MEMÓRIA – Aos meus três amigos (Orlando, David Quevedo e Cassiano Menezes)





Bem, a vida no Interior nos traz, além de bons ares, boas comidas, melhor qualidade de vida, bons momentos ao lado da família e amigos, entre outras possibilidades. Mas, para mim, o que eu acho bom e importante na vida do Interior é uma característica que, hoje, apesar de tudo ser mais rápido, virtual e descartável, que é a amizade, que antes era mais pura, mais amiga, mais leal e honesta. Mas, vamos falar um pouco sobre isto.

Na semana que passou, fomos surpreendidos pelos falecimentos de três amigos, a quem dedico esta homenagem. O primeiro a falecer foi o Orlando de Oliveira e Silva, que, para mim, ficou conhecido como “Orlandão da Água Pura”. Isso porque foi um dos precursores na venda de água mineral em galão na cidade.

Também me lembrei dele, que, ao lado do Paulo José Fiúza (Paulo Cabra), montou nos anos 80, juntamente com o Rizek, o primeiro Trololó, que nasceu em uma sala da Associação Atlética XI de Agosto, onde fizemos muitos shows com o Voss e Grupo, “Noite do Chacrinha” e outros eventos.

O Orlandão tinha um jeito especial de ser, “vivia na dele”, com muita calma e de bem com a vida. Eu, muitas vezes, fui na casa de seus parentes e pais, e nós vivíamos lá, pois o seu tio Maco é um excelente violonista e companheiro de serenatas. Zé Emílio, Thiers, Dirceu Camargo, Norberto Conde, Dito Rolim e outros marcavam os ensaios lá.

Nos tempos da Thunder e da Sunrise Discoteque, sempre nos encontrávamos na noite para um bom bate-papo amigo e alegre. Sua família é formada por sete irmãos, sendo eles: Merci, Elza, Dolores, Catarina (com quem trabalhei no setor de Cultura do município, onde apresentei muitos eventos literários na Casa de Cultura “Paulo Setúbal”), Mércia, Orlando e Beto.

Em conversa com o Nando, irmão do Maco, tio do Orlandão e pai do Luiz Paulo, nosso vice-prefeito eleito, ele me contou que, em 1970, o Orlando foi para o México para assistir ao vivo a Copa do Mundo. E, lá, sofreu um gol no coração e voltou casado com a mexicana Alida, com quem teve três filhos, e que residem em Tatuí.

Mas, a vida lhe deu outro rumo. Ele foi para São Paulo e, por problemas de saúde, voltou para Tatuí, onde veio a falecer. Um grande amigo no tamanho e no caráter!

O meu segundo amigo veio a se tornar o meu vizinho “de parede e meia”, que foi o David Quevedo, pois eu o conhecia da família do seu sogro, senhor Vante Cortez, dona Lígia, Elidamaris, Claudinei, Zé Roque, Rosemary, sua esposa, e sempre falávamos pelas ruas da cidade sobre a política. E ele sempre preocupado com o destino de Tatuí.

Mas, nas voltas que o mundo dá, acabei indo morar na rua Professor Adauto Pereira, ao lado de sua casa, de onde vinham sempre sons de sax tocado por ele, e, ao piano, a esposa Rose. E sempre ouvíamos belos hinos religiosos da Igreja Congregação Cristã no Brasil.

Sempre otimista, alegre, paizão ao lado dos filhos Maysa, Marielly e Isaías e da esposa Rose. Ficou muito feliz quando nasceram seus netos Nathan e Pietro, e sempre mostrava com orgulho as fotos dos meninos.

Mas, nesta fase da vida, sentiu o prazer da liberdade sobre duas rodas e veio a se tornar motociclista, onde, ao lado de amigos, empreendia viagens interestaduais. E, com a brisa batendo no seu rosto, foi que Deus o recolheu e o levou para o seu convívio. Mas, apesar de sua pouca idade, sempre cultivou boas amizades, e agradeço a Deus pelo tempo que curtimos essa nossa vida de bons vizinhos. Sentimos muito sua partida rapidíssima.

