‘Mandato compartilhado deu muito certo e vai continuar’, afirma Sallum

Eduardo Dade Sallum (PT) é o primeiro na cidade a seguir o modelo de gestão colaborativa (foto: Laio de Almeida)
Da reportagem

O jornal O Progresso inicia, neste domingo, 6, uma série de entrevistas com os vereadores eleitos e reeleitos para assumir o mandato de 2021 a 2024. O primeiro entrevistado é Eduardo Dade Sallum, 27, do PT (Partidos dos Trabalhadores), o candidato mais votado destas eleições em Tatuí, com 1.709 votos (3,17% dos válidos).

O vereador falou sobre a trajetória política dele, detalhes sobre trabalho realizado nos últimos quatro anos, o posicionamento que pretende assumir na próxima legislatura e perspectivas de projetos a serem apresentados.

Militante do Movimento Popular Práxis, sociólogo e cientista político, o atual vice-presidente da Câmara assumirá,em 1º de janeiro de 2021, o segundo mandato na Casa de Leis e, como forma de trabalho, disse que deve manter o modelo de mandato compartilhado.

A experiência, inédita no município em dividir a gestão com um grupo de mais de 150 pessoas,chamadas de “vereadores populares”,foi iniciada em 2016 pelo parlamentar. Na ocasião, com 23 anos, Sallum recebeu 682 votos (1,17% dos válidos).

O político informou ter iniciado a carreira política em 2010, quando fundou o Práxis – coletivo estudantil que discute política, filosofia e economia – e a promover protestos contra atos da gestão municipal e do governo estadual.

O primeiro foi contra o então governador Geraldo Alckmin (PSDB), que esteve na cidade para inaugurar uma maternidade, no qual o grupo cobrou a realização de promessas eleitorais. A ele se sucederam outros, como o que questionava a venda de um patrimônio público na cidade, além da participação nas manifestações nacionais de 2013.

Segundo Sallum, esse histórico fez o Movimento Popular Práxis concluir que “alguém deveria entrar na política”. “Nós fazíamos projetos como voluntários e, quando pedimos ao poder público o mínimo de estrutura, um giz ou uma lousa, a gente não tinha”, sustentou.

“Percebemos que a gente tinha que entrar para a política, para modificar essa realidade. Dado a isso, o grupo cresceu com artistas, professores, estudantes e, principalmente, com a juventude e integrantes de grêmios estudantis”, comentou.

Conforme o vereador, o modelo de gestão com participação da população se articulando em torno da candidatura dele como um representante “deu muito certo” e ajudou-o a quase triplicar o número de votos neste ano.

Ele apontou que o maior desafio, desde o primeiro pleito do qual participou, era ser eleito“sem ter uma família tradicional na política por trás ou uma empresa que bancasse custos de uma candidatura”.

Com isso, ele conta, ao invés de se contratar, por exemplo, 15 cabos eleitorais para que cada um “conseguisse” cem votos, buscou-se somar 150 participantes que “multiplicassem os votos por dez”.

“A ideia era mudar todo o sistema político. Então, dividimos o mandato com os eleitores e demos o poder de formulação e decisão dentro da Câmara. Quando apresentamos este modelo, muitos diziam que daria errado, mas deu certo”, declarou.

Atualmente, o Práxis, que acabou se transformando em um centro cultural no município, concentra laboratórios populares para discussões que resultam em sugestões de melhorias e projetos a serem apresentados nas sessões.

Além disso, o movimento abre espaço para pelo menos seis sindicatos que não têm sede própria e oferece cursos à população de baixa renda, incluindo pré-vestibular, idiomas e desenho, entre outras atividades.

“Com esse modelo, fiz 154 reuniões no mandato, com atas registradas em todas elas. Os encontros somaram a participação de aproximadamente 600 pessoas que me ajudaram nas reivindicações e projetos de leis apresentados na Casa”, acrescentou o vereador.

Nos quatro anos do atual mandato, o movimento popular apresentou, por meio do “vereador oficial”, mais de 3.000 matérias, entre requerimentos, indicações, emendas, substitutivos e projetos de lei.

“Sempre fui minoria na Câmara, a base do governo é PSDB, a oposição é bolsonarista, e eu sou do PT. Não estou nem de um lado nem de outro, mas, por vezes, me senti maioria na Câmara, porque eu tinha este apoio do movimento”, relatou Sallum.

A casa utilizada pelo grupo, situada na rua Prudente de Moraes, 684, é paga com a destinação de mais de 50% do salário do vereador. O vencimento líquido em setembro foi de R$ 5.799,76, segundo a Câmara.

“Não fiz nenhuma promessa de campanha, mas me comprometi com o movimento que me elegeu, deixando mais da metade do meu salário para subsidiar a Casa Práxis e oferecer projetos sociais”, ressaltou o vereador.

É na Casa Práxis que o mandato popular é desenvolvido e as ações de voluntariado são criadas. Sallum destacou que o cursinho pré-vestibular gratuito aprovou 55 alunos de baixa renda em universidades estaduais e federais nos dois últimos anos, inclusive em medicina.

O movimento ainda oferece uma escola de música para alunos carentes e atendimento psicológico gratuito, além de contar com um coletivo feminista, o Rosas da Revolução, e um evangélico de esquerda, chamado A Verdade Liberta.

“Para nós, estes projetos são uma forma de construir políticas públicas. O que eu faço é dar a oportunidade estrutural e os movimentos sociais operam políticas sociais que, inclusive, se tornam portfólio e são apresentados para o Poder Executivo. A lógica é essa”, acentuou o parlamentar.

O trabalho desenvolvido pelo movimento popular atraiu políticos como o ex-ministro Carlos Gabas (Previdência), ex e atuais deputados e o vereador paulistano Eduardo Suplicy (PT), figura constante no espaço.

Além disso, Sallum apontou que o exemplo de mandato compartilhado e da Casa Práxis de Tatuí foi um dos módulos de um curso que o diretório nacional do Partido dos Trabalhadores deu neste ano.

Para a próxima gestão, além de continuar com os trabalhos da Casa da Práxis e manter o modelo de mandato compartilhado, Sallum antecipou que lançará o projeto “PAS” (Promoção de Assistência Social).

Segundo o vereador, a ideia é desenvolver o projeto em três modelos: busca ativa para a inclusão de famílias carentes nos programas sociais já oferecidos pelo governo; informar a população sobre direitos trabalhistas e previdenciários; e incentivar novos modelos de atividades econômicas para a geração de emprego.

“O projeto PAS vai defender esses três passos, envolvendo os movimentos sociais e os sindicatos para cobrar o poder público. Vamos fiscalizar a prefeitura e pressionar para que se construam agendas neste sentindo”, concluiu Sallum.