Ministério mostra í­ndice negativo de emprego na cidade em 2014





David Bonis

Secretário de Indústria, Ronaldo da Mota, acredita que setor de transformação terá dificuldades até o final do ano

 

O ano de 2014 apresenta números negativos para Tatuí no que diz respeito à relação entre demitidos e contratados no mercado de trabalho. Entre contratações e demissões, o município registrou 225 cortes entre janeiro e agosto.

Isso significa que mais pessoas perderam o emprego nos oito primeiros meses do ano em comparação ao número de profissionais que conquistaram uma vaga com carteira assinada.

Os dados são do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), disponibilizados pelo MTE (Ministério do Trabalho e Emprego).

Os números apurados pelo MTE são publicados em tabela que divide a relação entre demitidos e contratados por área de atuação das empresas, como agropecuária, administração pública, serviços, comércio, construção civil, serviços industriais de utilidade pública, indústria de transformação e extração mineral.

Dessas áreas de atuação, seis registraram índices positivos na relação entre demitidos e contratados.

O setor de serviços industriais teve balanço de três novas vagas. Já o ramo de extração mineral registrou índice positivo de seis novos postos. Administração pública teve 11; serviços, 122; comércio, 208; e construção civil, 217.

Embora esses segmentos tenham fechado os oito primeiros meses do ano com índices positivos na relação entre demissões e contratações, são os setores que fecharam com balanço negativo que mais influenciam nos dados negativos que o município atingiu.

O setor de agropecuária fechou com balanço negativo de menos um posto de trabalho. Contudo, o “pior” setor está sendo o da indústria de transformação. O segmento puxou os números para baixo em Tatuí.

Entre janeiro e agosto, o saldo entre demitidos e contratados pelas empresas correspondentes a esse segmento foi de menos 791 postos de trabalho.

O pior índice foi registrado em junho. No sexto mês do ano, 220 pessoas foram contratadas pelas empresas do setor. No entanto, 593 perderam os empregos. O saldo ficou negativo em 373 postos de trabalho.

A realidade é que, em apenas um mês do ano, a relação entre contratações e demissões no setor da indústria de transformação local ficou positiva. Em abril, o saldo foi de 55 novos postos.

Nos demais meses, nesse segmento, o saldo ficou em: janeiro (- 8), fevereiro (- 1), março (- 90), maio (- 192), julho (- 58) e agosto (- 122)

Segundo explicou a O Progresso uma fonte ligada à administração da Rontan e da FBA (Fundição Brasileira de Alumínio), esse fenômeno negativo atingiu o segmento porque as empresas locais do ramo de transformação de matéria-prima estão ligadas, sobretudo, às grandes montadoras de automóveis, que passam por uma crise.

Como diminuiu a demanda dessas companhias de carros em todo o Brasil, o processo afetou também as empresas locais. Para se ter uma ideia, o número de emplacamentos de automóveis caiu 9,7% neste ano em comparação aos oito primeiros meses de 2013, segundo dados da Anfávea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores).

Para o segmento de transformação local, que vive uma crise, a expectativa para o futuro não é boa. A tendência é que o setor continue passando por dificuldades até, pelo menos, o final deste ano, de acordo com projeções do secretário de Indústria, Desenvolvimento Econômico e Social, Ronaldo José da Mota.

Segundo ele, com a diminuição da demanda por automóveis, as montadoras passarão a dar férias coletivas aos funcionários para não promoverem demissões em massa.

No entanto, a redução na produção afetará as empresas de Tatuí até o início de dezembro. A tendência é que o ritmo de produção seja retomado em janeiro, conforme Mota.

“Mas, pode acontecer de se estender até fevereiro porque a gente sabe que, no Brasil, tudo começa a partir do Carnaval”, ponderou.

Para evitar mais demissões e também não prejudicar o consumo local, Mota sugere às empresas da região que promovam a interrupção do contrato de trabalho, que é uma prática pouco usual na em Tatuí.

“A empresa faz o contrato de interrupção para que o trabalhador possa usar o seguro-desemprego, ao mesmo tempo em que faz um curso de requalificação. Ele (o trabalhador) pode ficar até quatro meses fazendo esse curso”, explicou o titular da pasta de Indústria.

“Na medida em que a empresa for retomando a produtividade normal, ela pode trazer esses mesmos funcionários de volta. Então, ela reduz o gasto com salário, porque o trabalhador vai usar o seguro-desemprego – e a empresa complementa com uma diferença -, e ela não tem gasto com rescisão de contrato, férias, multa. Assim, mantém esse funcionário”, recomenda Mota.

Segundo ele, o primeiro acordo do tipo feito na região ocorreu no final dos anos 90, na Yazaki. “Conseguimos, na época, que a empresa não demitisse cerca de 400 funcionários. E depois, quando ela retomou a demanda, ela pulou de quase 1.200 para 1.800 funcionários”.

De acordo com o secretário, a alternativa ajudará as empresas a retomar o ritmo de ganhos de forma mais rápida, pois o impacto nos cofres seria menor.

A proposta visa diminuir o impacto da crise no setor automotivo junto às empresas locais. Essa adversidade, no entanto, não deve afetar apenas os profissionais que perderam – ou ainda possam perder – os empregos.

Ela afetará também os trabalhadores que permanecem em seus postos, sobretudo as categorias que buscam reajustes salariais.

“Algumas categorias, como têm database em setembro e novembro, estão tendo dificuldade em negociar com as empresas por causa do número de demissões”, acrescentou o secretário, ligado ao movimento sindical.

“Com a situação do mercado hoje, em decadência, a tendência é que eles (os trabalhadores) tenham menos aumento real. A tendência é negativa com base no cenário”.

“Tem o reajuste da categoria, mas se, hoje, a empresa está em decadência, a tendência não é boa”, contextualiza o secretário, falando sobre o impacto da crise inclusive no movimento sindical.

Comércio

A esperança de elevação no panorama de empregos locais resume-se ao comércio, que poderia contratar visando a um provável aumento da demanda no final do ano.

Nos oito primeiros meses de 2014, o saldo foi positivo para o segmento. Entre demitidos e contratados, o setor registrou 208 novos postos de trabalho.

A título comparativo, o setor de comércio registrou, em outubro de 2013, 392 admissões e 363 demissões, o que resultou em saldo positivo de 29 novos postos de trabalho. No mês seguinte, o saldo foi positivo em 130 novos empregos. Já em dezembro, houve recuo de 33 postos.

Para o secretário, é possível que a crise na indústria de transformação impacte o comércio. Há possibilidade de não crescer o consumo no período de fim de ano em decorrência da crise local, afetando o número de contratações no setor de comércio.

No entanto, ele pondera que os três últimos meses do ano normalmente registram bons números no consumo e, consequentemente, na criação de novos postos de trabalho.

“Final de ano, a gente vê recordes e mais recordes. O comércio sempre consegue complementar as demissões feitas pela indústria por motivo de serem, às vezes, contratações temporárias, e a demanda aumentar”.

“Acredito que o comércio não será afetado até o final do ano. Mas, se a crise continuar até o final do ano, com as indústrias com problemas, a tendência será as pessoas gastarem menos e afetar, inclusive, o comércio”.