E o meu terceiro amigo que foi descansar ao lado do Pai Celestial foi o Cassiano Ricardo Menezes da Silva, com quem tive uma longa, profunda e pura amizade. Isso porque, no auge da nossa juventude, acontecia no XI de Agosto, nos meses de janeiro a julho, o torneio de futebol chamado “Internão”. E o Cassiano Menezes, como era conhecido, era sempre o goleiro dos nossos times: Peste Negra e Peste nas Estrelas. E, como fazíamos shows teatrais, tínhamos a ajuda de muitos amigos e jogadores do porte de: Acassilzinho, eu, Mário Peixoto, Nivaldo, Keka, Fábio Del Fiol, Fernando Peixoto, Caconde, Paulo Wesley, Wilson Cinderella, os irmãos Jarbinhas e Joel Medonho, Paulo Cabra e, ainda, Soraia Rossi, como madrinha do time.

E dali para a música foi um passo, pois o Cassiano foi para São Paulo e conseguia muitos discos de vinil promocionais para divulgação de forma gratuita, ou seja, nos tornamos críticos musicais. E avaliávamos os discos e publicávamos nos jornais “Integração” e “O Progresso de Tatuí”.

Como eu tinha o programa “Salada Mista”, na Rádio Notícias de Tatuí, sentamos nós três: Cassiano, seu irmão Emílio e eu. E, após discutirmos os nomes para a coluna dos jornais, já que eram dois, batizamos uma de “Feijoada Completa” e “Musicando”.

Certa vez, fomos a São Paulo para assistirmos Gilberto Gil, Rita Lee e Made in Brazil, no teatro Bandeirantes, na rua Brigadeiro Luiz Antônio. Foram shows inesquecíveis.

Como ele curtia muito o cantor folk Bob Dylan, acabou emprestando o nome dele e assinava as matérias como Cassiano Dylan. Foram tantos discos avaliados que acabamos montando uma superdiscoteca com os discos ganhos.

Sempre tivemos um gosto musical muito eclético, indo de Fagner, passando por 14 Bis, uma banda mineira de quem ele gostava e se tornou amigo dos músicos. Também rock era conosco mesmo. E, muitas vezes, na rua Prudente de Moraes, nós ouvimos o Deep Purple, Grand Funk Rail Road e White Snake, e sua mãe, dona Leila, ia lá com a sua voz suave pedir para “abaixar um pouquinho”.

Mas, a vida é um grande corredor, com infinitas portas. Quando você passa por uma delas, ali termina uma fase da vida e se inicia outra rumo ao desconhecido. E, como diz o meu pai, professor Diógenes Vieira de Campos, nos seus 96 anos de idade: “A única certeza da vida é a morte”. Então, vamos viver cada segundo com muita intensidade, amor e respeito às pessoas.

O Cassiano sempre foi um pai muito presente e amigo dos filhos: Daniel, Natália, Danilo e Leilinha. E, ao lado da esposa e guerreira Sônia, sempre envolta com pedidos de orações e paz em todas as igrejas. E seus queridos pais, professora Leila (minha querida mestra e dona de um talento literário invejável), senhor Gilton, e ali os dois, ao lado dos filhos Bogê e Nina (minha colega de Colégio Objetivo de piracicaba no ano de 1971), vendo como que a vida escapando como água pelos vãos dos dedos, mas sempre acreditando em dias melhores!

E agora todos os três: Orlandão, David e Cassiano e seus familiares, combateram um duro e triste combate, e foram como humanos até aonde poderiam ir. E cada um com seu jeito de ser, na sua área de atuação na cidade, com seu gosto por isto ou aquilo, deram de si pelas famílias e pela nossa cidade, e merecem sempre, de todos nós, as orações, as lembranças e as eternas saudades. Que Deus os acompanhe e conforte a todos. Do sempre amigo, Voss.