são recicladas. Já a tridimensionalidade (por conta do formato das embalagens) possibilita aos alunos entender que esse recurso não é exclusividade de esculturas. “Eu, por exemplo, trouxe o desenho para esse universo”.

Mesmo parecendo simples, Raquel disse que a ideia por trás do trabalho é complexa. Ele também é instigante porque apresentará ao público que comparecer ao museu a possibilidade de pensar sobre as reações dos rostos ilustrados.

“Quem for à exposição não vai só olhar as caixas. Elas estarão acompanhadas de textos que farão as pessoas pensarem”, disse. A reflexão será sobre “o estado emocional das caixas”, numa referência às expressões de sentimento.

“Existem caixas com pessoas dando risada. Mas eu questiono se elas estão dando risada de quem olha, junto com quem olha ou para quem olha. Para a criança ou para o adulto, isso instiga a pensamentos e reflexões”, disse a educadora.

Raquel propõe esse tipo de experiência para quem for ao “Paulo Setúbal” a partir do mês que vem. A mostra “Caixas, Caras e Caretas” tem abertura no dia 28 de abril, a partir das 20h30. Professores são convidados especiais da exposição.